Toni Garrido, Da Gama, Bino Farias e Lazão – com o reforço do guitarrista Serjão e do tecladista Alex Meirelles – têm no repertório seu principal trunfo. Desde 1991, quando lançou o primeiro disco, Lute para Viver, a banda vem colecionando sucessos. Canções como Falar a Verdade, Downtown e A Flecha e o Vulcão (esta,do último CD do grupo, Enquanto o Mundo Gira, lançado no ano passado) consagraram a banda na edição catarinense do Planeta Atlântida, em um dos momentos mais animados do festival. O Erê, por exemplo, teve participação do vocalista Chorão e do baixista Champignon, do Charlie Brown Jr. "A música popular é isso. É mais do que uma obrigação do artista trazer esse alto astral e essa troca" diz o guitarrista Da Gama.A alegria pode ser a principal, mas não é a única face do Cidade Negra. Preocupados com questões sociais, os músicos apresentam letras cada vez mais críticas, como Luta de Classes e Favela. No CD Enquanto o Mundo Gira, até o instrumental se tornou mais agressivo e sujo, como na canção Podes Crer.
O disco, conforme Toni Garrido, foi criado a partir dos conceitos revolucionários dos estudantes rebeldes dos anos 60, dos tropicalistas, dos hippies e dos Black Panthers americanos. A capa do CD mostra um punho cerrado.
Da Gama tenta explicar o que seria essa aparente contradição entre disco e show: "Show é show, as mensagens estão nas letras. A galera está absorvendo isso".
O porte do evento e a receptividade do público sulista foram grandes surpresas para o Cidade Negra em suas participações anteriores no Planeta Atlântida.
Para Da Gama, o Planeta fez com que os artistas de Rio e São Paulo descobrissem um novo mercado e uma nova cena musical: "Não estamos mais só pensando no chimarrão", resume o guitarrista. "O que se conhecia do Sul era Kleiton & Kledir e, de mais moderno, os Engenheiros do Hawaii. Agora, estamos tomando consciência do que acontece por aqui. O Planeta Atlântida está impulsionando outros festivais".
Curiosamente, o guitarrista foi um dos jurados do concurso Escalada do Rock, que selecionou bandas novas de todo o Brasil para se apresentar do Rock In Rio – festival do qual o Cidade Negra acabou não participando, como outras cinco bandas nacionais, devido a atritos entre os produtores dos grupos e a organização.
Da Gama conta que conheceu – e gostou bastante – de duas bandas gaúchas que disputaram a Escalada: Limusine Negra e Casaco de Madame, voltadas à mescla de rock, funk e soul music."Na Escalada do Rock, vi bandas preocupadas em mostrar coisas diferentes, em ter uma cara brasileira", diz.