Curta ‘Ararat’, com referência ao Genocídio Armênio, faz estreia mundial em SP
Filme produzido por Marcio Rosario tem no elenco os irmãos José Abujamra e Joaquim Muylaert, netos do genial Antônio Abujamra
Dois irmãos de origem armênia trabalham na confeitaria da família, a Ararat Doces. Às vésperas de um evento do centenário do genocídio armênio, eles entram em conflito pela visita inesperada de um supervisor de qualidade de origem turca. Armênia e Turquia são vistos como inimigos desde aquele episódio sangrento da história.
Esta é a premissa de ‘Ararat’. O filme com 17 minutos de duração terá première mundial no 33° Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Haverá sessão nesta sexta-feira (19) no Cinesesc e outra no sábado (20), no Centro Cultural São Paulo.
O diretor Guto Gomes buscou inspiração na própria família. “A ideia surgiu da minha experiência como descendente armênio em São Paulo. Meus bisavós fugiram do Genocídio Armênio, indo para o Egito e depois para o Brasil. Sempre quis contar sobre a presença dessa cultura na cidade onde vivo, São Paulo”, relata.
Os protagonistas do curta são interpretados por José Abujamra e Joaquim Muylaert, filhos da cineasta Anna Muylaert (‘É Proibido Fumar’, ‘Que Horas Ela Volta?’) e do cantor, compositor e multi-instrumentista André Abujamra, e netos do grande Antônio Abujamra, um dos maiores nomes da arte dramática brasileira.
“Eu escolhi o cinema como área de atuação porque é onde desde pequeno sempre gostei de explorar minha criatividade. Sinto que dentro de universos ficcionais posso voltar ao meu passado lúdico e viver o mundo da imaginação”, afirma Joaquim, que apareceu pela primeira vez nas telas aos 2 anos, em ‘Durval Discos’, dirigido por sua mãe.
José gostou da experiência de atuar em família. “Existir uma tensão entre os irmãos era fundamental para o filme. Como lembrava nossa relação desde a infância, foi muito fácil criar esse ambiente familiar provocativo. E sabe o que foi mais legal? Nossa relação ficou mais próxima, justamente por explorarmos fatores da nossa vida de uma maneira artística.”
O antagonista em ‘Ararat’ é interpretado por Christian Manos. O ator foi visto em produções de TV como ‘Malhação’, ‘Deus Salve o Rei’ e ‘A Força do Querer’. “Eu não tinha ideia do tamanho da comunidade armênia em São Paulo, é muito representativa”, conta. Ele colaborou para que o elenco surgisse afinado diante da câmera. “Usei minha experiência de professor de teatro para aplicar alguns exercícios na fase de preparação.”
Ator com participação em produções de Hollywood e trabalhos na Globo e Record, Marcio Rosario tem se destacado como produtor de curtas. “Consigo em tempo muito menor do que em um longa apresentar histórias interessantes. Aqui e no exterior há um público faminto por narrativas desconhecidas, especialmente de fatos reais”, explica.
Dividindo-se entre Brasil, Portugal e Estados Unidos, Rosario afirma que o Brasil vive “o maior retrocesso cultural desde a ditadura” por conta do desprezo do governo federal pela produção artística.
“O presidente fez de tudo para tentar destruir nosso cinema. Por ignorância, desconhece o DNA do artista brasileiro, de sua resiliência e luta contra os opressores. Muitos amigos conseguiram, como eu, produzir com dinheiro próprio”, diz.
“Ficou claro, principalmente para os estrangeiros, o que esse governo pensa sobre a cultura. Apesar do retrocesso, nunca fomos tão respeitados no exterior por projetos de audiovisual. Resistimos nesses últimos anos e ainda faremos muito mais.”