'Eles Não Usam Black-Tie' revive o calor das lutas sindicais nos anos da ditadura
Peça foi encenada pela primeira vez em 1958, mas com as lutas sindicais do ABC ganhou nova atualidade
Em 1981, Leon Hirszman levou para o cinema a peça Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. O próprio Guarnieri vive Otávio, o velho líder sindical, que amargou cadeia no passado por suas convicções políticas e seu ativismo. Ele é casado com Romana (Fernanda Montenegro) e tem um filho, Tião (Carlos Alberto Riccelli), mais preocupado com sua família e consigo mesmo do que com as lutas sociais.
O texto de Guarnieri ganhou atualidade com as greves do ABC, ocorridas no final dos anos 1970, as primeiras desde a instauração da ditadura militar. Vistas em retrospecto, foram um dos mais poderosos fatores de desestabilização de um regime tido como inexpugnável.
O filme, no entanto, prefigura, no conflito entre o pai engajado e o filho individualista, algo mais, que estava por vir, mas já se sentia no ar. Com o fim da união em torno da redemocratização, as forças de oposição iriam se pulverizar e cada qual tomaria seu caminho. E mais: o engajamento político deixava de ser consensual entre as novas gerações.