Jornalista palestina, protagonista de filme selecionado para Cannes, é morta em Gaza
Fatma Hassona era fotojornalista e morreu com outros 9 membros de sua família após ataque de Israel
Fatma Hassona, uma fotojornalista e artista palestina que protagoniza o documentário Put Your Soul on Your Hand and Walk, foi morta vítima de um ataque militar de Israel na Faixa de Gaza. A informação foi confirmada pelo Sindicato de Jornalistas Palestinos (PJS) na última quarta-feira, 16.
Hassona é a protagonista do documentário dirigido pela realizadora franco-iraniana Sepideh Farsi, selecionado na terça-feira, 15, para uma mostra paralela do Festival de Cannes 2025. A mostra, chamada ACID, é organizada pela Associação de Cinema Independente da França.
O filme ainda inédito conta a história da vida em Gaza durante a campanha militar de Israel, capturada por meio de chamadas de vídeo entre a diretora e a jovem jornalista. Fatma morreu junto a outros nove membros de sua família durante um bombardeio aéreo.
A ACID lamentou a morte de Fatma em uma publicação no Instagram, e destacou que a sua história é recheada de força e persistência.
"Conhecemos Fatma Hassona quando descobrimos o filme de Sepideh Farsi, durante a programação de Cannes. Seu sorriso era tão mágico quanto sua tenacidade: sendo testemunha, fotografando Gaza, distribuindo comida apesar das bombas, do luto e da fome. Sua história nos tocou e ficamos felizes de saber que ela estava viva a cada vez que ela aparecia. Ontem nós ficamos sabendo, horrorizados, que um míssil israelense atingiu seu prédio, matando Fatma e sua família", inicia o comunicado.
"Nós assistimos e programamos um filme em que a força vital dessa jovem mulher era nada menos que milagrosa. Esse é um filme diferente daquele que iremos carregar, apoiar e apresentar em todos os cinemas, começando com Cannes. Todos nós, cineastas e espectadores, devemos fazer jus à sua luz."
Segundo a The Hollywood Reporter, Fatma ganhou notoriedade internacional por seu trabalho de fotojornalismo, sobretudo após ser publicada em veículos como o britânico The Guardian. Algumas das imagens feitas por ela estão publicadas em seu perfil no Instagram.
Fatma estava noiva e irmã estava grávida
Em entrevista ao Deadline, a diretora do documentário revelou que Fatma considerava a possibilidade de ir até Cannes prestigiar a estreia do filme.
"Conversei com ela horas antes para contar que o filme estava em Cannes e convida-la para vir. Ela disse: 'Eu vou, mas tenho que voltar para Gaza. Não quero deixar Gaza'. Eu já estava em contato com a Embaixada Francesa e estava preocupada com tirá-la e levá-la de volta em segurança", compartilhou Farsi.
A diretora contou ainda que uma das irmãs de Fatma estava grávida, e a própria jornalista havia ficado noiva alguns meses antes. Ela também suspeita que Fatma possa ter sido alvo de um ataque direcionado, em virtude de seu trabalho como fotojornalista. De acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas, ao menos 175 jornalistas e trabalhadores da mídia já foram mortos em Gaza, West Bank, Israel e Líbano desde o dia 7 de outubro de 2024.
