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Haruki Murakami publica nova coletânea de contos

'First Person Singular' traz narrativas em primeira pessoa na perspectiva de um indivíduo anônimo, obcecado por beisebol, música, e as fronteiras porosas entre memória, realidade e sonhos

7 abr 2021 - 10h10
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Haruki Murakami publicará uma nova coleção de histórias narradas em primeira pessoa por um indivíduo anônimo, obcecado por beisebol, música, e as fronteiras porosas entre memória, realidade e sonhos.

Ele se descreve como "uma pessoa insípida, comum, como na história intitulada Cream, sobre o encontro de um jovem com um místico idoso. Mas Murakami se assemelha mais a uma biblioteca ambulante que tem um problema com mulheres - principalmente, o fato de não conseguir ir mais além da aparência delas.

Assim, em On a Stone Pillow, ele narra as memórias de um poeta melancólico e aquela mulher de "seios redondos"; em With the Beatles, ele lembra uma primeira namorada "com lábios pequenos, mas carnudos" e um sutiã com aro (ambas, a propósito, são suicidas).

Em Carnaval, a única história em que a mulher de fato intervém, ele fala repetidamente como ela é feia.

A melhor história dessa coleção, traduzida do japonês por Philip Gabriel, é Charlie Parker plays Bossa Nova. Ela gira em torno da premissa contrafactual de que o lendário criador do Bebop não morreu em 1955 aos 34 anos de idade, mas viveu até os anos 1960, tempo suficiente para colaborar num álbum de bossa nova - uma associação tão improvável como a dos Carpenters e Cardi B.

No final da história, quando Bird surge num sonho e toca a música Corcovado com seu sax alto, o narrador é transportado. É uma música, reflete, "que faz você se sentir como se algo na estrutura do seu corpo tivesse sido reconfigurado, mesmo que ligeiramente".

Em Confessions of a Shinagawa Monkey, um narrador desconhecido também sem nenhuma expressão emocional como todos os outros se torna amigo do macaco do título numa pousada no campo.

Numa longa noite bebendo cerveja e comendo petiscos, outro passatempo favorito desses homens solitários, o macaco conta a ele seu estratagema para satisfazer seu desejo por mulheres humanas de uma maneira apropriada à espécie.

De início você é carregado nesse turbilhão de detalhes bizarros, mas plausíveis - uma façanha que Murakami consegue usando uma linguagem banal, talvez até estereotipada. "Honestamente parece estranho estar sentado ao lado de um macaco compartilhando uma cerveja, mas acho que você se acostuma com isso".

Mas se você não é um fã da vibe sonhadora e do realismo mágico de Murakami, se acha que a vida sempre causa surpresas e é interessante o bastante sem necessidade de adicionar um "pó de fada", então este provavelmente não é o livro para você.

Você vai se perguntar: por que um macaco Shinagawa e não um tigre ou um leopardo? No mundo de Murakami a resposta é: E por que não? / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Estadão
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