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São Paulo: população em situação de rua cresce 31% nos últimos dois anos

O aumento da população nas ruas da cidade de São Paulo é maior do que todas as pessoas em situação de rua do município do Rio de Janeiro; população negra equivale a 70,8%

24 jan 2022 - 17h41
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Imagem de uma pessoa em situação de rua.
Imagem de uma pessoa em situação de rua.
Foto: Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil / Alma Preta

A população em situação de rua da capital paulista cresceu 31% nos últimos dois anos, segundo dados do Censo da População em Situação de Rua de São Paulo de 2021, produzido pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) junto à empresa Qualitest Ciência e Tecnologia Ltda.

O relatório divulgado no último domingo (23) pela prefeitura da cidade revela que no censo de 2019 foram contabilizadas 24.344 pessoas em situação de rua em São Paulo, contra 31.884 registradas no ano de 2021. Dessas pessoas, 60,2% foram recenseadas quando estavam nas ruas e 39,8% quando estavam abrigadas em centros de acolhimento do município. 

O aumento é de 7.540 pessoas, um número maior do que toda a população em situação de rua do município do Rio de Janeiro, conforme estudo realizado na cidade em 2020 que identificou 7.272 pessoas na cidade carioca. "Esse aumento foi 25,8 vezes superior à taxa de crescimento da população geral do município de São Paulo  que foi registrada em 1,2%. Analisando os dados do DATASUS (2020), é possível afirmar que entre as 645 cidades do Estado de São Paulo, 449 (69,6%) municípios possuem uma quantidade menor de habitantes do que a população em situação de rua da capital (2021)", destaca o relatório do censo.

Homens cisgênero, negros e áreas centrais da capital paulista

Em relação à identidade de gênero, 80,1% das pessoas se identificavam como homem cisgênero e 16,9% como mulher cisgênero. Em 2021, o número de pessoas que se identificaram como trans, travesti, agênero, não binário ou outros representou 3% da população, contra 2,7% registrados em 2019.

A população negra em situação de rua na cidade equivale a 70,8%, contra 69,3% registrados em 2019. Neste ano, foram identificados 47,1% de pardos, 25,8% de brancos e 23,7% de pretos. "Quando comparados os seguimentos de pessoas recenseadas nas ruas e nos centros de acolhida, verifica-se que são maiores os percentuais de pessoas pretas e pardas nas ruas em relação a presença desses segmentos nos centros de acolhida", afirma o relatório.

Das pessoas em situação de rua recenseadas em logradouros públicos, 47,5% são pardos, contra 46,7% das recenseadas nos centros de acolhimento. Em relação às pessoas declaradas pretas, essa diferença é de 25,7% da população nas ruas contra 21,5% nos centros de acolhida. Em comparação ao seguimento raça cor branca, ocorre o inverso. Esse segmento representa 29% das pessoas acolhidas contra 23% das pessoas recenseadas nas ruas.

O censo também identificou que a maior parte das pessoas em situação de rua da capital paulista tem entre 31 e 49 anos de idade, são 49,4%. "O percentual de idosos reduziu desde a última edição do censo, quando o total de idosos chegava a 13% da população (2019), e aumentou o percentual de pessoas na faixa entre 31 e 49 anos que em 2019 era de 46,9%", afirma o relatório da pesquisa.

Além disso, os dados do censo apontam que o crescimento da população em situação de rua atingiu praticamente todas as áreas da cidade. A proporção de pessoas vivendo em situação de rua na área central de São Paulo alcançou 49,2% frente a 50,8% vivendo em outras áreas da cidade.

As subprefeituras com maior concentração de pessoas em situação de rua foram a Sé (12.851 pessoas), a Mooca (5.811), Vila Maria - Vila Guilherme (1.238), Santana-Tucuruvi (1.232), Santo Amaro (1.090) e Lapa (1.062). Houve também um aumento de 82,5% de pontos de concentração de pessoas encontradas pelos recenseadores. Em 2019, havia 6.816 pontos. Em 2021, esse número saltou para 12.438.

"Os dados revelam que a expansão da rede de acolhimento tem sido menor que a taxa de crescimento da população em situação de rua na cidade", aponta o relatório.

Primeiro censo em São Paulo após a pandemia

O Censo da População em Situação de Rua é o primeiro da cidade de São Paulo realizado desde o início da pandemia. Depois do relatório realizado em 2019, o último aconteceria somente em 2023, mas foi antecipado diante das consequências socioeconômicas registradas desde 2020 e do aumento do número de pessoas vivendo nas ruas.

De acordo com os dados da pesquisa, desde a edição do censo realizada no ano de 2000 verifica-se o aumento da população em situação de rua em São Paulo tanto em termos absolutos quanto percentuais. No ano de 2000, a taxa de pessoas em situação de rua era equivalente a 83 pessoas por cada 100 mil habitantes. No ano de 2021, havia 257 pessoas em situação de rua por cada 100 mil habitantes.

"Esses materiais servirão de base para o Comitê de Políticas para População em Situação de Rua na elaboração de Plano Municipal de Políticas para a População em Situação de Rua", informou o relatório do atual censo.

A Prefeitura de São Paulo prevê a criação do Programa Reencontro, que vai buscar moradias transitórias e ações intersecretariais imediatas para acolher, a curto e médio prazos, as pessoas que foram para as ruas desde o início da pandemia.

Leia mais: Mortes por Covid-19 de pessoas em situação de rua é o dobro do que o registrado em fontes oficiais

Alma Preta
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