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De comissário de bordo à TV: Alex Escobar decola sua carreira na Globo

16 ago 2017 - 14h36
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Alex Escobar decolou comissário de bordo e aterrissou comentarista, apresentador e locutor da TV Globo. Ou teria sido o contrário? Pouco importa. Dono de um jeito bonachão, camarada e amigo, ele conquistou a simpatia dos torcedores de futebol. Depois de abandonar a aviação, onde se apresentava como locutor oficial de todos os seus voos – e ai de algum colega que quisesse lhe tirar o microfone -, o carioca de Vila da Penha, zona norte da cidade, hoje desponta como um dos nomes de maior prestígio da equipe de esportes da emissora.

Alex Escobar trabalhou como comissário de bordo de 1996 a 2000
Alex Escobar trabalhou como comissário de bordo de 1996 a 2000
Foto: Arquivo pessoal/Alex Escobar

Nesta entrevista ao Terra, por mais de uma hora, em viva voz, cada qual com seu smartphone, Alex Escobar contou como se deu essa mudança repentina na sua vida profissional e as transições por que passou nas diversas funções ocupadas na Globo. Sempre atencioso, falou com entusiasmo do quadro ‘Cafezinho com Escobar’, que é um sucesso na edição Rio do Globo Esporte. No final, rendeu uma homenagem ao amigo Guilherme Van Der Laars e a outras vítimas da queda do avião da Chape, em novembro de 2016, na Colômbia.

Como foi esse salto profissional: de comissário de bordo a comentarista, locutor a apresentador da TV Globo?

ESCOBAR – Tudo tão rápido, eu me sinto muito privilegiado. Trabalhei em 1996 e 1997 na Vasp e de 1997 a 2000 na Transair – uma empresa que só fazia voos fretados mais especificamente para o mundo árabe, China e adjacências. No avião, eu que fazia a locução, gostava disso, e todos os meus amigos sabiam que o meu sonho era trabalhar em rádio. Até que um dia um colega de voo me disse que o cunhado dele era locutor da JB FM e perguntou se eu topava fazer um teste na emissora. Eu já tinha tentado a Globo FM e a Transamérica, mas não levei sorte. Vibrei com a oportunidade. Fui lá e acabei aprovado. Então, larguei a aviação. O rádio, na época, era a minha paixão. Fiquei um período na JB FM e depois na Rádio Cidade, do mesmo grupo. Em 2002, ano de Copa do Mundo, comecei a apresentar o Programa Rock Bola na Cidade. Foi assim até 2005. Em 2003, o SporTV me chamou pra ser comentarista e deu pra acumular as duas tarefas.

Apresentando programas esportivos e fazendo a locução de competições de várias modalidades, Alex Escobar vem ganhando destaque na Rede Globo
Apresentando programas esportivos e fazendo a locução de competições de várias modalidades, Alex Escobar vem ganhando destaque na Rede Globo
Foto: João Cotta/TV Globo

Você depois chegou ao Bom Dia Brasil, na TV Globo.

ESCOBAR – Isso foi em 2008, quando o Tadeu Schmidt foi apresentar o Fantástico. Eu fui seu substituto no Bom Dia Brasil e ali a gente passa a ser um pouco apresentador, com quase um bloco permanente sobre esporte, é como se fosse um programa dentro do outro. Deixei naquele ano de ser comentarista e me dediquei à nova função. Em 2010, fui para o Globo Esporte, tive um período em 2015 e 2016 no Esporte Espetacular e voltei há exatamente um ano para o Globo Esporte.

E em meio a isso tudo começou a narrar jogos. Foi uma transição tranquila?

ESCOBAR – Eu me sinto à vontade. Curto muito. Já na Copa do Mundo de 2014 narrei sete partidas. Agora, em 2017, tenho mesclado a TV com a Rádio Globo. São linguagens diferentes, mas a adaptação vem com a prática. É divertido. As pessoas da minha geração tem mais referência à narração de futebol pelas emissoras de rádio. É como se eu estivesse voltando à infância. Bem legal.

Na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, você acabou no centro de uma polêmica envolvendo o técnico Dunga, que interrompeu uma entrevista coletiva e lhe dirigiu algumas palavras pesadas. O que ficou daquele episódio?

ESCOBAR – Totalmente superado. A melhor coisa que a gente pode fazer é jogar fora as coisas ruins, não acumular o que não faz bem. Fiquei chateado, mas depois passou. Estive com o Dunga num encontro casual em Porto Alegre durante a Copa de 2014. Eu o vi na sala de embarque do aeroporto e fui ao encontro dele. Quando cheguei perto, eu disse: ‘Tudo certo, né Dunga? Já se passaram quatro anos.” E ele me respondeu: “Claro, claro.” E aí foi bacana, começamos a conversar sobre futebol, a bater papo.

Alex Escobar mostra que sua voz pode ir além da locução esportiva e tem sido destaque na disputa do talent show 'Popstar', na Globo
Alex Escobar mostra que sua voz pode ir além da locução esportiva e tem sido destaque na disputa do talent show 'Popstar', na Globo
Foto: Isabella Pinheiro/Rede Globo

No Globo Esporte (edição Rio), o quadro ‘Cafezinho com Escobar’ tem sido bem acolhido pelo torcedor carioca. Como foi criado?

ESCOBAR – Nasceu de uma reunião de pauta, sem grandes pretensões. Mas aí acabou abraçado pelo público e hoje realmente é um sucesso. A gente sai da redação sem roteiro definido e para numa praça, numa rua de movimento, monta uma bancadinha com uma ou duas garrafas térmicas e, enquanto serve cafezinho pra quem se aproxima, começa a falar sobre a rodada do fim de semana. Na equipe vão quatro músicos da nossa banda. Tem como objetivo também mostrar o Rio de Janeiro. A empatia é tão grande que aparece gente levando pedaço de bolo, pão de queijo e incrementa o cafezinho. Faço ali umas provocações com os torcedores e o mais legal de tudo é que nunca houve nenhuma confusão nem princípio de discussão entre os rivais, os que torcem para times diferentes. É o futebol entendido como algo lúdico, um universo onde é possível brincar sem ofender. As pessoas chegam e me abraçam, batem nas minhas costas, me chamam de carequinha, tudo numa boa. Se sentem como se fossem meus amigos e esse é o meu maior patrimônio.

Você nunca escondeu uma outra paixão – a de torcedor do América-RJ. Chegou a tentar convencer seu filho Pedro a seguir o seu exemplo, mas usando um artifício bem original. Como era isso?

ESCOBAR – Pois é, quando ele era bem pequeno , a gente via jogos do Internacional pela TV e como as camisas dos dois times são vermelhas eu dizia pra ele, a cada gol do Colorado, que o gol era do América. Batia palmas, gritava, ele vibrava, pulava. Mas não deu pra enrolar o garoto por muito tempo não. Hoje, adolescente de 16 anos, o Pedro nem gosta de futebol. Tenho ainda a Mariana, de 19 – ambos do primeiro casamento. A minha esperança agora recai sobre o Francisco, de 1 ano. Já comprei a camisa do América pra ele e vou levá-lo em jogos quando possível. Esse não vai escapar não.

Você gosta de frequentar a arquibancada nos dias de folga. Consegue ver os jogos?

ESCOBAR – Tenho evitado. Exatamente porque não dá pra ver. Acabo cercado, as pessoas pedem pra fazer fotos, querem conversar com a bola rolando, essas coisas, e eu gosto de dar atenção, de retribuir o carinho. Quando vou a jogos de menor apelo, como os da Segunda Divisão do Campeonato Carioca, fico em campo, perto de um dos bancos de reservas.

Todo locutor de futebol usa um recurso, às vezes uma frase curta ou apenas uma entonação peculiar, para narrar os gols dos jogos. Você aumenta a voz para enfatizar que ‘é gol do Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, América’ e por aí vai. Isso foi planejado?

ESCOBAR – Sinceramente não. Num dos primeiros jogos que narrei, em 2014, assim que voltei para a redação tive um feedback bacana do Guilherme Van Der Laars (então produtor da TV Globo). Ele repetiu em voz alta o que tinha ouvido de mim minutos antes. “É gol do Botafogo.” O Guilherme me disse que tinha curtido aquilo e, sem pretensão nenhuma, ele acabou me influenciando. A partir dali, consolidei essa fórmula nas minhas transmissões.

O Guilherme Van Der Laars foi uma das vítimas do voo da Chape. Como era a relação de amizade de vocês?

ESCOBAR – A gente sempre estava junto e eu admirava muito o jeito paizão do Guilherme com os dois filhos (Felipe e Tomás) – sua esposa estava grávida quando do acidente aéreo e Guilherme não pôde ver o nascimento de Gabriel em janeiro de 2017. Um cara do bem, muito antenado e competente. Foi um prazer imenso ter convivido, ter trabalhado com ele.

Além do Guilherme Van Der Laars, você perdeu outros amigos naquela tragédia?

ESCOBAR – Muitos. Conhecia todos de imprensa que estavam no avião, além de muitos profissionais da Chapecoense. O Guilherme Marques era o nosso mascote aqui na redação, um garoto espetacular. O Victorino Chermont (FOX) era um doce de pessoa. Daria pra falar de todos, individualmente. Muito triste.

Como ex-comissário de bordo, você acabou mais envolvido ainda com o que ocorreu?

ESCOBAR – Sim. Logo que houve a queda, eu fiquei me perguntando sobre o motivo daquilo, o que teria acontecido, se poderia ter sido evitado, coisa e tal, sempre tomando como referência a minha experiência de  vários anos com aviação. Juntava-se a isso o fato de ter tanta gente querida no avião. Era um voo do bem, só havia ali pessoas que despertavam sentimentos bons. Não se trata aqui de valorizar quem se foi por uma convenção qualquer, como é o costume. Era um grupo diferenciado sim. Bom, ficou a saudade e também as melhores lembranças.

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Fonte: Especial para Terra
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