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'Estamos tocando melhor', diz Berna Ceppas sobre Orquestra Imperial

30 out 2012 - 15h41
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Marina Azaredo

Tudo começou como uma brincadeira em 2002, em encontros semanais na casa noturna Ballroom, no Rio de Janeiro. "Era meio como a nossa pelada de segunda-feira", conta Berna Ceppas. Agora, dez anos depois, a Orquestra Imperial, big band carioca que atualmente conta com 19 músicos, está lançando seu segundo disco, Fazendo as Pazes com o Swing. "Ao contrário do primeiro álbum, esse tem vários sambas", contou Berna, um dos fundadores da Orquestra, em entrevista ao Terra.

Ele garante que o espírito de descontração do grupo, que tem Thalma de Freitas e Nina Becker como musas e rostos mais conhecidos, continua o mesmo do início. E que esse é um dos motivos para o sucesso. "Não dá dinheiro, são 20 artistas no palco, não tem como dar grana, sabe. Então a gente faz aquilo ali porque gosta. Às vezes eu estou sem energia, cansado, achando que eu não vou aguentar, me forço, vou e aquilo surte o efeito contrário: é revigorante, revitalizante, é rejuvenescedor. Rola feng shui humano ali no palco, um empresta pro outro e rola uma sinestesia", explica.

Para Berna, o álbum novo, uma homenagem a Nelson Jacobina, que morreu de câncer este ano, é melhor do que o anterior, Carnaval só no Ano que Vem. "É mais maduro, as composições estão melhores, o pessoal está tocando melhor", justifica. E os planos para os próximos dez anos? "A gente não tem plano nenhum. É um dia depois do outro, provavelmente com uma artritezinha, uma gota", brinca o músico, responsável pelos sintetizadores e pela percussão.

Confira a seguir a entrevista.

O que mudou nesses dez anos de Orquestra Imperial?

Muito pouca coisa, só alguns integrantes, mas o espírito é o mesmo. E, claro, a gente se conhece mais, já fez muito show junto...

Qual é o espírito da Orquestra Imperial?

O Seu Jorge uma vez definiu muito bem: "é a nossa pelada de segunda-feira". A gente está ali só para se divertir, e todo esse descompromisso faz com que a gente tenha uma leveza, um frescor, uma vitalidade, uma liberdade que é difícil de alcançar. Porque aquilo é o plano B de todo mundo, ninguém faz aquilo por dinheiro. Fazemos por prazer e eu acho que isso é um ponto chave.

Por que só agora sai o segundo álbum?

A gente criou a banda em 2002 e o primeiro CD é de 2007. A entrada do seu Wilson foi muito determinante. Ele legitimou a coisa - a gente olhou pro lado e pensou "o abominável Wilson das Neves está aqui" -, porque não é pouca coisa, o cara é uma lenda viva, aí ele começou a distribuir melodias pra todo mundo, pra fazer parcerias, o que é uma prática dele. E, com isso, aflorou uma coisa que já estava latente, pelo convívio na época já extenso, de cinco anos, de uma porção de compositores misturados. Ele foi o estopim. E, com essa primeira safra de músicas estimuladas por ele, veio o primeiro disco. Depois um tempo se passou, para fermentar, organizar, demorou o que demorou e, no final do ano passado, pensamos "pô, tá na hora de um disco novo, né". E o problema da gente nunca é muito música, é muito mais armar o circo, o esquema, parar a vida de 20 pessoas com o tempo necessário para que aquilo seja feito, isso que é a parte difícil. Na hora de escolher as músicas, o que fica complicado não é a qualidade delas, é que tem que distribuir entre cantores, não pode ter muita música no masculino, senão as meninas ficam sem música. Enfim, os problemas são muito mais pelo excesso do que pela carência.

O CD tem faixas bem diferentes como Cair na Folia e Enquanto a Gente Namora. Essa falta de unidade foi intencional?

Na verdade, tem duas músicas no disco que são de outra ordem, que são Cair na Folia e Mocotó em Tijuana, que é uma música instrumental que fecha o disco. As duas pareciam adequadas para fechar, mas não dava para as duas fecharem. Então escolhemos Mocotó, e Cair na Folia ficou como uma quebra no meio do disco, com uma retomada na sequência. Mas eu não vejo isso como uma falta de unidade, na verdade. É porque essa música é uma música do Tio Paulinho, que é o tio do Duani, que é um taxista que fica dirigindo e compondo. Quando ele apresentou essa música, a gente ficou de queixo caído. A gente pensou "caramba, ela parece um clássico ululante", e aí resolvemos gravar e achamos que esse era o lugar adequado pra ter essa quebra no disco e depois uma retomada para o final.

Por que o nome Fazendo as Pazes com o Swing?

Foi o Leo Monteiro, que faz a percussão eletrônica. Ele também batizou o outro disco, que é Carnaval Só no Ano que Vem. Tudo começou lá no início da Orquestra. Ele, um pouco desavisado no primeiro ensaio, ensaiando a quarta música, virou e perguntou "vem cá, a gente não vai trocar o ritmo, não?". Aí, quando chegou na época do disco, ele já tinha entendido que a gente estava tocando praticamente samba, mas não tinha quase samba no disco. Então ele disse "pô, bicho, Carnaval só no ano que vem, hein". Isso acabou virando o nome do disco. Mas o novo disco tem vários sambas. E ele foi e soltou de novo "pô, fazendo as pazes com o swing, hein, bicho". E aí a gente decidiu que esse seria o nome. Isso mostra bem essa leveza de espírito. Não é galhofa, é só humor mesmo, uma leveza.

O álbum é uma homenagem a Nelson Jacobina. O que ele significava para a Orquestra Imperial?

Muito da Orquestra nasceu do convívio com ele. O Nelson sabia de samba pra caramba, era uma biblioteca. E aí a gente resolveu formar a Orquestra por conta desse convívio com ele. E O Nelson era uma pessoa encantadora. Jamais conheci alguém como ele. Eu costumo falar que ele mudou meus padrões de conduta. Tivemos uma certa pressa na hora da finalização do disco e não estávamos muito satisfeitos, a capa não tinha chegado no lugar ainda. Íamos colocar uma das fotos do Rival, com todo mundo, que tinha o Nelson também (nessa época, ele já tinha falecido). Aí eu me lembrei da foto que virou a capa, que é de uma amiga minha. Ela fotografou um show em que estava todo mundo com uma maquiagem meio Kiss. Liguei pra ela, consegui a foto. E o disco, que já estava sendo uma homenagem ao Nelson, ganhou essa capa. E ele ainda teve uma saúde extra curricular pra fazer o disco com a gente, porque disseram que era pra ele ter partido um ano e meio antes. Mas, como era praticante de tai chi há muito tempo, ele não reclamava. Nos shows, você via que ele estava cansado, mas chegava no final e ele dizia "pô, o show foi bom, né". Era realmente um cara muito elevado, muito acima da média.

Vocês já tocaram bastante no exterior. Têm planos de voltar a fazer shows lá fora?

Sim, a gente vai tocar agora em dezembro no Carnegie Hall, em Nova York, encerrando um festival latinoamericano. Mas por enquanto só isso. Às vezes o fato de nós sermos muitos, com todas essas crises que assolam o planeta agora, dificulta a viabilização dessas viagens intercontinentais de 30 pessoas. Mas, com o disco novo, ano que vem a gente deve fazer alguma coisa.

Você prefere tocar em lugares menores ou em grandes festivais?

Cada um tem o seu apelo. E o apelo nem sempre é em cima do palco. É o conjunto da obra, é a viagem, é a cidadezinha na Suíça, é o fato de estar tocando no Barbican, em Londres. Mas acho que nada vai ser mais bacana do que o começo da Orquestra no Ballroom, porque tinha não só o espírito da casa e o espírito da banda naquela época, como a residência semanal. Era a nossa pelada mesmo, ver as pessoas dançando, aquilo era muito gostoso. Outro dia a gente foi fazer um show de lançamento do CD nos Sesc Madureira e foi muito bacana. As pessoas certamente não conheciam a gente. Eram coroinhas de Madureira, mas que têm o hábito de dançar. Eles saem para dançar. Uns dias antes, ficou circulando por Madureira um carro de som anunciando que haveria esse show. E isso levou as pessoas a irem lá dançar. Foi tão alegre, tão bacana. Porque começou assim. No Ballroom não era necessariamente um show para as pessoas irem assistir e cantar junto, era para dançar.

Ao longo desses dez anos, vocês já tocaram com diversos convidados. Com quem ainda não tocaram que gostariam de tocar?

Jorge Ben. Ele é o máximo. Também com João Gilberto, Roberto Carlos. Porque com o Erasmo a gente já tocou, com a Ivete a gente já tocou, com o Melodia também. Com a Rita Lee a gente também nunca tocou e ia ser muito bacana. Tem uma lista, mas já realizamos vários sonhos. Esses são só alguns pendentes.

Você já disse mais de uma vez que "não sabe o que fez de tão errado para ter dado tão certo". Depois de dez anos, o sucesso ainda te surpreende?

Sim. Mas o que mais me surpreende é que continua sendo muito bom, não tem nada ali protocolar. E não dá dinheiro. São 20 artistas no palco, não tem como dar grana, sabe. Então a gente faz aquilo ali porque gosta. Às vezes eu estou sem energia, cansado, achando que eu não vou aguentar, me forço, vou e aquilo surte o efeito contrário: é revigorante, revitalizante, é rejuvenescedor. Tem feng shui humano ali no palco, um empresta pro outro e rola uma sinestesia.

Vocês se consideram uma influência para a nova geração?

Eu acho que nós fomos os primeiros a mostrar que essa coletividade poderia dar certo. Quando começou, nós éramos 14, já chegamos a 20, hoje estamos em 19. Acho que a gente influencia nesse sentido, de mostrar que um coletivo de pessoas consegue fazer uma coisa bacana junto. Depois começaram a aparecer várias orquestras, muitas utilizando a palavra orquestra no nome. Tem um pioneirismo aí, mas acho que é um negócio que está no inconsciente coletivo. É toda uma confluência de atmosfera empurrando as pessoas para isso. Nós só fomos os primeiros a fazer.

Foi um pioneirismo trazer de volta uma sonoridade do passado?

Eu lembro que na época que a gente começou tinha um movimento forte de resgate ao forró, com o qual não temos nenhuma intimidade, embora sejamos apreciadores, espectadores. Então eu acho que sempre teve, de tempos em tempos, uma operação resgate. Acho que isso é latente, pertence ao DNA cultural da gente. Está um pouquinho adormecido, alguém vai lá e acende aquela fogueira de novo. Acho bacana a gente ter feito isso, mas ao mesmo tempo tinha um grupo de chorões aqui no Rio que estava fazendo a mesma coisa ali no Semente, estava tocando chorinho num barzinho ali da Lapa, quando a Lapa nem era o que é hoje. Acho que isso é um movimento natural das gerações, e a gente fez também.

Quais são os planos para os próximos dez anos da Orquestra Imperial?

A gente não tem plano nenhum. É um dia depois do outro, provavelmente com uma artritezinha, uma gota (risos). Tô brincando. Uma coisa que eu acho bem mais legal nesse disco é que amadurecemos, nos sofisticamos. Eu acho esse disco mais legal do que o outro. É mais maduro, as composições estão melhores, o pessoal está tocando melhor. Eu espero que a gente continue assim, andando pra frente, se renovando e se sofisticando.

A big band atualmente tem 19 integrantes
A big band atualmente tem 19 integrantes
Foto: Caroline Bittenourt / Divulgação
Fonte: Terra
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