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Análise: O essencial do mestre John Woo está impresso em seus delirantes policiais

Quentin Tarantino, que descobriu o cinema do chinês quando trabalhava em locadoras

20 jun 2018 - 06h04
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Nascido na China, John Woo tornou-se cineasta em Hong Kong, antes que o território fosse devolvido aos chineses. Sua habilidade como diretor de ação levou-o a ser reverenciado nos EUA e na Europa, especialmente na França. Woo criou a imagem emblemática em que dois ou três personagens colocam a arma uns na cabeça dos outros, numa espécie de dança selvagem. Quentin Tarantino, que descobriu o cinema de Woo quando trabalhava em locadoras, assimilou o recurso e o reproduziu inúmeras vezes. Mas foi Jean-Claude Van Damme quem importou o diretor e o impôs a Hollywood em O Alvo, de 1993.

Por essa época, Woo já tinha mais de 20 anos de carreira, iniciada em 1968, com seu nome verdadeiro - Yusen Wu. Seus melhores filmes em Hong Kong são Alvo Duplo, Bala na Cabeça e Fervura Máxima, todos interpretados por Chow Yun-Fat, o astro de ação que virou alter ego do cineasta nessa fase. Não apenas os conflitos, mas a forma também é estilizada. No Dicionário de Cineastas, Rubens Ewald Filho destaca uma característica importante de Woo - a violência nunca chega a ser explicitada porque, no fundo, as cenas são grandes coreografias em que os pistoleiros voam e fazem piruetas, como se fossem dançarinos num musical de Busby Berkeley.

Destacam-se os temas. A própria cidade - Hong Kong - vira personagem, mas o que importa para Woo é mostrar os homens em conflitos de honra e dignidade, mais importantes que a própria vida. Quando migra para os EUA e se torna um estrangeiro na 'América', Woo, compreensivelmente, passa a privilegiar a questão da identidade. A Última Ameaça já mostra John Travolta e Christian Slater num jogo alternado de mocinho e bandido, mas em A Face Oculta, de novo com Travolta - como antagonista de Nicolas Cage - o jogo é de máscaras e um agente federal aceita colar à dele a cara de um notório criminoso, de forma a conseguir informações vitais.

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O jogo de máscaras prosseguiu em Missão Impossível 2, com Tom Cruise, mas o próprio Woo gosta de dizer que seu filme mais pessoal nos EUA foi Códigos de Guerra, de novo com Nicolas Cage, agora como militar encarregado de defender - com a própria vida - o índio navajo que guarda, com o dialeto da tribo, os segredos do alto comando norte-americano na Segunda Guerra Mundial. O ideal seria uma retrospectiva recuperando todo John Woo. A fase de Hong Kong é só um aperitivo, mas o essencial do diretor já está impresso em cada imagem de seus delirantes policiais.

Estadão
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