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'Coringa' joga fora o manual dos filmes de quadrinhos

Filme de Todd Phillips exibido no Festival de Veneza traz Joaquin Phoenix em estado de graça num estudo de personagem e história de origem do vilão da DC

31 ago 2019 - 12h29
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VENEZA - Coringa não é um filme de super-herói como os outros - e não apenas por tratar de um vilão da DC. O longa-metragem de Todd Phillips prescinde das cenas de ação espetaculares, das lutas sem fim, das explosões e dos prédios derrubados, com milhares de vítimas civis invisíveis. Para quem tinha alguma dúvida, faz todo o sentido o filme estar na competição do 76.º Festival de Veneza, onde foi exibido na manhã deste sábado, 31, tratando de temas relevantes como identidade, empatia, saúde mental e do abismo entre quem tem muito e quem não tem nada. Indicações ao Oscar também não devem faltar.

A história evita a repetição das várias aparições cinematográficas recentes do personagem, de Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) a Jared Leto em Esquadrão Suicida (2016), contando a transformação gradual de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, candidatíssimo à Coppa Volpi de melhor ator e ao Oscar na categoria) em Coringa. É um estudo de personagem e um drama realista na linha de clássicos dos anos 1970 e 1980 como Serpico, Taxi Driver e Rede de Intrigas, o que pode abrir uma nova via para os filmes baseados em quadrinhos da DC e da Marvel.

"Não entendo nada de competição com a Marvel", disse Phillips na coletiva após a exibição. "Mas, quando concebemos a ideia, queríamos uma abordagem diferente. Não sei se vai ser uma inspiração para outros, até porque os filmes de quadrinhos parecem estar indo bem. Foi duro de convencer a DC e o estúdio a fazer. Mas agradeço à Warner por ter feito uma aposta tão ousada."

Coringa, que estreia no Brasil em 3 de outubro, se passa, justamente, na Gotham, ou seja, Nova York, dos aos 1980, quando a cidade enfrentava problemas de violência, pobreza e lixo nas ruas, além de cortes nos programas sociais. Arthur divulga uma loja vestido de palhaço, quando um grupo de garotos lhe toma a placa e dá uma surra. Não vai ser a primeira vez que ele será visto no chão. Arthur sofre de problemas de saúde mental, entre eles uma condição que o faz rir descontroladamente - especialmente quando, na verdade, quer chorar. Mas é carinhoso com a mãe, Penny (Frances Conroy), que vive no passado esperando o reconhecimento de um poderoso na cidade.

O maior sonho de Arthur é ser comediante de stand-up e fazer os outros rirem, de preferência participando do programa de Murray Franklin (Robert De Niro). "Minha mãe sempre me diz para sorrir e fazer uma cara feliz", ele diz. A violência existe, mas é pontual e causa impacto quando acontece. "Meu desejo é que fosse tudo em fogo brando", disse o diretor. "John Wick tem muito mais violência. Como tentamos fazer de maneira realista, quando ela ocorre, é um soco no estômago."

Phoenix afirmou ter evitado encaixar o personagem numa personalidade específica. "Não queria defini-lo. Muitas vezes explorei suas motivações e terminei recuando. Queria que ele tivesse mistérios." Mesmo depois de assistir, Coringa é um personagem inclassificável. Mas, para o ator, cuja imagem pública é de um homem angustiado, a atração de Arthur era sua luz. "Sua luta para encontrar a felicidade, a conexão, o calor humano, o amor." Para Phillips, este Coringa não quer ver o mundo arder. "Ele está procurando sua identidade e quer ser adulado, trazer alegria ao mundo. Vira líder por engano."

Estadão
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