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Google aposta em inclusão em nova fase de programa para mulheres

O Womenwill, iniciativa global cujo objetivo é promover o desenvolvimento de mulheres, realizou em São Paulo sua 1ª turma para mulheres transexuais e travestis

31 jul 2018 - 18h53
(atualizado em 1/8/2018 às 12h20)
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Maitê Schneider, do Transempregos, durante edição do Womenwill para mulheres transexuais e travestis. 
Maitê Schneider, do Transempregos, durante edição do Womenwill para mulheres transexuais e travestis.
Foto: Rebeca Ribeiro/Google/Divulgação / Estadão

No bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, uma plateia repleta de mulheres transexuais e travestis de diversas idades, tipo físico, estilos e talentos ouvia atentamente ensinamentos sobre liderança, comunicação, networking e autoconhecimento numa sala de poltronas coloridas: nos dias 30 e 31 de julho, foi realizada a primeira turma do mundo do Womenwill, iniciativa global do Google cujo objetivo é promover o desenvolvimento de mulheres, focada no 'T' do LGBT.

As 16 horas de aula ocorreram no Campus São Paulo e foram fruto de uma parceria entre Google, Transempregos, que conecta mulheres trans em busca de emprego a empresas que estão contratando, e a Rede Mulher Empreendedora. O Womenwill é realizado mensalmente na capital paulista, gratuito e aberto a todas as mulheres, entretanto, a turma especial veio para mostrar que é direito das mulheres transexuais e travestis participar também.

"Nós queremos que o programa de mulheres seja inclusivo, então a gente começou a entender que, nas turmas convencionais vinham mulheres, mas não mulheres trans ou com deficiências físicas, porque a gente entende que talvez essas mulheres nem achem que esses programas são para elas", explica Maria Helena Marinho, gerente de marketing insights do Google.

Essa foi a primeira de uma série de turmas especiais que farão parte da programação do Womenwill no decorrer do segundo semestre deste ano - as próximas serão dedicadas a mulheres com deficiências físicas, mulheres mais velhas e negras. "A ideia é ter as turmas especiais e, a partir disso, convidar as participantes para as turmas convencionais mensais, ao mesmo tempo continuar com as turmas especiais, que são importantes e têm sim suas especificidades. As mulheres trans, por exemplo, têm vários temas que são muito específicos delas", opina Maria.

Maitê Schneider, uma das fundadoras do Transempregos, acredita que é essencial ter esse tipo de ação voltada às trans, justamente porque é mais difícil para elas o acesso à educação e mercado de trabalho. Para se ter uma ideia do nível de marginalização de transexuais no Brasil, estima-se que 90% dessa população já tenha trabalhado com prostituição, de acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Uma vez por mês, é realizada uma edição do Womenwill em São Paulo. As aulas são gratuitas e abertas para todas as mulheres interessadas,
Uma vez por mês, é realizada uma edição do Womenwill em São Paulo. As aulas são gratuitas e abertas para todas as mulheres interessadas,
Foto: Rebeca Ribeiro/Google/Divulgação / Estadão

"Em algumas palestras das turmas convencionais, é comum que a palestrante pergunte: 'Quantas mulheres aqui são mães?'. Entretanto, no caso das transexuais e travestis, há poucas mães, então exemplos citando a maternidade não caberiam", disse, explicando que a dinâmica das aulas é diferente. "Se, por exemplo, a palestrante fala: 'Hoje vou te ensinar como se vender', em uma sala com trans, onde muitas trabalham ou já trabalharam com prosituição, vai rolar risada, soa diferente. Numa turma convencional, isso não seria motivo de riso", exemplifica Maitê sobre as especificidades do público.

O Womenwill começou na Ásia e o Brasil foi o quinto país do mundo a receber a iniciativa, desde o fim do ano passado, começando com ações nas comunidades de Brasilândia (zona norte) e Paraisópolis (zona sul). "A gente aprendeu, nessas comunidades, que obviamente a questão do marketing digital e das ferramentas do Google são importantes, mas entendemos que precisávamos empoderar essas mulheres psicologicamente, porque elas estavam sensibilizadas na questão psicológica".

Após os dois dias de aula, que ensinaram desde habilidades de comunicação, autoconhecimento, como usar as redes sociais para procurar empregos e divulgar serviços e produtos e sobre a importância de manter uma rede profissional atualizada, além de ensinar a usar as ferramentas do Google, Maitê se diz realizada. A ideia é que, daqui para frente, as transexuais e travestis se sintam bem-vindas para participar das turmas convencionais.

"Foi emocionante, já chorei tudo o que tinha de chorar. Foi empoderador. É pouco tempo, mas você encontrar essa possibilidade de fazer esse curso, que talvez pode ser uma ponte para quem tá empreendendo, procurando emprego, e poder ser agente disso", comentou Maitê. "Muitas delas usaram o espaço para falar, porque elas tiveram suas histórias caçadas e violentadas, não só pelo mercado de trabalho, mas pela vida, pelo colégio, pela família. Vi muita gente querendo falar de suas histórias, e o que fazer com isso para se empoderar", diz.

Estadão
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