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Concerto na Sala São Paulo propõe uma viagem ao século 18

Les Violons du Roy faz apresenta trabalho dedicado ao barroco com a soprano sensação Julia Lezhneva

11 jun 2018 - 06h04
(atualizado às 11h28)
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O palco, os músicos, o público, todos pertencem ao século 21. Mas Matthieu Lussier, regente do grupo Les Violons du Roy, prepara-se para, nesta segunda-feira, 11, na Sala São Paulo, uma viagem em direção ao século 18. "É essa a graça dessa música. O fato de que, ainda que faça parte de uma época específica, o período barroco, não precisamos nos despir daquilo que somos para compreendê-la. Pelo contrário, ela é capaz de falar com a nossa sensibilidade assim como ela é hoje. E isso é fascinante", diz.

Maestro e músicos canadenses desembarcam nesta segunda em São Paulo para se apresentar pela temporada da Cultura Artística. O concerto evoca a velha história da boa e da má notícia. A má é que, na semana passada, a mezzo soprano checa Magdalena Kozená, estrela do canto lírico internacional, cancelou sua participação na apresentação, alegando motivos familiares. A boa? No seu lugar, canta a soprano russa Julia Lezhneva, que, aos 28 anos, tem conquistado os principais palcos do mundo.

O repertório da apresentação, que antes seria composto apenas de Händel, sofreu algumas alterações. O compositor segue predominante, com concertos e árias de óperas, mas agora está presente também Vivaldi - contribuição de Lezhneva, que, em um de seus principais CDs, une a obra dos dois compositores.

"Para mim, o fascinante é encontrar formas de diálogo entre autores e foi o que buscamos fazer entre Händel e Vivaldi", disse ela, em uma entrevista recente à Classic FM, na qual falou também sobre o seu fascínio pelo repertório barroco. "Nele você tem a chance de se colocar, a sua sensibilidade, quero dizer, de uma maneira mais presente na interpretação."

Lussier concorda. "No barroco, você tem as notas, mas faltam muitas indicações na partitura a respeito da maneira como elas devem ser tocadas, o que exige muita pesquisa, estudo, mas também este senso de liberdade", afirma. "O período barroco foi um momento teatral, no qual o importante era provocar reações intensas na plateia, tratando de temas como amor, traição, claro, mas fazendo isso por meio de grandes contrastes na música. Se olhamos no dicionário, o termo barroco quer dizer bizarro, estranho. Mas não é disso que se trata mas, sim, de colocar acima de tudo a capacidade de sentir, de se impactar, e é por isso que essa música é atemporal."

Simplicidade inimitável. Para o maestro, também é interessante a chance de colocar Händel e Vivaldi lado a lado. "A história criou imagens muito diferentes para eles. Händel foi um mestre da voz. E sua capacidade de, ao escrever para um cantor, retratar todas as emoções humanas, segue impressionante. Vivaldi, por sua vez, é retratado como o padre ensinando música em Veneza, formando virtuoses do violino. Mas, quando você olha a fundo, descobre a mesma intensidade, a mesma violência teatral nos contrastes. É uma música que soa simples, mas que todos que tentaram imitar não conseguiram."

Soprano lança novo álbum dedicado a Vivaldi

Desde o momento em que surgiu para o mundo da música, ao fazer sua estreia no Festival de Salzburgo, em 2010, a soprano Julia Lezhneva, que foi durante anos protegida de Kiri Te Kanawa, conseguiu um feito cada vez mais raro no mundo da internet: fechou um contrato de exclusividade com o selo Decca, pelo qual acaba de lançar um CD com o Gloria, de Vivaldi, ao lado de Franco Fagioli e Diego Fasolis.

O álbum se soma a uma discografia já impressionante, na qual se destacam Alleluia, no qual une Händel, Vivaldi, Porpora e Mozart; o álbum com peças de Rossini, Vivaldi e Bach; ou a redescoberta de um compositor como Carl Heinrich Graun. Com toda uma carreira ainda pela frente, ela já impressiona pela escolha de repertório (e os diálogos que sugere), mas em especial pela versatilidade de uma intérprete que do virtuosismo mais diabólico é capaz de nos levar em direção ao lirismo mais tocante.

LES VIOLONS DU ROY

Hoje, 21 horas. Sala São Paulo. Pça. Julio Prestes, nº 16;

Telefone (11) 3256-0223.

De R$ 75 a R$ 600.

Estadão
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