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A tal “dependência de games” é um show de desinformação

E aí, responda na lata: existe dependência em games? Tudo que é demais acaba sobrando ― inclusive a falta de informação. Entenda.

25 jun 2018 - 08h11
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Será que alguém pode realmente se tornar dependente em games a ponto de prejudicar sua vida pessoal? A OMS (Organização Mundial de Saúde) acredita que sim, após incluir a obsessão por videogames como um transtorno mental em sua nova lista da CID – Classificação Internacional de Doenças –, mais precisamente na CID-11.

O argumento da OMS é que o uso exagerado de videogames e outras plataformas de jogos poderia levar a uma série de sintomas de vício com a tecnologia. Tal conjunto é o que a Organização quer classificar como “gaming disorder”. A OMS, contudo, não detalha quantitativamente isso.

Jogar aproxima as pessoas, inclusive pais e filhos
Jogar aproxima as pessoas, inclusive pais e filhos
Foto: Sean Dreilinger / Visualhunt.com / CC BY-NC-SA

Apesar da entidade considerar esse transtorno uma realidade, vários especialistas discordam, inclusive a APA – American Psychological Association (Associação Americana de Psiquiatria) – que, através de um comunicado, disse não "possuir evidências suficientes" para considerar o vício por jogos um transtorno mental.

"Estamos falando de todas as pessoas que jogam videogames, mas apenas uma pequena parcela dessas pessoas vão desenvolver essa síndrome", afirma Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS.

Beto Vides, sócio da agência de e-sports eBrainz, acredita que “com falta de sólidas informações ou indefinições em jogo, declarações como essa possuem um impacto negativo para o cenário de games e e-sports no mundo inteiro”. E é justamente um cenário este que vem se consolidando a passos largos.

Dependências existem e sempre precisam ser tratadas. Porém, neste caso, a informação não é divulgada como deveria. Basta dizer que o número de pessoas que passam por esse tipo de transtorno é mínimo, segundo o próprio Jasarevic.

Sob o prisma da pesquisa, qualquer coisa vira "doença"... Qualquer coisa mesmo!
Sob o prisma da pesquisa, qualquer coisa vira "doença"... Qualquer coisa mesmo!
Foto: Patrick Brosset / VisualHunt.com / CC BY-NC

A APA publicou um artigo em maio de 2017, no qual afirma que o número de pessoas potencialmente qualificadas a serem diagnosticadas com transtornos parecidos com os da classificacão da OMS está entre 0.3 a 1% de toda a população que joga games.

"O processo da OMS carece de transparência, é profundamente defeituoso e precisa de apoio científico", disse Michael Gallagher, presidente e CEO da Entertainment Software Association (ESA), em carta aberta março de 2018. E, após a divulgação da decisão da Organização, a ESA reforçou sua posição contrária sobre o assunto em sua conta oficial no Twitter.

Apesar disso, diversos veículos que publicaram matérias a respeito do acontecimento não citaram essa informação que, como percebemos, é um detalhe importantíssimo quando se trata de um impacto social dessa importância.

"Eu não acho que é uma boa ideia ir para esse caminho. Isso abre uma porta para que qualquer coisa se torner uma doença. Qualquer coisa mesmo, como assistir muito futebol na TV, por exemplo", alertou Anthony Bean, psicólogo e diretor executivo da Telos Project, clínica de saúde mental sem fins lucrativos.

“Precisamos sempre buscar e disseminar a informação completa, pois isso nos ajuda a identificar e apoiar as pessoas que realmente enfrentam distúrbios e transtornos nocivos ao seu estilo de vida”, defendeu Raiff Chaves, sócio da eBrainz. “Precisamos mostrar para todos que games nos ajudam a desenvolver as regiões do cérebro responsáveis pela navegação espacial, formação de memória, habilidades motoras e até planejamento estratégico, além de serem uma plataforma para diversão, entretenimento e, até mesmo, meio de vida profissional”.

[Jeancarlos Mota é jornalista da eBrainz, agência especializada em e-sports.]

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