Nelson Rodrigues:
da infância à morte
Nelson Rodrigues foi o mais revolucionário personagem do teatro brasileiro, transformando radicalmente a história da dramaturgia do País. Ele nasceu no Recife, em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro que depois seria absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. No futuro, a realidade da Zona Norte carioca, com suas tensões morais e sociais, serviria como fonte de inspiração para Nelson construir personagens memoráveis e histórias carregadas de lirismo trágico.
Começou a escrever aos 13 anos, quando ingressou na carreira de jornalista, trabalhando como repórter policial em A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai, Mário Rodrigues. Dali em diante, passou por várias redações. Em 1929, uma tragédia marcou a sua vida. Na época, ele trabalhava em A Crítica, também fundado por seu pai. Em dezembro daquele ano, o jornal trouxe o relato da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Ilustrada por um dos irmãos de Nelson, Roberto, e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sylvia, a esposa que se separara do marido e cujo nome fora exposto na reportagem, invadiu a redação do jornal e atirou em Roberto. Nelson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois. Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, morreu poucos meses depois. O jornal acabou sendo fechado durante a Revolição de 30 e a família passou a ter uma série de problemas financeiros.
Em 1940, Nelson casou-se com Elza Bretanha, sua colega na redação de O Globo na época. Em 1941, ele escreveu sua primeira peça, A Mulher Sem Pecado, que escandalizou o público e a imprensa da época. Já em 1943, veio a consagração no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça, Vestido de Noiva, revolucionava a maneira de se fazer teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de Família, de 1946, que trata de incesto, foi censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Dali em diante, sua obra despertaria as mais variadas reações, nunca a indiferença.
Lado a lado com o teatro, ele manteve o trabalho como jornalista. Dentre seus textos propriamente jornalísticos, destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que empregou toda sua veia dramática, transformando partidas em batalhas épicas e jogadores, em heróis. Era um torcedor fanático do Fluminense. Trabalhou nos mais diversos jornais e revistas, assinando artigos e crônicas, como a popular e discutida coluna A Vida Como Ela É….
Nos anos 70, já consagrado como jornalista e teatrólogo, Nelson começou a ter problemas gastroenteorológicos e cardíacos. O período coincidiu com os anos da ditadura militar, que ele sempre apoiou. Apesar disso, seu filho Nelson Rodrigues Filho tornou-se guerrilheiro e passou para a clandestinidade. Nesse período também aconteceu o fim de seu casamento com Elza e o início do relacionamento com Lúcia Cruz Lima. Depois ele acabaria reatando o casamento com Elza.
A última peça de Nelson Rodrigues, A Serpente, foi escrita em 1978. O texto ficou por um tempo com o rótulo de "maldito", superstição conhecida dentro da classe teatral, tendo, no mínimo, três expectativas de montagem frustradas. O espetáculo acabou por estrear somente em 1980. Nelson morreu em dezembro daquele ano, aos 68 anos de idade, de complicações cardíacas e respiratórias. Foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Ao todo, Nelson escreveu 17 peças, centenas de contos e nove romances. Entre as peças, destacam-se ainda A Falecida (1953), Os Sete Gatinhos (1958), Boca de Ouro (1959), Beijo no Asfalto (1960) e Toda Nudez Será Castigada (1965).
foto: Futura Press