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Corregedoria investiga policiais acusados de agredir jovem negro no interior de São Paulo

Caso aconteceu em Engenheiro Coelho, região de Campinas, na tarde do dia 3; rapaz tem marcas de agressão no rosto e primo relata flagrante forjado de drogas

14 jan 2022 - 17h32
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jovem negro que teria sido agredido por policias tem hematomas no rosto
jovem negro que teria sido agredido por policias tem hematomas no rosto
Foto: Imagem I Reprodução de vídeo / Alma Preta

A pedido da Ouvidoria das Polícias e do Condepe (Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana), a Polícia Militar de São Paulo investiga a denúncia de agressão de um jovem negro por policiais, na cidade de Engenheiro Coelho, no dia 3 de janeiro, durante a apreeensão de uma moto e um suposto flagrante de porte de drogas.

Segundo a Alma Preta Jornalismo apurou, o jovem se chama Cristian, tem 22 anos de idade e trabalha. Um primo do rapaz fez uma série de vídeos para denunciar as agressões e postou na rede social TikTok, no dia 5 de janeiro.

Nas imagens, o primo confronta um cabo da PM dizendo: "Vocês arregaçaram um moleque. Ele não é traficante. Vocês arregaçaram um moleque só por causa da moto, que ele comprou e paga financiada. Você não tem vergonha, não? Você é autoridade, não está aqui para fazer isso não. Você arregaçou o moleque".

O policial, que aparece na imagem, não contesta a afirmação do rapaz que faz as filmagens e mostra Cristian, com hematomas no rosto, dentro da viatura. Em outro vídeo, aparece um dos policiais esvaziando um vaso com drogas no chão. No vídeo, o primo afirma que as substâncias não foram encontradas naquele local.

Em outro registro, do mesmo dia, o primo de Cristian, mostra o rapaz algemado dentro de uma unidade de saúde com as marcas de agressão pelo corpo, enquanto questiona porque profissionais da área de saúde não fazem nada diante das evidências de tortura.

"A senhora é médica, moça? Por favor, responda a minha pergunta. Tá acontecendo uma violência policial dentro do hospital e a senhora não vai intervir?", diz o primo no vídeo quando entra no consultório ao lado da sala para onde Cristian foi arrastado. "A senhora tem a obrigação de salvar vidas e não deixar o policial agredir uma pessoa dentro do hospital onde a senhora trabalha", contesta.

Ao saber das gravações, a vereadora Paolla Miguel, do PT de Campinas, acionou o Condepe, que solicitou ações tanto da Secretaria de Segurança Público como da Corregedoria da PM. A Ouvidoria das Polícias de São Paulo também teve acesso às imagens.

A Ouvidoria informou que fez pedidos de providências sobre o caso para a Polícia Judiciária e para a corregedoria. Foi solicitado também pela Ouvidoria o afastamento dos policiais envolvidos no caso de agressão ao jovem em Engenheiro Coelho. Além disso, o órgão informou que acompanha os desdobramentos do caso.

Questionada pela Alma Preta Jornalismo sobre a atuação dos policiais, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo emitiu uma nota. "O caso foi registrado como posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei 11.343/2006) e resistência na Delegacia de Engenheiro Coelho. Todas as partes foram ouvidas e o jovem encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização de perícia. Os fatos foram comunicados à Polícia Militar, que vai apurar todas as circunstâncias do ocorrido, e o Termo Circunstanciado encaminhado ao Poder Judiciário".

"A Ouvidoria pediu que a corregedoria avocasse as investigações, para que elas não ocorressem no batalhão da PM. Porque muitas vezes as pessoas se intimidam com investigações pelo Batalhão local", afirma Victor Grampa, assessor da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo.

A Alma Preta não conseguiu entrar em contato com o primo que fez as imagens ou com o Cristian, que está em liberdade aguardando a decisão da justiça.

Em nota, a prefeitura de Engenheiro Coelho comunicou que "soube através das redes sociais de uma abordagem realizada a um morador do município na última semana". Por a administração municipal ser responsável apenas pela atuação e abordagens na Guarda Civil Municipal, a prefeitura afirmou que não iria se posicionar sobre a ação dos policiais militares neste caso.

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Alma Preta
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