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Acordo de livre-comércio com Brasil entraria em longa fila no governo americano

Eventual anúncio ocorreria em encontro entre Bolsonaro e Trump, em março; segundo autoridades envolvidas nesse tipo de negociação, acordo levará anos para ser celebrado

20 fev 2019 - 21h13
(atualizado às 21h37)
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WASHINGTON - Cogitada pelo governo brasileiro como uma das opções a serem anunciada na visita do presidente Jair Bolsonaro ao americano Donald Trump, a intenção de um acordo de livre-comércio entre os dois países entraria no fim de uma longa fila de trabalhos do USTR, o Escritório de Representante de Comércio americano. Bolsonaro deve se encontrar com Trump na semana do dia 18 de março, em Washington.

Uma das possibilidades estudadas pela equipe brasileira é de que os dois presidentes anunciem a intenção de iniciar uma negociação de acordo de livre-comércio. Na prática, o eventual anúncio oficializará a intenção em iniciar conversas para um acordo que, segundo autoridades envolvidas nesse tipo de negociação em Washington, levará anos para ser celebrado.

Antes do Brasil, os americanos trabalham com uma lista de prioridades no departamento comercial que começa pela finalização do acordo com México e Canadá, o USMCA, chamado de novo Nafta. Os integrantes do USTR têm ainda entre as prioridades a negociação de um acordo com a China, país com o qual Trump travou uma guerra comercial no ano passado e quer forçar mudanças estruturais.

Além disso, em outubro do ano passado, Trump comunicou o Congresso americano da intenção de fazer acordos comerciais com União Europeia, Japão e Reino Unido. Pelo sistema americano, as negociações só podem começar 90 dias depois que o presidente comunica o Congresso da intenção de abrir o diálogo comercial.

No caso do acordo com o México e com o Canadá, mesmo já havendo um arcabouço inicialmente estruturado - o Nafta - as negociações levaram um ano e meio.

O foco da política comercial do presidente Donald Trump tem se voltado para negociações com países com os quais os EUA possuem déficit comercial. Esse não é o caso do Brasil - nos últimos dez anos, os americanos tiveram superávit de US$ 90 bilhões com o Brasil. Esse é mais um fator que, segundo autoridades que têm acompanhado as negociações comerciais nos EUA, fará com que um eventual acordo com o Brasil entrasse no final da fila de trabalhos do USTR.

No início de fevereiro, em Washington para preparar a visita de Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que a agenda econômica anunciada na ocasião do encontro dos dois presidentes será robusta. Ele disse, no entanto, que os detalhes precisariam ser acertados com a equipe econômica no Brasil. Segundo o chanceler, "não necessariamente" seria um acordo de livre-comércio, mas com "instrumentos para facilitar o comércio". Outros instrumentos pontuais deverão ser aprovados na visita de Bolsonaro a Trump, para reduzir casos de bitributação e prever a facilitação de investimentos e comércio.

Além do encontro com o governo americano, Bolsonaro é aguardado por empresários e investidores para conversa em um dos think tanks da capital americana. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos já anuncia em seu site um encontro entre os membros do grupo com Bolsonaro em data "a ser confirmada" no meio de março.

Quando esteve em Washington em novembro, o deputado Eduardo Bolsonaro teve uma reunião organizada pela Câmara, na qual anunciou que seu pai iria aos Estados Unidos para responder as dúvidas dos empresários.

Estadão
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