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'Marighella' mostra 'humano' por trás do guerrilheiro

Após dois anos de impedimentos, o longa que marca a estreia de Wagner Moura na direção chega aos cinemas brasileiros

5 nov 2021 - 09h00
(atualizado às 09h16)
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Após dois anos de impedimentos e em meio a polêmicas sobre censura, o filme ‘Marighella’, dirigido por Wagner Moura, ganha as salas de cinema do Brasil a partir desta quinta-feira, 4. O lançamento oficial do longa aconteceu em 2019, no Festival de Cinema de Berlim, mas a primeira exibição no Brasil foi realizada na última sexta-feira, 29, na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.    

“Foi muito angustiante que o filme não estreava. E todo o sucesso, os prêmios, era tudo muito bom, mas nada disso fazia sentido até que chegasse esse momento de entregar o filme aqui no Brasil”, disse Moura, em coletiva de imprensa realizada durante a Mostra. Inspirada na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães, a produção é um recorte dos últimos cinco anos de vida de Marighella, quando passou de um militante comunista ligado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) a um guerrilheiro armado, sendo um dos principais líderes do movimento contra a ditadura militar brasileira. Após prisões e torturas, Marighella foi morto em uma emboscada orquestrada pelo regime em 1969.

'Marighella' traz Seu Jorge e Adriana Esteves no elenco
'Marighella' traz Seu Jorge e Adriana Esteves no elenco
Foto: Divulgação/Marighella

Apesar de mostrar um período histórico importante na história do Brasil, com a censura à imprensa, o clima de terror, os desaparecimentos, prisões e torturas, o longa traz um olhar mais íntimo sobre esses guerrilheiros que pegaram em armas pela volta da democracia. Conhecemos um outro lado de Marighella, o homem por trás da figura pública, com momentos de seriedade mas também de afetividade e bom humor. A interpretação, inclusive, rendeu a Seu Jorge os prêmios de melhor ator no Bari International Film Festival e no International Film Festival of India.

Para Moura, levar a história do poeta, deputado, ativista e guerrilheiro às telas atendia também ao desejo de "devolver ao imaginário popular brasileiro a figura desse cara que teve a sua vida silenciada. Sempre fui fascinado pela história das revoltas populares e me sentia muito perturbado sobre como essas histórias eram contadas”. 

Previsto para ser lançado em 2019, o filme passou por uma série de revezes que atrasaram a estreia no Brasil. Em comunicado, a produtora O2 Filmes explicou que a cinebiografia "não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine", mas o diretor acredita que o filme não estreou devido a uma censura do governo federal. “Eu tenho falado bastante sobre a censura. Eu não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. Os pedidos negados pela Ancine, feitos pela O2, foram negados em um momento em que Bolsonaro falava abertamente sobre filtragem na Ancine, ‘Ou vai ter filtragem na Ancine, ou vai ter que acabar’”.

A dificuldade para lançar a produção não foi a única polêmica atrelada ao filme. A primeira opção de Moura para dar vida a Marighella era Mano Brown, que deixou projeto logo no início devido a conflitos de agenda. A segunda opção era Seu Jorge. A escolha rendeu ataques racistas ao filme, já que Marighella era um homem negro de pele clara.  “Essa discussão não passava pela minha cabeça na época. Eu precisava de um ator negro. Marighella era um homem negro, filho de mãe negra e pai branco, neto de escravos”, explica Moura

Para Seu Jorge, a participação no longa trouxe uma nova oportunidade de reconexão com o Brasil, após um período morando no exterior dedicado a sua carreira internacional. “Ele [Moura] percebeu que àquela altura eu estava mais conectado com o mundo. E para fazer esse personagem, para viver essa pessoa eu precisava me conectar com o Brasil e automaticamente me conectar com as causas do Brasil, que são as minhas causas e sempre foram e que em determinado momento deixaram de ser apreciadas”, explicou o músico e ator. 

'Marighella' marca a estreia na direção de Wagner Moura
'Marighella' marca a estreia na direção de Wagner Moura
Foto: Divulgação/Marighella

‘Marighella’ também resgata a importante participação dos freis dominicanos na luta contra a ditadura militar no País, episódio nem sempre mencionado pela história oficial, tampouco celebrado dentro do catolicismo. Os frades auxiliavam os opositores da ditadura e assim como muitos também sofreram com a prisão e a tortura. "Eles se colocaram ao lado da causa da justiça social, da liberdade e da democracia. Acredito que o registro histórico que tem ficar é: Freis dominicanos discípulos de Jesus de Nazaré corajosos, que colocaram as suas vidas à disposição da liberdade", disse o pastor e ator Henrique Vieira, que interpreta Frei Henrique na obra.

Ao ser questionado sobre o papel das igrejas evangélicas na ascensão de projetos políticos e discursos anti-democráticos no País, Vieira ressalta que é preciso cuidado ao abordar o tema. “A igreja evangélica tem setores que têm um projeto de poder anti-laico, anti-democrático, que ajuda a violentar terreiros, pais e mães de santo. Esse projeto de poder é perigosíssimo e tem que ser denunciado. Mas nós não podemos generalizar a experiência evangélica no Brasil. O campo evangélico é plural, é popular, é periférico, é favelado, é feminino, é negro", concluiu. 

Fonte: Redação Terra
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