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Fim de casamento desencadeia crise de fé em 'Amor Profano'

Vivianne Pasmanter e Marcelo Airoldi vivem ex-casal judeu ortodoxo, que se vê desunido por diferenças religiosas

12 out 2018 - 06h11
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O passar dos anos pode desafiar a memória e confundir o fruto das decisões, mas, quando se fala em amor, não parece haver barreiras para o ex-casal Hannah e Zvi. Estreia nesta sexta, 12, o espetáculo Amor Profano, com Vivianne Pasmanter e Marcello Airoldi, no Teatro Vivo.

O texto do autor israelense Motti Lerner propõe o exercício de um tipo de virtude que parece ter entrado em extinção, e portanto, transformado em uma coisa rara. Na história, Viviane e Airoldi interpretam um casal divorciado. Mas não se trata de uma separação amigável. Vinte anos após o divórcio, eles se reencontram para debater suas origens e o futuro em comum, se é que seja possível. Hannah e Zvi foram criados em uma comunidade ultraortodoxa judaica, em Jerusalém. A separação ocorre porque um deles decide abandonar parte de sua identidade e história. "Zvi escolhe deixar para trás sua fé, a religião que o formou e a prática dos rituais", conta Viviane. "Como não é possível que eles continuem casados, o divórcio se torna uma dolorosa opção, que acaba tumultuando a vida deles."

A diretora Einat Falbel conta que foi convencida a montar o texto por identificar elementos simples que podem dialogar com diferentes pessoas. "A dramaturgia tem uma história comum a todos que amam e já amaram. Por ser assim, universal, o espectador pode ter a chance de se colocar no lugar das personagens." Na peça, o reencontro do casal serve para despertar o que ainda permanece vivo entre os dois, conta Vivianne. "De fato, eles se amavam. Então, é preciso confrontar suas mágoas, que são muitas."

A diretora conta que, a partir de uma leitura do ponto de vista da psicanálise, o personagem de Airoldi ainda confronta seus demônios por ter escolhido abdicar da fé. "Depois de tantos anos, ele não consegue superar o que se passou. Em geral, as pessoas estão sempre revisitando o lugar de onde vieram, conferindo suas origens, e Zvi não vê outra chance de prosseguir, senão encarar o passado."

Para a atriz que viveu recentemente a encardida e risonha Germana, na novela Novo Mundo, da TV Globo, a peça Amor Profano levanta questões sobre respeito e tolerância, urgentes para os dias de hoje. "Os dois tiveram suas vidas organizadas em torno da religião. Quando isso muda, eles precisam entender como aceitar e conviver com quem pensa diferente." Einat defende que o elemento religião, ao se colocar como barreira na possibilidade de existência de uma vida a dois, não é capaz de impedir um olhar mais sensível e humanizado. "A fé é subjetiva", conta. "A peça questiona como podemos debater valores que parecem fazer parte de todos nós desde sempre, seja entre amigos, familiares e em uma relação amorosa."

Na encenação, esse debate de ideias práticas e existenciais tem como campo de batalha os apartamentos dos dois personagem. Se, na casa de Hannah, livros e objetos ressaltam a presença da religião no rotina da mulher, a casa de Zvi mantém suas estruturas expostas, sem paredes. "Para muitos, a liberdade conquistada pode embaralhar o futuro, já que tudo é possível. Ele desconhece outro sentido para sua vida e a relação com Hannah pode sugerir uma resposta."

A diretora ainda encara o texto como um forte apelo ao carinho que as relações merecem. "Precisamos cuidar de quem está próximo a nós. Essa peça me leva a pensar em como podemos melhorar as relações, a comunicação e também a política."

Novo Mundo 2. Viviane adianta que ainda não se despedirá de Germana. A emissora ficou empolgada com o sucesso do folhetim, que ganhará continuação. "Será alguns depois, quando Germana estiver velhinha", diz.

AMOR PROFANO. Teatro Vivo. Av. Chucri Zaidan, 2.460. Tel.: 3279-1520. 6ª, 20h; sáb., 21h; dom., 19h. R$ 50 / R$ 70. Estreia hoje (12). Até 25/11.

Estadão
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