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Audiência comprova: noveleiro gosta mesmo é de vingança

Salto de ‘O Outro Lado do Paraíso’ no Ibope ressalta confusão entre justiça e justiçamento

5 jan 2018 - 15h41
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“A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”, escreveu o filósofo grego Epícuro, que viveu no tempo do ‘olho por olho, dente por dente’.

A mesma atitude baseada na Lei de Talião, que justifica a retaliação proporcional à gravidade do crime, se vê em ‘O Outro Lado do Paraíso’.

A ex-mocinha tonta Clara (Bianca Bin) se tornou uma milionária obcecada em punir as pessoas que a prejudicaram no passado.

Em seus diálogos, ela usa ‘justiça’ e ‘vingança’ de maneira equivalente. Sente-se no direito de ignorar qualquer código de ética no que se refere a seus inimigos.

O olhar de quem deseja vingança: Clara (Bianca Bin) tem seu próprio código de justiça
O olhar de quem deseja vingança: Clara (Bianca Bin) tem seu próprio código de justiça
Foto: Raquel Cunha/TV Globo / Divulgação

O telespectador se empolgou com essa virada ideológica da personagem. A falta de empatia com a Clara boboca da primeira fase foi substituída pelo interesse no comportamento justiceiro da ‘nova’ heroína.

A novela pulou da média semanal de 28 pontos no Ibope para 39. Em alguns capítulos, atrai 8,5 milhões de pessoas diante da TV somente na Grande São Paulo.

Todos ávidos por ver Clara humilhar os vilões ainda que, para isso, ela se aproxime da falta de índole deles a fim de   realizar sua revanche.

A personagem mente, dissimula e manipula. Para o público, ok. Os noveleiros são solidários – e permissivos – com quem se mostra injustiçado.

Descrentes dos ritos da justiça formal, as pessoas aceitam o ‘jeitinho brasileiro’ de se aplicar a lei do retorno. Aqui se faz, aqui se paga.

Milhões de telespectadores se identificam com o desejo de vingança de Clara. Afinal, quem nunca teve vontade de ir à desforra por ter sido prejudicado?

A ficção espelha a sociedade e a essência humana, no que há de positivo e negativo. Lá estamos nós, representados por heróis e vilões.

O maniqueísmo entre o bem e o mal às vezes está explícito. Em outras ocasiões fica difícil delimitar onde começa um e termina o outro.

A novela nos inspira a reafirmar princípios e encarar desvios morais. Clara pode tudo porque é assim que a maioria pensa: vale fazer qualquer coisa em benefício próprio.

Para ela (e a tantos outros que pensam da mesma maneira), não é obrigatório ser justo para se fazer justiça.

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