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Análise: Inflação, conjuntura e perspectivas

Resultado para 2020 e 2021 dependerá da evolução dos preços dos alimentos e dos serviços

30 out 2020 - 04h10
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Nos últimos dois meses houve uma piora significativa nas projeções de inflação medida pelo IPCA, para 2020. Isto tem sido atribuído ao comportamento do preço relativo dos alimentos, principalmente, os semielaborados. Esse grupo inclui, além de produtos hortifrutigranjeiros, cuja evolução de preços depende basicamente da evolução da produção nacional, os produtos de origem animal, os cereais, os açúcares, cuja formação de preços no atacado, corresponde a preços do mercado internacional, convertidos em preços em reais, pela aplicação da taxa de câmbio.

Esses produtos chegam ao consumidor com a incorporação de serviços de diferentes ordens, como os serviços de processamento, transporte e comercialização que atenuam os efeitos de choques cambiais. Mesmo assim, devido à desvalorização cambial de cerca de 35% desde o início do ano, era de se esperar um impacto expressivo nas taxas de variação de preços de alimentos semielaborados, com impacto sobre a taxa de inflação e sobre sua dispersão entre itens.

Com relação ao fechamento do ano, as projeções divulgadas no Boletim Focus indicam que deverá ocorrer um recuo da inflação, em 12 meses, no fim do ano, relativamente a outubro. Isso é explicado pelo fato do choque de preços de alimentos, notadamente carnes, ter afetado os índices de preços em novembro e, principalmente, dezembro do ano passado.

No mesmo sentido, constata-se que apesar da inércia inflacionária, a projeção para o ano de 2021, praticamente não se alterou. Uma das características de choques de preços de alimentos, após o plano real, é de se reverter no ano seguinte, na forma de redução da taxa de crescimento, em um primeiro momento, e mesmo de queda de preço nominal em momento posterior.

A melhora na perspectiva de preços de alimentos, no entanto, deve ser compensada pela maior pressão nos preços de serviços, que ficaram contidos e até caíram durante a pandemia. Em síntese, o resultado fechado para 2020 e para 2021 dependerá, principalmente, da evolução do choque de preços relativos dos alimentos e dos efeitos da retomada da economia sobre os preços dos serviços.

*PROFESSOR SÊNIOR DA FEA/USP

Estadão
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