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Orphan Black: Confira nossa crítica da quinta (e última!) temporada

A jornada final das mil versões de Tatiana Maslany traz uma despedida emocionante e satisfatória para o 'clone club'. Cuidado com SPOILERS!

13 ago 2017 - 10h56
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Em 2013, estreava Orphan Black. Série canadense com uma premissa misteriosa e uma protagonista desconhecida. Ninguém poderia imaginar que ia surgir algo capaz de mobilizar tantos fãs apaixonados ao redor do mundo e apresentar o talento extraordinário de Tatiana Maslany. Cinco temporadas depois, o show chega ao fim tentando desvendar a história criada por Graeme Manson e John Fawcett.

Foto: AdoroCinema / AdoroCinema

Quem acompanha a jornada do clone club, já sabe que "o buraco é sempre mais embaixo". Assim como peças de dominó, cada parte da conspiração ao redor do Projeto LEDA apresenta uma nova camada de problemas. Primeiro foi DYAD, depois os clones do Projeto Castor e, por fim, a Neovolução. O surgimento de P.T. Westmorland (Stephen McHattie) indica que finalmente chegou a hora de descobrir como tudo começou. O público conhece uma ilha bizarra, cheia de seguidores que acreditam no mito ao redor do cientista. O início da temporada aposta em momentos de terror e suspense para criar mistério sobre as verdadeiras intenções dessa figura manipuladora, que não tem limites para atingir o que deseja.

Num determinado momento do show, P.T. grita que "o futuro é feminino". Afinal, ele pode até ser a figura central de sua crença, mas sabe que depende da força de várias mulheres. E tenta controlá-las a todo custo... Seja incentivando a rivalidade entre Susan (Rosemary Dunsmore) e Coady (Kyra Harper) - que foram as responsáveis pelos sucessos de seus experimentos. Ou isolando Kira (Skyler Wexler) e Helena em busca de uma mutação. Enganando Rachel. Manipulando as emoções de Mud (Jenessa Grant). Tentando causar uma briga entre Cosima e Delphine (Evelyne Brochu). Mais que um vilão, é o retrato de uma sociedade enraizada na rivalidade feminina.  

Outro diferencial da reta final foi a inserção de diferentes linhas temporais, para apresentar o passado das cinco clones protagonistas. Cada uma ganhou um episódio especial e a mais beneficiada foi Rachel. Sempre do lado antagonista da história, essa vilã nunca foi unidimensional, mas finalmente teve a chance de mostrar como se transformou nessa mulher fria que conhecemos hoje. Este episódio também abusa do elemento do terror numa cena chocante. Afinal, é Orphan Black. Precisa ter esse tipo de momento bizarro...

Já Alison e Helena foram esquecidas e só tiveram esses episódios especiais para brilhar, infelizmente. O sumiço da ucraniana até faz sentido, afinal sua "função" é brigar com inimigos, algo difícil quando se está grávida de gêmeos. Porém, Alison desapareceu depois de um ótimo episódio (com uma bela versão de "Ain't No Mountain High Enough") que prova como é importante para o grupo. O motivo? Surgir no fim da temporada, com um novo corte de cabelo e uma filosofia aleatória. Oi? 

Quem também poderia ter mais tempo de tela é Krystal, que traz uma dinâmica tão diferente e divertida para a atração. Prém nem aparece direito na finale e só participa de um episódio. As três personagens são queridas pelo público e poderiam ter sido mais exploradas, considerando que esta é a despedida das clones.

O que pode confortar os fãs é como o trabalho de Tatiana Maslany continua impecável. Diferente dos outros anos (quando algumas clones serviam apenas de apoio para determinado arco), todas suas personagens passaram por muitas emoções e, mais uma vez, ela soube diferenciá-las de maneira fenomenal. É uma pena que essa temporada não seja elegível para o Emmy 2017, pois a atual vencedora do prêmio consegue trazer outros níveis de profundidade para protagonistas já tão amadas. Até ficou repetitivo dizer, mas você realmente esquece que todas são interpretadas pela mesma pessoa.

Com tamanho talento de sua protagonista, o resto do elenco acaba sendo esnobado pela crítica. Apesar das clones LEDA terem mais destaque, os atores coadjuvantes também fizeram um bom trabalho - com destaques para Siobhan (Maria Doyle Kennedy), Felix (Jordan Gavaris) e Donnie (Kristian Bruun). O grande trunfo de Orphan Black são suas fortes personagens femininas, mas é bonito ver a união formada por seus familiares e amigos. Relembre M.K., por exemplo. Pouco explorada pela trama, a clone foi capaz de fazer um grande sacríficio, enquanto o grupo principal realmente fica em luto por seu final brutal - algo sempre mencionado quando Ferdinand (um ótimo James Frain) aparecia em tela.

Por falar em partidas, é impossível fazer uma crítica da temporada final, sem falar do melhor episódio desta leva: "A Guilhotina Decide". O pano de fundo da trama é a mostra de arte de Felix (personagem injustamente apagado nos últimos anos), que promoveu uma divertida troca de clones, em contraponto com o clima de suspense criado pelo plano de Siobhan para desmascarar a Neovolução. Se uma tocante cena de agradecimento destaca a importância da família, o embate final é trágico, mas reforça tal sentimento. O que você é capaz de fazer por aqueles que ama?

A relação entre Sarah e S foi o grande destaque nesta reta final, mostrando como a clone pode "ocupar" o lugar de líder protetora e ser uma pessoa melhor, graças à influência da mãe. É interessante ver que Fawcett e Manson decidiram inserir esse relacionamento na finale, não somente através dos flashbacks. Os primeiros minutos foram sequências cheias de ação, sangue e um emocionante parto de gêmeos. Então, muitos podem se surpreender quando surge um calmo epílogo focando nas dificuldades de Sarah para seguir em frente.

Apesar de teorias da conspiração e outras 273 clones por aí, a essência de Orphan Black é a jornada de Sarah. Normalmente, suas antigas inseguranças iam forçá-la a cometer os mesmos erros, porém tudo mudou, já que ela pode contar com o apoio total das irmãs (e do brother seestra, é claro). O sacrifício de Siobhan valeu a pena.

Com um final satisfatório, esta não foi uma série perfeita. Certas perguntas ficaram sem respostas e alguns arcos foram convenientes demais. Porém, é impossível negar a importância de sua representatividade. É impossível não comemorar uma narrativa que foca no poder feminino. E é impossível não apreciar tantos personagens cheios de empatia, envolvidos em tramas ousadas que fogem dos padrões da TV atual.

"A Guilhotina Decide" traz uma frase que resume bem toda a mensagem de Orphan Black: "Todos nós somos obras misteriosas do acaso, de escolhas, da Natureza versus Criação." Usando a ficção científica como metáfora da sociedade, o show apresentou complexas mulheres lutando pelo direito de controlar seus próprios corpos e vidas. E também ensina como é importante aceitar (e celebrar!) as diferenças. É a partir da união que surge a verdadeira força.  Essa é uma mensagem que merece ser compartilhada, principalmente nos dias atuais. Vai deixar saudades.

AdoroCinema
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