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Primeiro filme árabe da Netflix causa polêmica no Oriente Médio

23 jan 2022 - 16h41
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Foto: Divulgação/Netflix / Pipoca Moderna

O primeiro filme original em árabe da Netflix, "Perfeitos Desconhecidos", virou polêmica e enfrenta críticas pesadas de conservadores em todo o Oriente Médio desde seu lançamento na quinta passada (20/1).

O longa está sendo acusado, entre outras coisas, de promover a homossexualidade, a perversão e a infidelidade, e até mesmo de fazer parte de um complô para derrubar a sociedade árabe.

Um dos muitos remakes internacionais do sucesso italiano de mesmo nome, dirigido por Paolo Genovese em 2016, o filme acompanha um grupo de amigos libaneses que concorda em deixar os celulares desbloqueados na mesa durante um jantar, expondo interações picantes e segredos sombrios.

Com um elenco liderado pela cineasta Nadine Labaki ("Cafarnaum") e a estrela egípcia Mona Zaki ("Sherazade, Conte uma História"), a trama inclui um personagem gay e outras histórias consideradas tabu, que raramente são discutidas abertamente em muitos países do Oriente Médio.

No Twitter, o filme foi alvo de uma enxurrada de mensagens homofóbicas, sob a acusação de incentivar a "degradação moral" dos valores islâmicos e "divulgar ideias ocidentais" decadentes. Um usuário acusou o filme de ser um "crime", acrescentando que não deveria apenas ser banido, mas que todos os envolvidos deveriam enfrentar "processo" e serem julgados como criminosos.

A maior surpresa de tudo isso é a Netflix acreditar que isso não aconteceria. Filmes tão inocentes quanto "Eternos" e "Amor, Sublime Amor" foram proibidos nos cinemas de boa parte do Oriente Médio por fazer referências à questões LGBTQIA+. Como "Perfeitos Desconhecidos" foi lançado direto em streaming, evitou os censores de cinemas, tornando-se um dos poucos filmes a mostrar estas questões para o público árabe.

A principal reação aconteceu no Egito (o filme é uma co-produção egípcia), particularmente contra Zaki, que em uma cena do filme tira a calcinha (embora nada seja visto, pois não há nudez). Um usuário do Twitter acusou Zaki - uma grande estrela no Egito - de fazer parte de uma agenda internacional para forçar mudanças sociais.

Um advogado egípcio, Ayman Mahfouz, afirmou que o filme era uma "conspiração para perturbar a paz da sociedade árabe" e que Zaki era a "campeã" de tudo. Este mesmo advogado - que em 2020 processou o filho transgênero do ator egípcio Hesham Selim por um post no Instagram por supostamente promover a homossexualidade - está preparando um processo para remover a produção da Netflix.

O filme também foi atacado pelo político egípcio Mustafa Bakri, que em comunicado ao presidente da Câmara dos Deputados do Egito disse que ele "incita a homossexualidade e a infidelidade".

No Egito, ao contrário dos países do Golfo Pérsico, a homossexualidade não é oficialmente ilegal, embora seja costumeiramente reprimida na sociedade.

Apesar da reação feroz, o longa também recebeu apoio de segmentos progressistas da comunidade árabe, com muitas pessoas elogiando tanto o enredo - por levantar tópicos da vida real muitas vezes ignorados - quanto a própria produção, ao mesmo tempo em que criticam as atitudes retrógradas daqueles que o atacam.

"Árabes enlouquecendo por causa de um filme que mostra cônjuges infiéis, adolescentes sendo adolescentes, personagens gays… me faz perceber que não estamos nem 1% perto de discutir temas como seres civilizados em vez de nos fecharmos em uma bolha hipócrita reprimida", disse um usuário do Twitter, em meio a uma campanha com uma hashtag que se traduz como #EuTambémSouUmPefeitoDesconhecido.

Uma das maiores estrelas internacionais do Egito, Amr Waked, foi além e tuitou que qualquer um que estivesse "com medo" de que um filme pudesse mudar sua fé não tinha fé.

Graças à polêmica, "Perfeitos Desconhecidos" tem sido um grande sucesso até agora, liderando as paradas de visualização da Netflix na região e chamando a atenção do mundo. Na França, atualmente é o sexto título mais popular da plataforma.

Veja abaixo o trailer do filme dublado em português.

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