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Cannes: 'Que orgulho daquele protesto', diz cineasta Kleber Mendonça

Três anos depois de 'Aquarius', diretor volta ao Festival de Cannes para mostrar 'Bacurau', que traz também Sonia Braga

18 abr 2019 - 20h32
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Kleber Mendonça Filho estará de volta a Cannes, três anos após a polêmica e o sucesso internacional de Aquarius. Dessa vez, com Bacurau, trata-se de uma parceria. Ele codirige com Juliano Dornelles.

O que representa a volta a Cannes?

Cannes é um caso curioso, fui pela primeira vez em 1999, o ano do Rosetta, Cronenberg presidente do júri. Cobri 17 vezes, como jornalista do Jornal do Commercio, no Recife. Gostava muito da energia cinéfila, de escrever, das trocas de sessão, dos cinco ou seis filmes por dia. Prezo bastante a sala de exibição e a plateia, e tive ou presenciei sessões fantásticas, na Seleção Oficial, na Semana da Crítica e na Quinzena. Em 2005, o ano de Cinema, Aspirinas e Urubus, do Marcelo Gomes, apresentei Vinil Verde, na Quinzena, uma experiência maravilhosa passar aquele curta naquela sala. Foi especial. Fui parando de escrever aos poucos, e minha última cobertura foi em 2010, semanas antes de começar a filmar O Som ao Redor. Depois disso, fui mais como programador e cinéfilo, do Janela Internacional de Cinema do Recife. O ano de Aquarius foi incrível, diferente do Vinil, projetar o filme no Palais, aquela sessão incrível e a repercussão do filme no Brasil e no exterior. Estar de volta com Bacurau é fantástico, até por ser um filme de gênero brasileiro. Eu, Juliano Dornelles, que coescreveu e codirigiu comigo, e toda a equipe nos sentimos orgulhosos de representar o Brasil num palco internacional artístico e de mercado como o Festival de Cannes, num momento em que o Brasil precisa muito de uma representação positiva, através da sua arte e da sua Cultura.

Sonia Braga e Udo Kier estão no elenco do filme. É multilingue? Falado em português? Qual é a história? E o tema?

Eu não estragaria nunca o prazer de quem vai descobrir Bacurau naquele raro espaço de descoberta que é Cannes, antes dos filmes de fato ganharem o mundo, os spoilers, os emoticons positivos e negativos a começarem a pipocar nas redes! De qualquer forma, ter Sonia num outro filme completamente diferente de Aquarius mostra a artista curiosa pela aventura que ela é, e ter Udo nesse filme me traz a mesma sensação que tive e que voltei a ter de ter Sonia num filme meu. Udo Kier é um artista extraordinário e uma pessoa sem igual. Como Sonia, Udo é alguém que eu interrogava toda noite no jantar sobre os filmes que fez, sobre Fassbinder, sobre Madonna, Gus Van Sant, Dario Argento, uma experiência sensacional. Sim, filme bilíngue.

Aquarius provocou todos aqueles desdobramentos, por conta do protesto na escadaria do Palais. Faria tudo de novo? E o Brasil hoje?

Que orgulho de ter feito aquele protesto, que foi pacífico, simples e direto. Naquela época, o Brasil estava saindo de um sentido claro de democracia, todos nós apenas observamos isso. E hoje, aquele nosso protesto na escadaria do Palais mostra-se cada vez mais preciso e histórico. E, nesse momento, o povo brasileiro tem que lidar com um País que está correndo para o pior do nosso passado. /

Estadão
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