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Promissor, 'Calmaria' se credencia a um dos piores filmes de 2019

Longa poderia ser razoável se o diretor, em meio ao mar de clichês, não se valesse de um manual de psicanálise para principiantes

11 mar 2019 - 03h11
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Dois vencedores do Oscar - Matthew McConaughey, melhor ator por Clube de Compras Dallas; Anne Hathaway, melhor atriz coadjuvante por Os Miseráveis -, um diretor e roteirista com acertos indiscutíveis no currículo. Steven Knight escreveu Coisas Belas e Sujas para Stephen Frears e Os Senhores do Crime para David Cronenberg. Mais recentemente, escreveu também Millenium - A Garota na Teia de Aranha, de Fede Alvarez. Dirigiu Locke, com Tom Hardy. O mínimo que se pode dizer é que ele erra a mão em Calmaria.

O longa em cartaz mostra McConaughey como pescador que ganha a vida pescando (claro) ou transportando turistas em seu barco. Leva a vida mansa, numa ligação tranquila com Diane Lane. Um pouco como o Santiago da obra-prima de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, Baker Dill (é seu nome) persegue um mítico peixe que as pessoas ao seu redor nem acreditam que exista. A calmaria é interrompida pela chegada do tsunami Anne. A Hathaway chega com o filho (de McConaughey). Diz que está sendo ameaçada pelo atual companheiro, Jason Clarke, e tenta convencer o ex a matá-lo, até como forma de defender o filho.

Amor, sexo e vingança. Um milhão de filmes B já foram realizados com esses ingredientes. Calmaria poderia ser razoável, se o diretor e roteirista, em meio ao mar de clichês, não se valesse de um manual de psicanálise para principiantes. Outro problema - lá pelo meio, e ainda impulsionado pelo freudianismo elementar, Knight tem a ideia de mudar tudo, e fazer outro filme. Uma revelação é o estopim para a mudança. O novo filme revela uma inesperada dimensão fantasiosa, parece até ficção científica. Do pescador que persegue o peixe grande, vira outra coisa. Embora exista uma ilha, símbolo do voltar-se para si mesmo, o mar aberto carrega múltiplas possibilidades. O desfecho termina sendo o mais fantástico possível.

No papel, Calmaria até que parece interessante. Violência doméstica, luto, dilaceramento interior. McConaughey cria seu personagem marcado pela fisicalidade, com direito a nu, ou quase. Anne, loira, é tão intensa que, ao exagerar na dose, se torna artificial. O ano mal começou e Calmaria já se credencia a um dos piores de 2019.

Estadão
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