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Festival Rio Montreux cria shows e se torna respiro do jazz

Resultado de uma obsessão de 20 anos do produtor Marco Mazzola, evento mostra frescor em ano complicado para a Cultura

9 jun 2019 - 20h49
(atualizado às 21h35)
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A primeira edição de um festival de jazz negociado há quase 20 anos foi recebida com sentimentos que misturavam ansiedade, expectativa, torcida, temor. Afinal, como trazer a marca de jazz mais importante ao Brasil, o Montreux Jazz Festival, realizado desde 1967, na cidade Suíça, com a mesma excelência imprimida por Claude Nobs desde a origem até sua morte, em 2013. A Suíça faz sua 53.ª edição, entre 28 de junho e 13 de julho, e a programação é para jazzistas de coração saudável. Tem de Quincy Jones a Joan Baez, de Jacob Collier a Sting, oferecendo a receita que faz aberturas a nomes do pop que também passem por pensamentos jazzísticos em seus trabalhos.

A edição Rio, uma obsessão do produtor Marco Mazzola, tem acertado em muitos pontos, pelo que se viu nos três primeiros dias, de quinta, 6, a sábado, 8, na região portuária do Rio. E eis o primeiro acerto. Usar os armazéns 2 e 3 do porto como palcos, batizando-os de Tom Jobim e Villa-Lobos, e um palco na área externa do Pier Mauá, à beira da espetaculosa Baía de Guanabara. E três noites agradáveis de lua crescente.

Frejat e Pitty no Rio Montreux Jazz Festival 
Frejat e Pitty no Rio Montreux Jazz Festival
Foto: Marcos Hermes/Divulgação / Estadão Conteúdo

Montreux pode ter como marca, além de levar jazz ao cartão postal do País e ajudar o Rio de Janeiro a se livrar da pecha vingativa de paulistas que se referem a ele como o "túmulo do jazz", a programação. Alguns shows só aconteceram por lá, e isso ajuda a dar uma feição ao festival. Desde o primeiro dia, há preocupações com exclusividades. Maria Rita ensaiou duro com o Quarteto Tom Jobim até altas horas na semana anterior à apresentação de quinta para fazer um repertório centrado em Tom Jobim. Fez um show com momentos comoventes ao lado do pianista Daniel Jobim (neto de Tom) e do violonista Paulo Jobim (filho de Tom), mas sem citar que a mãe gravou com o próprio Tom um dia, fazendo um dos discos mais fundamentais da música brasileira, Elis e Tom, de 1974.

O guitarrista Steve Vai tocou no dia de seu aniversário e trouxe um show sempre renovado por sua própria linguagem imprevisível. Joe Satriani, outro dos maiores do instrumento, apareceu no telão para fazer com ele um duelo de solos em um momento de celebração da guitarra. Yamandú Costa, na sexta, fez também algo só visto ali, se apresentando sozinho na primeira parte e com a Camerata Jovem do Rio de Janeiro na segunda em uma noite inesquecível, sobretudo pelos momentos de parceria no palco. E fechando essa noite, depois do baixista Stanley Clark se apresentar no palco Tom Jobim cheio de carisma, o vizinho Palco Villa-Lobos, dos shows mais pop, teve o inédito encontro entre Frejat, Zeca Baleiro e Pitty, que na prática funcionou como um show de Frejat e convidados, com Pitty elevando a temperatura com sua aparição em muitos graus.

O público de sábado também ganhou presentes. O bandolinista Hamilton de Holanda fez uma primeira parte de seu show mostrando temas do disco novo Harmonize e chamou para a segunda o percussionista Paulinho da Costa, 71 anos, com toda a sua bagagem acumulada em gravações para 936 artistas no mundo. Uma pena a carreira de Paulinho ter se concentrado quase que exclusivamente nos estúdios. Quando assume o palco, ele lidera naturalmente graças a um carisma irrefreável. Hamilton, Paulinho e banda, um combo de força formado pelo baixista Thiago Espírito Santo, pelo violonista Daniel Santiago e pelo baterista Edu Ribeiro, criaram alguns dos grandes momentos do festival em uma noite que teve ainda Hermeto Pascoal no mesmo palco e Corinne Bayle Ray no encerramento fazendo o espaço se tornar balada cool pela primeira vez.

Hermeto fez uma apresentação de altíssima vibração e pressão. Seu grupo veio com sede do palco. Curioso como o fato de estarem tocando sob a marca de Montreux parece canalizar a força criativa de alguns músicos para o jazz e suas improvisações mais do que em outros concertos. Seu músico de sopros, JP Barbosa, é um dos melhores instrumentistas a pisar no festival. Outra apresentação de muita força foi a do violonista norte-americano Al Di Meola, que deixou a marca de um violão flamenco jazzista de criatividade inesgotável e uma linda versão de Because, dos Beatles. O festival segue em mais uma noite neste domingo, 9, com destaques para shows do guitarrista John Scofied e seu Combo 66 e Ivan Lins ao lado do pianista cubano Chucho Valdés e o grupo Irakêre.

Estadão
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