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JN reprisa reflexão comovente de Bonner para tocar o público

Texto contra banalização das mortes por covid foi lido quando o Brasil tinha apenas 3% dos óbitos que registra hoje

11 mar 2021 - 09h01
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Imagine 14 aviões Boeing 737, o mais popular em uso no planeta, caindo em um único dia no Brasil. O número de vítimas representaria os 2.349 mortos por covid-19 entre terça e quarta. Caso essa catástrofe aérea acontecesse, o País ficaria em choque.

Bonner e Renata no encerramento do ‘JN’ de quarta-feira (10): a busca da humanização dos números da pandemia
Bonner e Renata no encerramento do ‘JN’ de quarta-feira (10): a busca da humanização dos números da pandemia
Foto: Reprodução

Mas o acúmulo e a previsibilidade de óbitos em consequência do coronavírus gera um tipo de anestesia emocional na maioria de nós. Há um ano, tomamos conhecimento da atualização diária do número de mortes pela TV, nos impressionamos por alguns segundos e então tocamos a vida.

Foi na tentativa de quebrar essa indiferença que o ‘Jornal Nacional’ de ontem resgatou a reflexão tocante lida por William Bonner em 5 de maio de 2020. ‘Pandemia faz JN dar um choque de realidade no telespectador’ foi a manchete em destaque neste blog na manhã seguinte.

“Você já nem deve lembrar, mas na quinta passada eram 5.901 mortos. Os números vão aumentando desse jeito, cada vez mais rápido, vão dando saltos, e vai todo mundo se acostumando porque são números”, disse o âncora.

“Um número muito grande de mortes, de repente, num desastre, sempre assusta. As pessoas levam um baque. Morreram mais de 250 pessoas em Brumadinho, é uma tragédia. Nos Estados Unidos, em 2001, morreram quase 3 mil nos atentados do 11 de setembro. Três mil, assim (estala os dedos), de repente. Mas quando as mortes vão se acumulando ao longo de dias e de semanas como acontece agora na pandemia, esse baque se dilui, e as pessoas vão perdendo a noção do que seja isso”, continuou.

“Oito mil vidas acabaram. Eram vidas de pessoas amadas por outras pessoas. Pais, filhos, irmãos, amigos, conhecidos. Aí o luto dessas tantas famílias vai ficando só para elas, porque as outras pessoas já não têm nem como refletir sobre a gravidade dessas mortes todas que vão se acumulando todo dia, todo dia. Hoje são 8.500. Amanhã? A gente não sabe. Quando é assim, o baque só acontece quando quem morre é um parente, um amigo, um vizinho ou uma pessoa famosa.”

Ontem, depois da exibição do vídeo de 10 meses atrás, a âncora Renata Vasconcellos ressaltou a importância de humanizar as estatísticas da covid-19. “Em maio do ano passado, quando estavam em luto as famílias de 8.500 brasileiros, o ‘Jornal Nacional’ já fazia um apelo para que as pessoas não fossem tratadas como números. É um apelo que se torna ainda mais necessário hoje, quando o Brasil registrou 2.349 mortes num único dia.”

Reproduzo trecho da análise aqui neste espaço do Terra a respeito daquela iniciativa de conscientização do ‘JN’: “A essência do jornalismo, tantas vezes perdida, deve ser sempre retratar pessoas e suas histórias, seus sentimentos. Toda notícia nasce de alguém e impacta um outro alguém. Não se pode desprezar, no meio do caminho, a matéria-prima chamada humanidade. E a mídia acerta quando oferece um pouco de esperança ao público”.

O post ‘Ficou evidente que Bonner teve uma das piores semanas no JN’, de segunda-feira (8), ressaltou o custo mental aos jornalistas envolvidos na cobertura diuturna da pandemia de covid-19. Em repercussão, muitos leitores comentaram em redes sociais algo do tipo: “Os âncoras sofrem, mas são bem pagos para fazer isso”. Não se trata de dinheiro. É uma questão de empatia e solidariedade. Somente quem se predispõe a sentir consegue entender.

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