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Madonna lança o esperado 'Madame X' buscando novos caminhos sonoros

No 14.º álbum, cantora se aproxima do funk ao lado de Anitta, flerta novamente com os ritmos latinos com o cantor colombiano Maluma e faz sua ópera sobre Joana D'Arc, representada por uma negra trans, na impactante 'Dark Ballet'

12 jun 2019 - 03h10
(atualizado às 08h49)
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Um disco de Madonna é sempre um grande acontecimento. Desde que a cantora anunciou, em 2018, que estava se dedicando a um novo trabalho, a expectativa em torno do projeto gerou curiosidade sobre os caminhos sonoros que ela seguiria. A vivência em seu então novo lar, a cidade de Lisboa, em Portugal, para onde ela se mudou com a família, influenciaria o álbum? O questionamento era legítimo. Afinal, Madonna é uma artista sempre atenta ao que está ao seu redor - e ao que diz respeito ao seu tempo hoje. E, apesar da alcunha de rainha do pop, ela nunca entrega um disco igual a seus anteriores.

Madame X, seu aguardado 14.º disco de estúdio, chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, 14. Mas Madonna já foi dando mostras de qual trilha seguiria nos singles que lançou desde abril. No total, foram cinco até agora. O primeiro foi Medellín, com participação do cantor colombiano Maluma, flertando com ritmos latinos - algo que não é novo na obra da cantora, vale lembrar. A estreia do clipe da música, dias depois da divulgação do single, lembrou o esquema de divulgação de videoclipes de anos atrás, quando as emissoras de tevê, como a MTV, tinham papel importante nessa divulgação. Medellín, o clipe, teve transmissão exclusiva na MTV, no dia 24 de abril, no programa MTV Presents Madonna Live & Exclusive: 'Medellín' Video World Premiere.

A dançante Medellín vem embalada numa atmosfera totalmente oposta à da sombria Dark Ballet, que foi divulgada na última sexta, 7. Impactante, a canção trata de temas como intolerância e fanatismo religioso. Como se fosse a ópera de Madonna sobre Joana D'Arc, que, no clipe, é representada na figura de uma negra trans. Com a personagem histórica queimada nas chamas da Inquisição, Madonna volta a criticar a Igreja Católica - aliás, sua conturbada relação com o Vaticano vem de décadas. De alguma maneira, Dark Ballet remete a Like a Prayer, um de seus mais polêmicos clipes, lançado em 1989, que trazia Jesus Cristo negro.

Com 15 faixas, Madame X, o disco, parece ser uma coleção de pequenas histórias, que são ligadas pela personagem principal, a misteriosa Madame X, novo alter ego cunhado por Madonna. "Uma agente secreta viajando ao redor do mundo, trocando sua identidade, lutando por liberdade, trazendo luz a lugares sombrios. Ela é uma professora de dança, uma chefe de Estado, uma governanta, uma prisioneira, uma estudante, uma freira, uma cantora de cabaré, uma santa e uma prostituta", a cantora descreveu assim a nova personagem, em suas redes sociais. Em Erotica, de 1992, ela já havia encarnado outro alter ego, a dominatrix Dita.

Ainda sobre o novo disco, a artista contou em outro momento, em seu Instagram, que tudo veio à tona em um bar que frequentou no tradicional bairro de Alfama, em Lisboa. "Minha inspiração para meu novo álbum nasceu aqui, em Lisboa, no Tejo Bar", escreveu. Quando frequentava o local, ela descobriu em Lisboa "um caldeirão de culturas musicais" no que foi outrora a capital de um império colonial, que incluía Brasil, Angola e Moçambique. "Propor um espaço que inspire artistas como Madonna me enche de alegria", disse, em entrevista à AFP, Mira Fragoso, uma das proprietárias brasileiras do bar, palco de encontros improváveis, como o de Madonna e o pianista brasileiro João Ventura.

Para os brasileiros, esse álbum tem um elemento especial: a parceria da popstar com a brasileira Anitta no funk português Faz Gostoso, que não entrou na lista dos singles divulgados, mas que já teve um trecho vazado na internet.

Apesar de o álbum completo só sair no dia 14, alguns jornalistas britânicos já ouviram todo o material. Ben Beaumont-Thomas, do The Guardian, classificou o álbum como "o mais bizarro" da cantora. Mas elogia a capacidade de renovação artística. "Com Madame X, Madonna, em vez de cerrar os dentes, coloca um tapa-olho incrustado de glitter, olha seriamente no espelho e diz: "Vadia, eu sou Madonna. E aproveitando a influência latina não apenas do reggaeton, mas também de sua nova base em Lisboa, ela produziu, aos 60 anos, sua mais natural, progressiva e original gravação desde Confessions (de 2005)", escreveu o crítico.

Também por causa do novo trabalho, Madonna deu entrevista recentemente ao The New York Times. Após a publicação, ela desabafou sobre a forma superficial como sua rotina foi tratada e os "intermináveis comentários" sobre sua idade "que nunca teria sido mencionada se eu fosse um homem".

O artigo foi escrito por uma jornalista. "As mulheres têm muita dificuldade de serem as defensoras de outras mulheres, mesmo que estejam se passando por feministas intelectuais. Lamento que passei 5 minutos com ela. Isso me faz sentir estuprada. E, sim, estou autorizada a usar essa analogia depois de ter sido estuprada aos 19 anos", escreveu. "Digo: morte ao patriarcado! Está emaranhada profundamente na sociedade. Eu nunca vou parar de lutar para erradicar isso!" E o disco Madame X não deixa de ser uma de suas armas de resistência.

Estadão
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