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Flip 2019: Autoras discutem influência do cenário político em seus romances

Ayobami Adebayo e Ayelet Gundar-Goshen dividiram mesa na 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty

12 jul 2019 - 14h35
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ENVIADO ESPECIAL / PARATY - Duas jovens autoras com livros de destaque em 2018 dividiram uma mesa na programação principal da 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty nesta sexta-feira, 12, e falaram sobre a construção de seus personagens, que vivem relações amorosas e familiares em meio a conflitos políticos sensíveis. Ayobami Adebayo (autora de Fique Comigo, da HarperCollins Brasil) e Ayelet Gundar-Goshen (Uma noite, Markovitch, da Todavia) conversaram sobre como as peculiaridades pessoais vêm, em seus romances, antes do contexto político.

"Todo país tem sua própria mitologia, são histórias que mães contam para filhos", disse a israelense Ayelet. "Cada personagens tem seus próprios segredos, todas as pessoas na rua são assim. Quando começo um personagem, começo pelo segredo. O que ele não vai contar para ninguém? Você mira nesse ponto e dança ali."

Fique Comigo é também um livro recheado de segredos, muitos deles no âmbito familiar. "Nunca é tão simples a relação entre política e literatura", explicou Ayobami - parte do livro se passa nos anos 1980 na Nigéria, quando uma sucessão de golpes e tentativas de golpes desestabilizaram a política local. "O casamento dos personagens no romance conversa com a situação política, mas para mim é sempre secundário, primeiro é a vida deles."

Como numa conversa entre os personagens, a escritora montou um quebra-cabeça que envolve mudança de narradores, idas e vindas no tempo e transformações drásticas dos personagens. "Com esse romance, eu tinha um pouco mais de liberdade para escrever sobre o país porque já podia pensar em outros livros que se envolviam com a discussão política. Mesmo assim, minha primeira versão tinha muita política, só porque eu queria passar como alguém que eu tinha estudado aquilo, o que é uma receita para o fracasso. Meus personagens não se importavam tanto com essas coisas."

Para Ayelet, seu romance é "sobre confundir amor e obsessão, amor e posse".

"Isso vale para os personagens e também para o estado de Israel", comparou. "Algumas pessoas ainda se sentem as vítimas, e eu não acho que seja por aí. Não quero que um romance seja uma declaração política, porém. Quero que o romance seja mais complexoe que no futuro as pessoas tentem entender as motivações dos comportamentos humanos, e com a ficção acho que isso pode acontecer."

Estadão
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