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"Posso ir além do engraçado", diz o ator Bruno Garcia

8 mar 2009 - 08h20
(atualizado às 08h21)
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À primeira vista, o papel do comerciante Hércules Galvão, de Três Irmãs, tinha tudo para ser mais um tipo bem-humorado para Bruno Garcia. Como ele é conhecido por interpretar figuras histriônicas, o personagem poderia ser apenas um engraçadinho na trama do autor Antônio Calmon.

Mas a possibilidade de interpretar um homem com dupla personalidade surpreendeu o ator. E, se depender dele, Galvão vai crescer ainda mais na trama. "Estou ali para ser engraçado quando precisar e ser dramático quando precisar também. A televisão procura atores que façam isso", valoriza.

Depois de atuar em cinco novelas da faixa das sete, Bruno sente que amadureceu profissionalmente ao interpretar o dramático Pedro, na minissérie Queridos Amigos, em 2008. E, depois disso, só pensa em manter a boa fase na teledramaturgia. "Essa papel foi fundamental para que eu pudesse mostrar uma outra faceta minha. E me sinto renovado depois deste trabalho. Sei que posso ir além do engraçado", garante.

Ficar taxado por um mesmo estilo, aliás, é o que Bruno menos teme. Mesmo colocando pitadas de humor em seus personagens, ele garante que só está obedecendo ao tom de Galvão. "Sou muito chamado para essa função e sei até onde posso ir. E, se possível, também quero variar", afirma.

Seu personagem começou a trama como uma espécie de vilão, mas aos poucos foi perdendo esta característica. Como o Antônio Calmon apresentou o Galvão?
Ele me disse que o Galvão seria um sujeito muito dividido entre o bem e o mal, até por conta da família que tinha. Com um pai muito severo e uma mãe muito religiosa. Na verdade, ele estaria no limite entre uma possibilidade e outra, e foi justamente isso que aconteceu. A função do Galvão era ser vilão, mas ao mesmo tempo ter uma relação de amor, mesmo que fracassada com a Alma. E, no meio dessa vilania, ele vê o irmão se transformar em uma pessoa perigosa, o que o faz abrir os olhos. A partir daí ele teve uma espécie de redenção. Percebi que o Calmon conduziu o Galvão para outras possibilidades.

Você já havia feito outras cinco tramas no mesmo horário, que tem como característica o humor. Você encarou esse personagem de forma diferente?
Com certeza. E apesar de ser bastante requisitado para essa faixa, vejo cada trabalho diferente do outro. O Galvão tem atitudes surpreendentes que imagino que outros personagens que fiz não tinham. Isso porque eu posso estar fazendo o papel do ridículo em uma cena, mas em outra já quebro o personagem com um drama. E isso funciona pra mim. Já trabalhei com o Calmon antes e acho que ele faz diálogos muito bem, e é, sobretudo, muito jovial. E, mesmo que ele crie um vilão, será sempre um vilão com humor. Vejo isso como uma característica dele, pois trabalha muito bem com a dualidade dos personagens. O Galvão é bem isso. Ele é muito intenso em tudo.

Mas você tem essa característica de colocar uma pitada de riso em seus personagens também...
Gosto muito de fazer humor. Comecei minha carreira ainda criança e sempre gostei muito de palhaçada, de divertir os outros. Mas o que acontece é que por mais que você possa dar o seu colorido ao personagem, ele já está escrito. Por isso que existe o intérprete. Você não cria o papel, quem cria é o autor. Procuro sempre ler o personagem o mais fiel possível em relação ao que o autor imagina que ele seja. No caso do Galvão, eu consegui unir as duas coisas.

Você não tem medo de ficar estereotipado com tantos tipos semelhantes?
Não. Isso não chega a me amedrontar, mas é algo que vejo que preciso variar de vez em quando. Entre Pé na Jaca e Três Irmãs eu fiz Queridos Amigos, que foi um trabalho completamente diferente. Toda obra de teledramaturgia tem de ter humor. Aliás, toda grande história, ao ser contada, tem humor. Mesmo em um drama. Mas na minissérie foi bom não estar nem perto do núcleo de humor. O Pedro era um personagem denso, deprimido. Nada parecido com o que tinha feito. Até fiz o Heitor em Dona Flor, que também não era personagem de humor. Mas o Pedro foi a superação.

Como veio o convite para viver esse personagem?
Na verdade eu me convidei. Tinha sido sondado para fazer uma minissérie sobre a história dos holandeses no Brasil, que seria da Maria Adelaide Amaral, com direção da Denise Saraceni. Esse projeto foi suspenso, pelo tamanho e houve essa substituição. Como eu tinha sido sondado para fazer um papel nesse projeto, fiquei com aquele gostinho. Procurei a diretora Flávia Lacerda e perguntei se não havia papel para mim em Queridos Amigos. Ela logo respondeu que a Maria não tinha pensado em mim por eu ter imprimido muito essa coisa do humor, e que ela precisaria de um ator mais denso. Mas os testes estavam abertos e topei fazer. Sabia do que era capaz e fui absorvido pelo projeto.

De que forma você trabalhou a dramaticidade desse personagem?
Mergulhei realmente em sua história. Fui muito além da barba gigantesca, de ter de emagrecer. O Pedro conseguiu me dar um outro olhar e me fez ter uma outra relação comigo. Estava com saudade de interpretar um personagem dramático e esse foi um grande passo na minha carreira.

Você ficou conhecido pelo grande público ao atuar em Coração de Estudante. Como foi o início da sua carreira na TV?
Comecei na TV em 1991, em Felicidade. Mas só em 2002, com Coração de Estudante, que fui projetado para o grande público. Até então, já tinha feitos muitos trabalhos em novela, fiz muito Você Decide, várias minisséries como O Auto da Compadecida. Mas mudava muito de fisionomia e não tinha uma referência com o público, que só me reconheceu quando estava com o mesmo visual. A partir dessa novela as pessoas começaram a falar o meu nome. Depois fui convidado para fazer meu primeiro protagonista em Bang Bang e não saí mais da faixa das sete.

Nessa novela você disputava a mocinha com o Fábio Assunção. E até em Bang Bang você fugia um pouco do perfil de galã. Não é o seu perfil?
Na verdade, eu acho que galã são os personagens. O Pedro Guerra, de Coração de Estudante, era aquilo. Estava escrito daquele jeito, sendo bronco, machista. Não dava para eu fazer daquele cara um galã. Agora se está escrito que o cara é gente fina, boa pinta, a história é diferente. Não é questão de achar que seja o meu perfil ou não. Penso que, se você começa a fazer um galã atrás do outro, você vira um galã. Se começa a fazer humor, um atrás do outro, você vira o palhaço. E a TV é implacável nesse sentido.

Mas você já pensou em desistir da televisão para seguir no teatro ou cinema?
Claro que não. Comecei no teatro com 11 anos de idade, e foi o palco que me abriu as portas para a TV e o cinema. Gosto muito de atuar onde quer que seja. Acho muito divertido pensar que estou iludindo o público, mas iludindo no bom sentido. Gosto de me manter essa brincadeira de faz de conta o tempo todo. E até em uma cena em que preciso de concentração, não vou deixar de criar um clima de diversão. Ser ator é um trabalho que precisa de muita alegria para dar certo.

Estréia Precoce
A primeira aparição de Bruno Garcia na TV foi em Felicidade, em 1991. Na época, o ator que nasceu em Recife, tinha acabado de chegar no Rio de Janeiro. Ele queria fazer cursos, e assistir de perto como funcionava a TV e o cinema. "No início de 90, era tudo muito concentrado entre Rio e São Paulo e vim para cá para descobrir novas possibilidades", afirma.

Estreante no teatro com 11 anos de idade, e filho de um bailarino clássico, diretor e ator, Bruno conta carinhosamente que começou na carreira pelas mãos de seu pai. "Ele é um artista muito multifacetado que me inspira até hoje", conta.

Com 38 anos e prestes a completar 27 de carreira, o ator se sente feliz por ter participado de mais de 15 filmes, incluindo curtas e longas-metragens. O último foi Saneamento Básico, de Jorge Furtado, em 2007. Mas gostaria de ser mais requisitado pelo cinema. "Eles me chamam pouco", se queixa.

Na TV, depois de Felicidade, ele atuou em 1998 em Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1999 em Luna Caliente e, no ano seguinte, em Os Maias. Já em 2001, fez O Quinto dos Infernos. Mas o ator ganhou destaque quando participou, em 2002, de Coração de Estudante.

Depois se manteve quase fixo ao horário das sete trabalhando em Kubanacan, Começar de Novo, Bang Bang e Pé na Jaca. "Virei sinônimo deste horário", brinca.

Tudo ao mesmo tempo

Bruno Garcia divide a sua rotina de gravação com outra profissão: a de diretor. O ator começou a se arriscar na direção de teatro em 1999, quando trabalhou na peça Mênon, sobre um texto homônimo de Platão. Anos mais tarde, já em 2007, o ator dirigiu a peça Apareceu a Margarida.

"Fiz a direção desse espetáculo e o resultado ficou muito bom. Até pretendo voltar com ela ainda esse ano", afirma. Dirigir ou atuar no teatro é, aliás, uma das paixões do ator, que pretende logo ensaiar sua volta aos palcos assim que Três Irmãs terminar.

Bruno tem um texto musical infantil pronto para ser realizado, só falta achar alguém que queira participar de sua história "Ele se chama O Livro de Tatiana e é um projeto que tenho guardado há anos. Mas não posso dirigir e produzir. E produzir é um talento muito específico que ainda não tenho", lamenta.

Trajetória televisiva

Felicidade (Globo, 1991) - Luis.

Dona Flor e Seus Dois Maridos (Globo, 1998) - Heitor.

Luna Caliente (Globo, 1999) - Braulito

Os Maias (Globo, 2000) - Adelino.

O Quinto dos Infernos (Globo, 2001) - Dom Carlos.

Coração de Estudante (Globo, 2002) - Pedro Guerra.

Sexo Frágil (Globo, 2003) - Alex e Vilminha.

Kubanacan (Globo, 2003) - Amaro e Dagoberto.

Começar de Novo (Globo, 2004) - Thiago Diniz.

Bang Bang (Globo, 2005) - Ben Silver.

Pé na Jaca(Globo, 2006) - Juan Arrabal.

Queridos Amigos (Globo, 2008) - Pedro Novaes.

Três Irmãs (Globo, 2008) - Hércules Galvão.

Bruno Garcia conversa sobre vida profissional e pessoal
Bruno Garcia conversa sobre vida profissional e pessoal
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / TV Press
Fonte: TV Press
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