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Análise: Documentário de Petra Costa é uma narrativa em vertigem

A narrativa de 'Democracia em Vertigem' assume um lado, sem abordar diferentes visões sobre o episódio do impeachment e possui erros factuais

13 jan 2020 - 20h34
(atualizado às 22h19)
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O documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, vale pelas imagens de momentos privados e decisivos da história do País— desde o isolamento de Dilma Rousseff, sua reação quanto às traições de aliados que votaram por sua cassação, seus últimos minutos como ocupante do Palácio da Alvorada e suas conversas particulares com o ex-presidente Lula. Já a história não é bem assim.

A narrativa assume um lado, sem abordar diferentes visões sobre o episódio. Trata o impeachment como golpe, Lula como herói, Dilma como injustiçada, Aécio Neves como o "grande articulador" do processo, e aliados dos governos petistas como inimigos da direita que invadiram o Congresso para derrubá-la.

Não é à toa que Dilma Rousseff se apressou em divulgar nota comemorando a indicação do documentário ao Oscar. O comentário é quase um "spoiler". "O filme mostra o meu afastamento do poder e como a mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema-direita em 2018", escreveu a petista.

O telespectador é avisado logo de início que o filme é escrito, produzido, dirigido e narrado por uma militante petista, filha de perseguidos pela ditadura e neta de um fundador da empreiteira Andrade Gutierrez, que entrou na mira da Operação Lava Jato. Contar a história sob a ótica do diretor é do jogo.

Mas cabe apontar erros factuais, como: Dilma caiu porque não interferiu nas investigações sobre corrupção; Aécio Neves não aceitou o resultado da eleição e conduziu o processo de impeachment; foi a primeira vez em 20 anos que o Brasil prestou atenção ao que ocorria no Congresso. Essa abordagem maniqueísta não se sustenta nos fatos.

O que aconteceu foi diferente: uma sucessão de episódios levou à queda de Dilma (pedaladas fiscais, falta de apoio no Congresso, economia em colapso); Aécio embarcou no movimento de impeachment na última hora, quando as ruas já estavam tomadas e, desde a saída de Fernando Collor de Mello, em 1992, o País acompanha de perto sucessivos escândalos no Congresso. O próprio documentário mostra que a queda de Dilma não foi decidida "a portas fechadas por 600 parlamentares", como diz seu roteiro. São várias imagens de manifestantes nas ruas contra e a favor do impeachment.

Veja o trailer de 'Democracia em Vertigem':

Estadão
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