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Série lança hipóteses do verdadeiro assassino de Malcolm X

Produção da Netflix investiga crime contra o ativista afro-americano

23 mar 2020 - 06h11
(atualizado às 11h58)
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O ativista afro-americano Malcolm X foi assassinado em 1965 quando discursava para uma plateia no Harlem. Foi atingido por 16 projéteis de calibres diferentes. Um dos autores do atentado foi baleado no local e preso no ato. Outros dois fugiram e foram detidos depois. Tudo em aparência esclarecido. Qual então o interesse de uma série intitulada Quem Matou Malcolm X?, disponível na Netflix.

Malcolm X em 'Quem Matou Malcolm X?'
Malcolm X em 'Quem Matou Malcolm X?'
Foto: IMDB / Reprodução

Acontece que há dúvidas profundas sobre esse crime cometido há 55 anos no contexto explosivo dos anos 1960 nos Estados Unidos, década em que tanto Malcolm X como um presidente da República, John Kennedy, e um líder de índole pacifista, Martin Luther King, morreram de forma violenta.

Malcolm X, ao contrário de King, defendia o confronto para enfrentar a violência racial. Foi, durante muito tempo, o segundo na organização Nação do Islã, liderada por Elijah Muhammad. Um dos trunfos da série, talvez o maior deles, é a riqueza do material disponível. Nele, encontramos a figura carismática de Malcolm X, imponente em seu 1,90m de altura, inteligente, hábil com as palavras, convincente, levando o público ao êxtase com sua retórica incendiária. Perto dele, o líder da Nação Islâmica parece figura apagada.

Diante desse carisma, muitas pessoas da organização suspeitavam que Malcolm X tentava puxar o tapete de Elijah Muhammad e tornar-se o chefe. Malcolm sempre negou isso, mas, após anos de colaboração, brigou com Muhammad, deixou a seita e fundou a sua própria, chamada Organização da Unidade Afro-Americana. Foi considerado traidor da União do Islã. Afinal, fora Elijah Muhammad quem resgatara Malcolm X na prisão, o acolhera e o tornara um protegido, destinando-o a ser seu herdeiro no futuro.

Parecia claro, então, que o crime tinha origem na União do Islã e Elijah Muhammad seria o mandante, o que ele sempre negou. Enfim, os assassinos foram detidos e não parecia haver dúvidas razoáveis sobre o caso.

No entanto, o historiador Abdur-Rahman Muhammad, fã de Malcolm X, entende que o caso continua mal explicado. Examinando documentos variados, da União do Islã e do FBI, constata que as provas contra os dois presumíveis assassinos, presos depois do atentado, eram frágeis e contraditórias. O seu exame detido apontava para um novo personagem, jamais mencionado no inquérito.

Abdur-Rahman torna-se o condutor e mestre de cerimônias da série, dirigida por Phil Bartelsen e Rachel Dretzin. Ele é quem apresenta as inconsistências do caso, mostrando novas evidências e, ao mesmo tempo, expondo o contexto febril das lutas raciais em que o crime se dera. O documentário, com seis partes de aproximadamente 40 minutos cada, torna-se uma ótima aula de História.

Quem Matou Malcolm X? toma forma dupla, de filme de detetive com direito a dúvidas e a suspense, e ensaio histórico sobre uma época tão violenta como rica na nação norte-americana e no mundo em geral.

Caso houvesse menos material filmado, a série talvez se tornasse uma monótona sequência de depoimentos. Mas, pelo contrário, é a riqueza do arquivo que garante a vivacidade do documentário. Ouvimos muito e vemos tanto Malcolm X como seu mentor e depois rival Elijah Mohammed. O primeiro arrebatava pelo charme e coragem; o segundo seduzia por sua discrição de estrategista. Eram duas concepções diversas no jogo de posições da luta racial norte-americana. Malcolm, apologista da ação direta, faz uma viagem à África e volta mudado. Reconcilia-se com o Dr. King e passa a considerar outras táticas, menos violentas, para a sua causa. Mas não teve tempo de colocá-las em prática ao ser devorado pela violência da época.

Estadão
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