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'A Esposa' consagra Glenn Close, vencedora do Globo de Ouro

No filme, a artista norte-americana interpreta a mulher de um escritor que acaba de ganhar o Prêmio Nobel

10 jan 2019 - 03h11
(atualizado às 11h07)
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Glenn Close ganhou o Globo de Ouro por sua atuação em A Esposa. Nada mais justo e esse triunfo já a credencia como uma das favoritas ao Oscar. Confiram o filme que entra agora em cartaz e vejam como é excelente sua composição da personagem Joan Castleman, mulher de Joe Castleman (Jonathan Pryce), que acaba de ser agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.

Glenn Close, ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Atriz por 'A Esposa'
Glenn Close, ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Atriz por 'A Esposa'
Foto: Mario Anzuoni / Reuters

Quando recebe a notícia de Estocolmo, por telefone, o casal celebra dançando em cima da cama, enquanto Joe cantarola: "Eu ganhei o Nobel, eu ganhei o Nobel!". A cançãozinha encontrará uma rima interna em outra situação do casal, muitos anos atrás, quando eles tinham outra coisa para comemorar. É uma espécie de dica para o espectador de que essa vitória comporta certas arestas.

Outra é a relação do recém-premiado com seu filho, David (Max Irons), que, para sua desgraça, resolveu também seguir a carreira de escritor. Não existe peso maior para um filho do que seguir os passos de um pai gigante e, eventualmente, tentar superá-lo. Mais ainda porque Joe Castleman (bela atuação também de Jonathan Pryce) é um tipo ególatra, priápico, daqueles que querem ter o mundo a seus pés. Porém, em momento algum Pryce o transforma em caricatura. Em todo caso, Joe adia o quanto pode, porém de maneira sutil, a leitura de um manuscrito que o filho lhe entregou pedindo sua opinião.

Aliás, as sutilezas é que fazem o bordado desse filme de Björn Runge, cuja trama, inexplicavelmente, se torna meio óbvia no final. Mas até ali ele vai bem.

Outra dica de que nem tudo são rosas familiares nessas relações familiares é o pedido de Joan para o marido: "Por favor, não me agradeça quando for receber o prêmio". O pedido é tão enigmático quanto a negativa do premiado em atendê-lo.

Há ainda a presença de um melífluo candidato a biógrafo do escritor, Nathaniel Bone (Christian Slater), sempre hostilizado pelo potencial biografado.

Ele é como um grilo falante em meio à efusão do prêmio. E também ele, com seu estudo aprofundado do personagem sobre o qual deseja escrever, é quem melhor conhece seus segredos e pontos fracos.

A narrativa se dá em dois tempos. No presente, com a viagem do casal e do filho escritor a Estocolmo, com os preparativos para a cerimônia e a entrega do prêmio propriamente dita. Esse presente é entremeado por imagens do passado, quando um jovem Joe é ainda um professor que luta para escrever e ser publicado. Nesse tempo, ele se apaixona e se casa com sua aluna mais talentosa, Joan.

No mais, o filme é uma glosa crítica daquela frase tão bem-intencionada quanto machista: "Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher". A palavra a ser retida aí é "atrás" e é essa mentalidade que a evolução feminista tem criticado e alguns fatos negaram antes de qualquer movimento. Por exemplo, ninguém se atreveria a dizer que Simone de Beauvoir era a grande mulher "atrás" de Jean-Paul Sartre. Donos de obras próprias, andavam juntos. E, às vezes, separados, pois eram duas individualidades.

Construído por Björn Runge em feitio clássicão, A Esposa é aquele tipo de filme que discute assuntos importantes, sem ser, ele mesmo, ousado ou inovador. Põe em evidência o protagonismo feminino, escondido por conveniências às vezes escusas. No mesmo sentido, coloca em pauta a questão da autoria, que vem sendo discutida ultimamente em títulos como O Escritor Fantasma e, mais recentemente, em Colette, sobre a escritora francesa. A pergunta que fica: o que é um autor?

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Estadão
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