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'Não dá trabalho fazer as pessoas sorrirem', diz dublador de Mario

Um dos principais destaques da Brasil Game Show deste ano, Charles Martinet conta mais sobre como é ser a voz (e a alma) do encanador que dá símbolo à Nintendo

12 out 2018 - 10h56
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Desde o primeiro instante em que Charles Martinet entra na sala, é possível sentir uma energia diferente - quase como se estivéssemos sendo transportados para o Reino do Cogumelo. Antes mesmo que a reportagem do Estado consiga fazer sua primeira pergunta, ele já está saudando os fãs brasileiros e repetindo a voz, como se fosse a primeira vez, de seu maior papel: o encanador bigodudo Mario. Desde 1990, é ele quem pode dizer, com propriedade, "It's-a-me, Mario!", maior bordão do personagem da Nintendo.

De lá para cá, Martinet tem feito duas coisas: incorporado o personagem e seus amigos (ele também é o responsável por dublar Luigi, Wario e Waluigi) em dezenas de jogos e viajado pelo mundo para divulgar a palavra da Nintendo. Ah, e fazer pessoas sorrirem. "Eu não me canso de dizer as frases do Mario. Só preciso dizer 'woohoo' pra todo mundo virar criança. Não é muito trabalho, né", diz Martinet, que terá sessões para fotos e autógrafos na Brasil Game Show e vai ser um dos jurados da Cosplay Zone.

Além de fazer a alegria dos fãs, Martinet também está interessado, em sua primeira visita ao Brasil, em conhecer mais da culinária brasileira - no lugar da pizza e da lasanha de Mario, entram feijoada, churrasco e coxinha. "Eu gosto de comer e gosto de viajar", diz ele. Na entrevista ao Estado, o dublador de 63 anos fala sobre como começou sua história com Mario e conta qual é o seu jogo favorito do personagem. "Ele me faz sonhar que sou Mario e estou voando por aí".

A primeira pergunta que eu gostaria de fazer é...

(interrompe). Antes de começar, me deixe dizer umas palavras. "It's-a-me, Mario. Woohoo! Mamma Mia! You number one, iahul!"

Quantas vezes o senhor diz isso num evento?

Eu faço isso todos os dias, estando com outras pessoas ou não. Eu amo esse personagem tanto que eu adoro fazer isso. Não me canso, porque as pessoas sorriem toda vez que eu faço isso. Só preciso dizer "woohoo!" para que um sorriso de criança apareça na cara de qualquer pessoa. Não dá muito trabalho, né?

Como o sr. se envolveu com Mario?

Eu era um ator. Estava na praia, fazendo o que atores fazem: esperando o telefone tocar em busca do próximo trabalho. Era 1990, outubro, mais ou menos. Eu estava na Califórnia e aí meu pager tocou. Meu agente disse que eu não podia perder esse papel - e eu disse que não faria isso, eu sou um ator profissional, ora essa. Fui para a entrevista e peguei o produtor praticamente saindo do prédio. Ele me pediu para entrar e disse: você é um encanador italiano do Brooklyn, é para uma empresa chamada Nintendo e esse personagem se chama Mario. Eu não sabia nada de videogames na época, para mim era só Pong ou Pac-Man. Ele me disse para começar a falar e não parar até a fita acabar ou você não ter mais o que dizer. Pensei em fazer um cara mais bronco, brutamontes, mas isso não ia funcionar. Seria meio malvado. Então pensei em um cara italiano mais fofo. Eu só falei de comida porque né (segura a barriga), eu gosto de comida. "Ei, eu sou Mario, vamos fazer uma pizza juntos, eu pego a linguiça e você pega o queijo"... achei que o cara fosse pedir para eu parar, mas ele não falou nada. E de repente eu estou falando de lasanhas, tortelinis e todo tipo de massa que eu consegui lembrar até a fita acabar. Achei que era o fim, mas foi só o começo de uma jornada de 30 anos. Eu sou um dos caras mais sortudos do mundo, porque amo fazer a voz desse personagem, e também de Wario, Waluigi, Luigi, Baby Mario. Eu faço a voz e viajo pelo mundo conhecendo fãs que amam o personagem. Aos 20 anos, eu não sabia o que eu queria fazer, mas queria ser feliz. E hoje eu sou feliz porque faço os outros sorrirem.

Qual é a diferença de Mario, Wario, Waluigi ou Luigi?

Eles são parecidos, mas eu os pinto com pinceladas muito fortes, de forma que eles são diferentes. E de certa forma, eu sou um pouco dos quatro. Ainda estou refinando o que faço com eles, porque tudo tem de ser real. Mario é cheio de alegria, amor, lealdade e paixão.

Ele é como Mickey!

Ele é o que eu quiser que ele seja, hehe. Mas eu sou mais Luigi, um pouco nervoso por tentar coisas novas, um pouco com medo das coisas. Amo Luigi, é um personagem real. Às vezes sou Wario e Waluigi, também, tento interpretar a todos eles de forma divertida e meio boba. A Nintendo é ótima para mim: eles inventam personagens novos, é uma grande diversão. Eu faço um pedaço muito pequeno: trabalho algumas horas enquanto as pessoas trabalham anos para criar essas experiências incríveis. O Cappy, a boina de Super Mario Odyssey, é algo que você nunca pensaria, mas que, no instante que você vê, faz todo o sentido do mundo.

Qual é a diferença de gravar Mario hoje ou nos anos 1990?

Não muda nada para mim, eu sou só um dublador! Eu só trago minha alegria para o jogo e vou lá gravar vozes. É como se eles dissessem que tem uma caixa de areia pronta, com baldinhos e pás, e eu só tivesse de ir lá brincar. Eu só preciso ser uma criança.

Qual é seu jogo favorito de Mario?

É difícil, já fiz quase cem jogos diferentes. Mas Super Mario Galaxy me dá arrepios até hoje. Eu ainda sonho que sou Mario e estou voando e isso começou justamente quando eu jogava Mario Galaxy. Foi um jogo incrível. O outro que fica na minha cabeça é Super Mario 64. Eu já dublava Mario em animações e outras coisas por cinco anos, mas foi o primeiro jogo que fiz. Um dia, eu estava em casa e me ligaram, dizendo que Miyamoto queria que eu dublasse o jogo. Tudo que eu pude responder foi "woohoo!".

E qual personagem o senhor gostaria de dublar, além de Mario?

Olha, nenhum. Porque, de todos os personagens que existem, eu consegui dublar o meu favorito. Eu fiz mais de cem jogos, fiz Skyrim, fiz os jogos de Senhor dos Anéis, mas quando volto pra casa, é Mario. Quando eu faço a voz dele e vejo o sorriso de crianças e adultos, pulando felizes, é mais do que suficiente para mim.

Estadão
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