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Crítica: O maravilhoso presépio musical de Bach

A apresentação foi nesta terça, 11, na Sala São Paulo, com os Músicos de Capella, liderados por Luís Otávio Santos

12 dez 2018 - 17h41
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Bach compunha todo final de ano, em seus 27 anos de trabalho em Leipzig, cantatas para o período natalino. Por que apenas em 1734 decidiu-se por um oratório em seis partes e duas horas e meia de duração a ser apresentado nas duas igrejas da cidade - São Nicolau e São Tomás - durante os treze dias de festas entre 25 de dezembro e 6 de janeiro de 1735? As seis partes - de fato, cantatas -- foram executadas em seis dias diferentes. Poucos fieis ouviram o oratório na íntegra, como nós o fazemos hoje em dia. Mas ele tem uma unidade muito clara, não estamos diante de seis cantatas diferentes entre si (a sucessão das tonalidades, por exemplo, comprova sua intenção orgânica).

Por isso, faz todo sentido a opção de Luís Otávio Santos, que dirigiu do violino barroco seus Músicos de Capella em três partes na terça-feira (11), na Sala São Paulo. Pela ordem, o público compartilhou a primeira, para o Dia de Natal, "Louvem, exultem, ó, povos da Terra!"; a quinta, para 2 de janeiro, "Que a honra, ó Deus, seja cantada a Ti"; e a terceira, para 27 de dezembro, "Regente dos céus, nossas débeis vozes ouvi".

Ao contrário da teatralidade das Paixões, aqui estamos, como escreve Luís Otávio no texto do programa, diante de "um gigante presépio musical, estático, belo e feito para durar". Mesmo assim, há um toque cênico por causa das intervenções do Evangelista (performance estupenda do tenor chileno Rodrigo del Pozo, como na Paixão Sâo João, meses atrás).

A primeira - com direito a flautas, oboés, oboés d'amore, trompetes e timbales - narra o recenseamento em Belém e o nascimento de Jesus. A quinta fala da chegada dos reis magos para celebrar o nascimento do Cristo (com apenas dois oboés e cordas). E a terceira evoca a adoração dos pastores (retorna a opulenta orquestração da primeira parte, assim como a tonalidade, ré maior).

Palmas para a iniciativa da Sociedade de Cultura Artística em introduzir no calendário da vida musical de São Paulo a execução de obras como a Paixão Segundo São João em março passado e deste Oratório de Natal, na época em que se comemoram estes acontecimentos - e com a melhor música do mundo, a de Bach. Sem esquecer, claro, o formidável concerto da Camerata Aberta com o Quarteto Modigliani em outubro passado.

Parabéns à coragem de Luís Otávio Santos de responder com qualidade a este desafio. Ele é um músico de exceção, diferenciado ao violino barroco e na direção de obras do século 18 europeu e do período colonial brasileiro.

Em geral, a performance dos Músicos de Capella foi muito boa. Os solistas vocais também aproveitaram seus momentos de destaque com competência (casos de Marília Vargas e Marcelo Coutinho). Infelizmente, e como já havia ocorrido no concerto de março, o contratenor Pedro Couri Neto contrastou negativamente com o restante dos músicos e cantores.

Estadão
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