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‘O Outro Lado do Paraíso’ vira novela em que ninguém é feliz

Folhetim da Globo desafia o telespectador a encarar overdose de tristeza e desolação

17 nov 2017 - 13h55
(atualizado às 18h57)
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Lívia (Grazi Massafera), linda e sexy, mas infeliz por não se sentir amada nem ter condições de gerar um filho
Lívia (Grazi Massafera), linda e sexy, mas infeliz por não se sentir amada nem ter condições de gerar um filho
Foto: Raquel Cunha/TV Globo

No primeiro parágrafo do romance ‘Anna Karenina’, o russo Leon Tolstói registrou uma verdade assustadora: ‘todas as famílias felizes são iguais, cada família infeliz é infeliz à sua maneira’.

Poderia ser o slogan de ‘O Outro Lado do Paraíso’. O novelão das 21h da Globo é dramático, lúgubre e povoado por personagens tomados pela infelicidade.

Tem a mãe que se finge de morta para proteger o marido e a filha. Uma moça infértil obcecada em roubar o filho da cunhada. Um médico que se corrói por um amor não correspondido. Uma menina molestada pelo padrasto.

Há uma prostituta solitária que sonha com um príncipe. Um apaixonado casal interracial separado pelo preconceito. Um gay enrustido que se casou para não decepcionar a mãe conservadora.

O telespectador acompanha ainda uma médium que sofre pela dor alheia. Uma filha carente desprezada pela própria mãe por ter nascido anã – mãe esta que só pensa em dinheiro e poder.

Um rapaz atormentado por duas personalidades distintas e ainda uma jovem traumatizada pela morte abrupta do pai, além de ter cicatrizes no corpo e na alma da violência sofrida do marido.

Ah, e um simpático idoso que foi afastado da mulher que amava devido a uma mentira.

Tudo em ‘O Outro Lado do Paraíso’ está relacionado ao mais primitivo dos sentimentos: o amor – e suas dolorosas intercorrências.

O mesmo Tolstói escreveu que ‘cada um viveu tanto quanto amou’. Os personagens da novela vivem e sofrem por amar demais ou por não serem amados o suficiente.

É triste, mas também é bonito de se ver. Uma representação da vida imperfeita e incompleta que a maioria de nós tem.

As novelas das 9 da noite são tradicionalmente mais densas e dramáticas. Mas existe sempre um núcleo responsável por aliviar a tensão.

Na produção atual, apenas cenas isoladas cumprem esse papel. Na maior parte do tempo, o telespectador recebe carga pesada de dramaticidade.

Algumas sequências foram extremamente angustiantes, como a do estupro sofrido pela mocinha Clara (Bianca Bin) na lua de mel com Gael (Sergio Guizé) e quando Elizabeth (Gloria Pires) despediu-se da filha acreditando que jamais iria vê-la de perto novamente.

Em sua segunda novela na faixa das 21h, o autor Walcyr Carrasco está mergulhado nas mazelas emocionais do ser humano – e convida o público a testar seu fôlego nesse mar de sentimentos negativos.

‘O Outro Lado de Paraíso’ é dramaturgicamente mais consistente do que ‘Amor à Vida’ (2013-2014), na qual havia humor e romance em maior proporção.

Mostra-se uma novela em sintonia com o clima pesado vivido hoje neste que é o País da injustiça social, da corrupção, da violência, da intolerância e da desesperança.

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