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Dramaturgista adapta obra de Caio Fernando Abreu sobre meio ambiente e diversidade para crianças

Projeto sonoro visual também traz sugestão de conteúdo programático para professores em sala de aula

25 mai 2022 - 05h10
(atualizado às 07h52)
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O mundo era muito diferente na década de 1970 se compararmos aos dias atuais. Porém, as fábricas já poluíam os rios, guerras estavam em andamento e as pessoas andavam apressadas. Foi nesse cenário do 'Reino dos Homens' que Caio Fernando Abreu pensou em um pacato recanto da natureza, onde a Sereia, o Mágico, o músico Roque, o Soldadinho e a Bailarina viviam em um universo paralelo e em paz. Mas tudo é interrompido quando os personagens percebem que seus pertences foram roubados. Ora, mas há muito tempo isso não ocorria na Comunidade Arco-Íris.

Agora, em 2022, o texto do dramaturgo foi adaptado por Cleiton Echeveste. "Foram inúmeras as reescrituras, tanto na experimentação de novas possibilidades na forma, até chegarmos aos episódios em formato de uma série sonoro-visual, quanto na busca de uma linguagem atraente para as infâncias de hoje", afirma o dramaturgista, em entrevista ao Estadão.

O texto de Abreu já tratava temas como a consciência ecológica, a busca do bem-estar coletivo e o respeito às diversidades.O que Echeveste buscou foi criar novas nuances ou aprofundar determinadas características dos personagens. "Encontrar esse equilíbrio foi um grande desafio, porque não queríamos de forma alguma descaracterizar o rico espectro humano criado pelo Caio", ressalta.

O projeto cênico de contação de cinco histórias baseadas no texto original foi pensado ainda no período da quarentena diante da covid-19 e se tornou um projeto disponível gratuitamente para crianças e adultos no site. "Este período de retomada tem me mostrado que o público quer voltar a ter contato com as artes, seja presencialmente ou mediadas pela tecnologia, mas sempre com uma perspectiva de diálogo e de escuta, de abertura e de afeto", diz.

O site do projeto pretende manter uma relação direta com o público e permitir que as crianças entrem no universo do texto. "Hoje temos muitas ferramentas de interação digital e isso pode ser motivo para dispersão. Com os personagens em tela e escutando a mesma história, é possível despertar ainda mais a atenção das crianças", afirma a diretora Carolina Garcia.

A plataforma disponibiliza também material didático para professores, com ideias de como trabalhar questões socioambientais, um dos temas do espetáculo, com construções de dispositivos que utilizam materiais reciclados, por exemplo. O trabalho todo é feito pela Palco Aberto Produtora em parceria com a INC Coletivo Cênico de Porto Alegre que pesquisa, há cinco anos, o teatro de animação em diálogo com outras linguagens como a dança, as artes visuais, música e multimídia.

Nascido na cidade de Santana do Livramento, praticamente divisa com o Uruguai, Cleiton Echeveste teve contato com as artes ainda quando menino, no ensino primário, através da escola pública. A oportunidade de assistir a raros espetáculos no interior gaúcho despertou a curiosidade dele na época. "Já no ensino médio passei a fazer parte de um grupo de teatro comunitário/escolar, talvez o único que apresentava espetáculos com regularidade na minha cidade. Minha "estreia", então, se deu aos 16 anos, e posso dizer que foi ali que começou a se formar a minha consciência de que aquele seria um caminho sem volta", lembra.

A arte também foi uma maneira de Echeveste expressar suas emoções e se sentir livre. "O desejo de pertencimento a um coletivo, algo que sempre me encantou como possibilidade no teatro. Além, é claro, de encontrar ali um lugar para ser eu mesmo, algo que para um jovem gay, sem maiores referências no seu entorno, se mostrou fundamental", afirma o dramaturgista.

Algumas coincidências unem Echeveste e Abreu. O dramaturgo e jornalista, que também era do Rio Grande do Sul, era declaradamente homossexual no período da ditadura militar no Brasil. Seus textos falavam de personagens dramáticos, ao mesmo tempo que inspiravam uma busca incessante pela vida.

No espetáculo infanto-juvenil A Comunidade do Arco-Íris, o grande desafio de Echeveste foi manter a originalidade de Abreu sem deixar de criar uma conexão com o público de hoje. "Sinto que, de alguma forma, o Caio esteve sempre presente nesse processo. Algumas questões que já o preocupavam há 50 anos tornaram-se ainda mais urgentes. E principalmente falar sobre esperança e perspectiva de vida em harmonia para as crianças", conclui Echeveste.

Estadão
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