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Cine Ceará 2018: Balanço final do festival

Algumas ideias sobre os longas e curtas-metragens exibidos em Fortaleza.

13 ago 2018 - 12h09
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Durante pouco mais de uma semana, o AdoroCinema teve o prazer de acompanhar um dos mais tradicionais festivais brasileiros: o Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, que celebrou em 2018 a sua 28ª edição. A convite do evento, estivemos em Fortaleza e pudemos assistir a cerca de 15 longas-metragens e 15 curtas-metragens.

Foto: Thiago Gaspar / Divulgação / AdoroCinema

A oportunidade é valiosa não apenas para conferir em primeira mão filmes aguardados (Petra e Diamantino, destaques do festival de Cannes) mas também para descobrir produções menores dos vizinhos sul-americanos, que raramente chegam ao circuito comercial brasileiro. Os filmes do Peru, Colômbia, Panamá e Chile revelaram não apenas uma realidade local, mas também um estado específico da indústria cinematográfica de cada país, o que é saudável para pensarmos a cinematografia brasileira, por comparação.

Petra, de Jaime Rosales

Com a entrega dos prêmios e o encerramento da edição, é hora de traçar algumas ideias gerais sobre a experiência no 28º Cine Ceará. A mostra competitiva de longas-metragens trouxe filmes de alta qualidade, especialmente Petra e O Barco, que não por acaso dividiram os principais prêmios do júri oficial. Foi emocionante assistir às imagens deslumbrantes de Petra na tela do Cineteatro São Luiz. Além disso, é ótimo que a consagração do suspense espanhol aumente as chances de o filme ganhar um distribuidor nacional e chegar ao circuito comercial.

No entanto, filmes menos interessantes também integraram a disputa por prêmios, escancarando um abismo de qualidade e nível de produção entre os concorrentes. É saudável que a competição traga um olhar diversificado de toda a América Latina, além da Espanha e Portugal, por outro lado, a aproximação entre grandes produções (Petra, Diamantino) e filmes muito menores em orçamento e ambição (Amália, a Secretária, Anjos de Ipanema) depôs contra a presença dos pequenos.

Amália, a Secretária, de Andrés Burgos

Foi difícil enxergar uma visão única promovida pela curadoria, ou mesmo uma temática que atravessasse a competição como um todo. O que une uma comédia delicada como Amália, a Secretária ao documentário caseiro Anjos de Ipanema, à comédia grande e enlouquecida de Diamantino, e ao épico histórico de Cabras de Merda? Que forma de cinema o festival defende, através de sua seleção? Pela disparidade entre as obras, não é de se espantar que poucos títulos tenham concentrado tantos prêmios, enquanto outros saíram de mãos abanando. A conversa entre obras seria um ponto a reforçar num festival deste porte.

Entre os curtas-metragens, talvez a seleção tenha sido mais homogênea, embora o consenso obtido entre críticos e jornalistas aponte para o resultado pouco estimulante de muitos filmes. Os críticos sabem, pela experiência em outros festivais e eventos, que a produção nacional de curtas está repleta de bons exercícios de linguagem, provocações na forma e no conteúdo, produções politizadas e refinadas que, no entanto, não chegaram ao festival.

Nova Iorque, de Léo Tabosa

É sempre um prazer assistir a curtas do nível de Plantae, Nova Iorque e O Vestido de Myriam, porém a maioria dos filmes encontrava dificuldades em desenvolver um discurso preciso ou trabalhar a contento os aspectos técnicos e estéticos. Seria importante o festival repensar a seleção de curtas-metragens, com uma curadoria muito mais ambiciosa.

A maior surpresa se encontrou na mostra peruana: embora o país tenha sido o grande homenageado deste ano, nenhum filme peruano constava na seleção oficial, e a mostra específica do país ficou reservada para uma semana antes da exibição oficial do Cine Ceará, de modo que a imprensa nacional não teve a oportunidade de presenciar os títulos peruanos. Seria fundamental que a mostra do país escolhido corresse em paralelo com a competição oficial, para que os títulos dialogassem entre si.

Rosa Chumbe, de Jonatan Relayze

Os dois títulos que a organização gentilmente exibiu aos críticos, em caráter excepcional, foram muito bons, sinal de que esta curadoria tinha outros projetos interessantes a exibir. O belíssimo Rosa Chumbe representou um dos títulos mais ousados de toda a 28ª edição, enquanto Sob a Influência constituiu um espaço saudável para obras conceituais.

Em paralelo, o Cine Ceará efetuou homenagens belas e certeiras a Renato Aragão, Antônio Pitanga e Tito Almejeiras, além de terminar em ponto alto com a promissora série Cine Holliúdy. De modo geral, o evento se mostrou capaz de equilibrar a atenção ao cinema cearense com o olhar para outros estados e países, numa comunicação que faz do Cine Ceará um festival singular dentro do calendário brasileiro.

A série Cine Holliúdy, de Halder Gomes

Além disso, a imprensa foi muito bem acolhida pela assessoria de imprensa, com uma organização funcional e prestativa. As festas promovidas pelo evento também ajudaram a estabelecer um contato necessário entre o festival e os moradores da cidade. Esperamos que a 29ª edição venha ainda maior, mais ambiciosa e coesa, se possível deixando um espaço maior na agenda para um respiro entre as longas sessões noturnas.

De qualquer modo, um festival que apresentou, nos últimos anos, filmes do porte de Petra, O Barco, Diamantino, Uma Mulher Fantástica, Últimos Dias em Havana, Menino 23, O Clube, Jauja e Cavalo Dinheiro merece os nossos aplausos.

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Leia todas as críticas dos longas-metragens 28º Cine Ceará:

Amália, a Secretária

Anjos de Ipanema

O Barco

Cabras de Merda

Che, Memórias de um Ano Secreto

Diamantino

Eduardo Galeano Vagamundo

Muitos Filhos, um Macaco e um Castelo

Panamá Al Brown, Quando o Punho se Abre

Petra

Rosa Chumbe

Senhorita Maria, a Saia da Montanha

Sob a Influência

Sol Alegria

AdoroCinema
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