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Petra Costa indica 8 filmes dirigidos por mulheres

Diretora de 'Democracia em Vertigem', indicado ao Oscar de Melhor Documentário, indica filmes que marcaram a sua trajetória

8 jul 2020 - 09h00
(atualizado às 17h02)
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A cineasta brasileira Petra Costa, 36, ganhou notoriedade mundial ao concorrer ao Oscar de melhor documentário em 2020, com seu Democracia em Vertigem. Mas a obra da diretora vai muito além disso: seus filmes extremamente sensíveis e íntimos revelam uma mulher que não tem medo de expor suas fragilidades e complexidades.

Mulheres na direção. Petra Costa indica 8 filmes dirigidos por mulheres que marcaram sua trajetória
Mulheres na direção. Petra Costa indica 8 filmes dirigidos por mulheres que marcaram sua trajetória
Foto: JF DIORIO / Estadão Conteúdo

Em documentários como Olhos de Ressaca (2009) e Elena (2012), a cineasta parte de acontecimentos pessoais para discutir questões mais amplas, como o amor, a velhice, o suicídio e a morte. Em Olmo e a Gaivota (2015), ela mescla realidade em ficção para retratar os desafios de uma gravidez. Como em toda a sua obra, os filmes possuem um caráter ensaístico, pessoal e, ao mesmo tempo, bastante político.

Cena de 'Democracia em Vertigem' (2019)
Cena de 'Democracia em Vertigem' (2019)
Foto: IMDB / Reprodução

“Algo que vejo os filmes dirigidos por mulheres terem em comum é a especial sensibilidade, um nível de complexidade emocional muito maior que na maioria dos filmes dirigidos por homens. É como o Deleuze fala: são atravessados por um devir feminino, que também é presente em filmes dirigidos por homens, mas muito mais em filmes dirigidos por mulheres”, diz Petra.

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Para mergulhar nesse universo do cinema produzido por mulheres, convidamos a cineasta para compartilhar filmes que marcaram a sua trajetória como diretora. Confira abaixo as oito sugestões da cineasta e a descrição da obra segundo Petra Costa.

Cena de 'KBELA', curta de Yasmin Thayná
Cena de 'KBELA', curta de Yasmin Thayná
Foto: IMDB / Reprodução

KBELA, de Yasmin Thayná (Youtube)

"É um dos curtas brasileiros mais lindos que eu já vi. Imagens e vozes se sobrepõe como em um poema. Yasmin reuniu um grupo de mulheres negras para uma obra coletiva sobre um aspecto muito pouco falado do racismo no Brasil: a estigmatização dos cabelos negros e a imposição do alisamento como forma indireta do embranquecimento, sofrido principalmente pelas mulheres. Como disse Márcia Tiburi, Kbela é o melhor cinema como revelação de alguma coisa que precisamos ver. Algo que foi invisibilizado e que agora está exposto."

Onde assistir: No Youtube.

Harvey Keitel e Holly Hunter em 'O Piano', filme de Jane Campion (1993)
Harvey Keitel e Holly Hunter em 'O Piano', filme de Jane Campion (1993)
Foto: IMDB / Reprodução

O Piano, de Jane Campion

"Talvez tenha sido meu primeiro encontro com o feminino no cinema. Jane foi a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro de Cannes por melhor filme. Como uma grande preliminar, o filme passa pelo corpo e a ideia do desejo contido, questionando de certa forma a lógica patriarcal. Nele, Ada é uma mulher que não fala desde os seis anos de idade, mas ao mesmo tempo transmite muito através de sua música e expressão corporal.  Sempre tem essa dicotomia: o que é o cinema feminino? Existe de fato um cinema de mulheres? Esse filme tem uma relação de amor e é muito sensual, mas traz muito a ideia que tem na mitologia da Deusa indiana Shakti, que é uma Deusa da fertilidade que está presente em tudo que nasce."

Cena de 'Bom Trabalho', de Claire Denis (Google Play)
Cena de 'Bom Trabalho', de Claire Denis (Google Play)
Foto: IMDB / Reprodução

Bom Trabalho, de Claire Denis (Google Play)

"Foi o primeiro e possivelmente um dos poucos filmes que vi que olhou para a beleza e sensualidade dos homens através de um olhar feminino.  Ele também retrata o contrário, e o faz de uma forma muito complexa. O filme conta uma história de desejo e inveja entre o comandante e um militar franceses em Djibouti, no chifre da África, assim como suas relações com as mulheres locais. É um filme que lida com conflitos de raça e poder, mas ao mesmo tempo é sensível, sensual e poético, onde cada cena de treinamento no deserto parece uma coreografia."

Onde assistir: Aluguel disponível no Google Play, somente em francês. Buscar pelo título original, Beau Travail

Bill Murray e Scarlett Johansson em 'Encontros e Desencontros', filme de Sofia Coppola (2003)
Bill Murray e Scarlett Johansson em 'Encontros e Desencontros', filme de Sofia Coppola (2003)
Foto: IMDB / Reprodução

Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola (Amazon Prime, Net Now)

"É um filme de menina de 20 e poucos anos que se apaixona por um homem por volta de seus 60. Ambos vivem similar crise existencial em momentos tão díspares da vida: desencontrados de um mundo mais mercadológico, objetivo. O filme transmite isso também com muita sutileza."

Onde assistir: Amazon Prime Video, Net Now.

'Sem Asas', de Renata Martins (Porta Curtas)
'Sem Asas', de Renata Martins (Porta Curtas)
Foto: Reprodução

Sem Asas, de Renata Martins (Porta Curtas)

"É uma joia linda e urgente. Fala com potência e poesia da violência que mais amaldiçoa a nossa terra: o racismo estrutural nas famílias negras,  trazendo pra intimidade aquilo que para muitos virou apenas estatística."

Onde assistir: No site Porta Curtas.

Agnès Varda em Les plages d'Agnès (2008)
Agnès Varda em Les plages d'Agnès (2008)
Foto: IMDB / Reprodução

As praias de Agnès, de Agnès Varda (Youtube)

"Um documentário autobiográfico feito por ela aos seus 80 anos. Vi antes de fazer 'Elena' e me ensinou a liberdade do cinema, onde tudo é possível, e eu poderia experimentar todo tipo de coisa. Varda relata sua vida através dos seus próprios filmes e ao fazer assim dá a si mesma a liberdade de fazer tudo, inclusive se colocando dentro do estômago de uma baleia. Agnes foi a primeira a fazer um filme da nouvelle vague, muito antes dos consagrados diretores homens como Truffaut e Godard, seguindo esses impulsos que se tornaram uma característica da época."

Onde assistir: No Youtube.

Quem nunca sonhou em ser uma paquita?
Quem nunca sonhou em ser uma paquita?
Foto: Reprodução

Cores e Botas, de Juliana Vicente (Youtube)

"Quantas paquitas negras você lembra de ver em sua infância? Nesse potente filme, Juliana retrata a imposição estética que impede uma garota de realizar seu sonho, numa época em que a Xuxa era a principal referência de beleza e sucesso. Um filme de 2010 que continua sendo extremamente atual, o que nos faz perceber como a mudança é insustentavelmente lenta. A Juliana é uma das mulheres brasileiras mais importantes de se acompanhar o trabalho, com uma trajetória extremamente engajada e tocante."

Onde assistir: No Youtube

Rodrigo Santoro em 'Bicho de 7 Cabeças', de Laís Bodanzky
Rodrigo Santoro em 'Bicho de 7 Cabeças', de Laís Bodanzky
Foto: Reprodução

Bicho de 7 cabeças, de Laís Bodanzky (Net Now)

"Foi o filme que me fez querer fazer 'Elena', seguindo a forma como você vê a crise existencial do jovem que não encontra seu lugar no mundo nem na sociedade e é reprimido violentamente por não encaixar nos modos esperados. Eu queria fazer isso no âmbito feminino, que às vezes é um sofrimento muito mais silencioso, quase invisível."

Onde assistir: Aluguel no Net Now.

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Fonte: Redação Terra
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