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E3 2018: 'Se o dólar chegar a R$ 4, teremos de subir preços dos jogos', diz Ubisoft

Bertrand Chaverot, vice-presidente da Ubisoft na América Latina, vê venda de games pela internet como antídoto para incertezas do mercado nacional

14 jun 2018 - 05h40
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Com jogos como Assassin's Creed Odyssey e The Division 2 programados para chegar ao mercado nos próximos meses, a francesa Ubisoft tem chances de conseguir boas vendas em breve. No Brasil, no entanto, o cenário pode ser mais complexo do que o imaginado pela empresa. "Se o dólar chegar a R$ 4, teremos de subir os preços dos jogos", revela o francês Bertrand Chaverot, vice-presidente da Ubisoft na América Latina, em entrevista ao Estado durante a E3 2018, 24ª edição da maior feira de games do mundo, realizada nesta semana em Los Angeles.

A instabilidade da moeda americana, diz Chaverot, pode afetar os planos de sua empresa -- afinal, o preço dos jogos no Brasil é balizado pelo dólar. Normalmente, grandes lançamentos precisam ser vendidos em torno de US$ 60, valor padrão cobrado por um game nos Estados Unidos.

Hoje, a Ubisoft vende seus lançamentos em formato físico a R$ 250 nas lojas brasileiras. "O último ano foi bem difícil com a crise econômica e ainda há instabilidade a vista, com as eleições. A situação na América Latina nunca foi tão assustadora", diz Chaverot, que está há dez anos na região.

Para ele, a principal saída para contornar os problemas do presente, bem como questões estruturais brasileiras, como dificuldades de logística e distribuição, é apostar na venda de jogos pela internet. "Quando vendemos um jogo pelo varejo, ficamos só com 25% do valor total do game. No digital, essa margem sobe para 70%", explica o executivo. Dessa forma, diz ele, é que a Ubisoft pode cortar 20% do preço na venda dos lançamentos em formato digital, vendidos a R$ 200 no País.

"Com o digital, não preciso pensar em ICMS ou greve dos caminhoneiros", diz. Além disso, o francês também tem investido pesado nos esportes eletrônicos (eSports) e na realização de eventos para atrair novos públicos para os videogames. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.

Estado: Como a Ubisoft vê o atual cenário do mercado brasileiro?

Bertrand Chaverot: 2017 foi um ano super difícil para o mercado, com a crise econômica e do varejo. Para a Ubisoft, porém, foi um grande ano. Crescemos 25% em faturamento, tivemos boas vendas com Assassin's Creed Origins e Far Cry 5. Além disso, os jogadores estão migrando dos discos físicos para os jogos vendidos digitalmente, o que nos dá um modelo novo de negócios. Quando vendemos um jogo pelo varejo, ficamos só com 25% do valor total do game. No digital, essa margem sobe para 70%. São quase três vezes mais. Além disso, não temos que enfrentar questões problemáticas no Brasil, como logística e distribuição. Com o digital, não preciso me preocupar com a greve dos caminhoneiros. No mundo, a maioria das nossas vendas já são pela internet. Esperamos que os próximos anos sejam cada vez mais digitais.

Nas últimas semanas, o dólar tem sofrido com instabilidade. É algo que impacta diretamente o mercado de games no Brasil. Os preços vão subir?

Por enquanto, vamos tentar aguentar. Videogame é um entretenimento barato se você considerar o custo-benefício, mas é um produto caro num País como o Brasil. Vamos tentar manter os preços a R$ 250, mesmo com o dólar subindo rapidamente. Se o dólar chegar a R$ 4,00, vamos ter que subir os preços dos jogos. Espero que o governo consiga manter a estabilidade da moeda: se eu pudesse, gostaria de ter o dólar a R$ 3,20, é um valor justo.

Como o sr. vê as eleições impactando o mercado de jogos?

Elas trazem mais incerteza. A situação da América Latina, nesse aspecto, nunca foi tão assustadora. Argentina e México estão indo para um lado mais populista. O que temos de força, porém, é que dependemos menos do varejo e que, em tempos de crise, as pessoas buscam um entretenimento com bom custo benefício -- e o videogame faz isso. Pense em quantas horas de diversão um jogo pode te dar.

Quais são as estratégias para contornar esses obstáculos?

O que vamos fazer é investir mais no nosso catálogo, relançando jogos recentes a R$ 130. Vamos ainda organizar eventos: teremos campeonatos do [jogo de tiro] Rainbow Six Siege e do [jogo de dança] Just Dance. Hoje, o Brasil é nossa principal audiência nas transmissões de partidas de Rainbow Six Siege -- o brasileiro pode não ter o melhor poder aquisitivo, mas ele tem interesse nos games. A audiência de hoje é o jogador de amanhã e o consumidor do futuro. Além disso, para muitos adolescentes, os eSports são muito mais interessantes que o futebol: o ritmo do esporte tradicional é muito lento. Rainbow Six Siege ou League of Legends são bem mais movimentados do que jogos com dois ou três gols em 90 minutos.

A Ubisoft trabalha lado a lado com Sony, Nintendo e Microsoft. Há diferença entre as três empresas?

A Nintendo tem um público mais jovem e mais familiar, mas muito fiel. Tem moleques de 30 anos que só querem saber da Nintendo. Já Sony e Microsoft fazem uma guerra particular, como Coca-Cola e Pepsi. É uma guerra boa para alavancar a indústria. Nós, na Ubisoft, trabalhamos com os três e tentamos trazer histórias mais aprofundadas, dimensão cultural. Nosso objetivo hoje não é criar personagens e heróis incríveis. É criar mundos profundos, nos quais os jogadores poderão ter experiências memoráveis.

Estadão
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