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Sempre com muitos planos, Jeff Tweedy, fundador do Wilco, lança livro e disco

'Let's Go (So We Can Get Back)' é uma autobiografia sincera sobre os anos de formação e os problemas na trajetória do cantor e compositor; 'Warm', o disco, serve de complemento ao texto

8 jan 2019 - 03h11
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Jeff Tweedy ajudou a redefinir o country rock no início dos anos 1990 com sua banda Uncle Tupelo, e então fundou o Wilco quando o grupo se desfez em 1994. Nos 25 anos que se passaram, o Wilco se tornou um dos grupos mais amados da música moderna, e Tweedy arranjou tempo para uma variedade de projetos paralelos, incluindo trabalhos de produção de lendas como Richard Thompson e Mavis Staples, um novo livro de memórias - Let's Go (So We Can Get Back) - e um disco solo inédito, Warm, um "complemento" ao livro.

Muito além de ser apenas um relato ponto a ponto das lutas e mudanças de pessoal de suas famosas bandas, Let's Go mostra como a carreira prolífica e musicalmente variada de Tweedy é o resultado de um inquieto lance de criatividade que o ajudou a encontrar significado e um lugar no mundo. Ele falou por telefone.

Você diz em Let's Go que, como artista, seu trabalho é "buscar inspiração". Como você conseguiu isso ao mesmo tempo em que escrevia prosa pela primeira vez depois de três décadas como compositor profissional?

Foi difícil não me sentir intimidado. Para alguém que passou a vida meio que destilando a linguagem em poemas e letras, a perspectiva de escrever prosa era realmente desafiadora. Mas eu costumo responder bem aos desafios. A parte mais difícil foi, na verdade, descobrir onde parar. Quando estou contando uma história, minha mente vagueia pelos milhões de detalhes que não fazem a história avançar. Porque esses são os detalhes poéticos. Mas a história, para ser clara, precisa se desfazer de tudo isso, para se tornar vívida e compreensível.

Uncle Tupelo e seus discos iniciais do Wilco tiveram um importância profunda na percepção do country rock, embora você tenha viajado muito além desse gênero durante anos. Qual é o seu relacionamento com a música country e como isso mudou?

Jay (Farrar, o colíder de Tweedy na Uncle Tupelo) tinha muito mais ligação com música country e folk do que eu, através de sua família. Embora não pudesse evitá-la, crescendo onde nós crescemos (Illinois). Mas a afeição por isso veio principalmente de querer escrever músicas. É o lugar mais fácil para ouvir como uma música é colocada junto com os acordes. Quase todos os outros gêneros são muito mais produzidos, ou os acordes são feitos de uma combinação de instrumentos, não apenas de uma guitarra acústica... E esse tipo de canto - ter uma voz que não tende a melodias com notas longas e sustentadas, a abordagem mais conversacional de alguma folk e country music - pareceu natural para mim. Não acho que haja nada premeditado sobre isso.

Essa falta de premeditação me impressionou quando li o livro. Cada registro do Wilco parece ser uma grande declaração de algum tipo, mas você diz que nunca pensou assim.

Nunca tive muita fé que poderia ter algum insight suficiente ou ser inteligente o suficiente para manipular a reação do público ao que estou fazendo (risos). Não há nenhum efeito que eu mire ou atinja de forma confiável. Desde muito cedo, fiquei confiante no valor do processo, que, se você mantiver a cabeça baixa e se comprometer com um processo, confie, vai se surpreender e fazer algo que ainda não tinha, um álbum que não tivesse feito, um disco que não sabia que precisava.

Você está em seus 50 anos agora e aparentemente onde queria estar como artista. Você tem algum modelo de carreira, pessoas para as quais você olha e pensa: "É assim que quero me manter chegando aos meus 70 anos ou mais"?

Não, não realmente. Em certo sentido, eu adoraria poder fazer isso o maior tempo possível, e posso apontar para pessoas que já fizeram isso há muito tempo. Mas o Wilco parou de usar qualquer tipo de planejamento há muito tempo. Temos muitos colegas, mas acho que nenhum de nós seguiu um caminho que se assemelhasse à carreira do outro. Ao mesmo tempo, isso pode ser assustador. Mas também, é apenas uma banda de rock... Você se levanta e interpreta ou não. Não é tão complexo quanto as pessoas dizem ser. Especialmente porque não há nenhum nível de sucesso que eu esteja desesperado para manter. Estaríamos contentes se pudéssemos fazer as coisas funcionarem em qualquer nível em que pudéssemos fazê-lo.

No início dos anos 2000, você enfrentou uma luta contra o vício em opiáceos antes de receber tratamento clínico. O que pensou quando essa questão se tornou uma epidemia?

Opioides se vendem sozinhos. Fazem você se sentir ótimo. Não há mistério algum sobre por que essas drogas se tornaram muito populares. A maneira como as leis foram mudadas, no início dos anos 2000, foi parte da crise porque basicamente se passou de limitar a fabricação de opiáceos para torná-lo disponível para todos. Eu sempre compreendi que esse era o ponto de virada. Os americanos estão realmente tendo nove vezes mais dor? É por isso que estamos recebendo nove vezes mais prescrições de opiáceos? Mas agora as pessoas ficaram viciadas e, na verdade, é mais barato comprar heroína. E, como qualquer outra droga, é um sintoma de mal-estar e depressão, e há muitas pessoas desesperadas e muitas comunidades que estão enfrentando problemas horríveis. Guerra às drogas não funciona de verdade. O tratamento punitivo de criminosos não violentos não funciona. Oferecer assistência médica provavelmente resolveria, na minha opinião. Nós não temos assistência médica universal como outros países. Se houvesse leitos, muito menos pessoas morreriam. Essa é uma crise moral. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

LET'S GO (SO WE CAN GET BACK) - A MEMOIR OF RECORDING AND DISCORDING WITH WILCO, ETC.

Autor: Jeff Tweedy

Editora: Dutton (304 págs., R$ 92,82)

Estadão
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