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Niemeyer leva curvas brasileiras à Inglaterra pela 1ª vez

A obra do arquiteto na Inglaterra

Quarta, 18 de junho de 2003, 16h49

As mais famosas curvas da arquitetura brasileira vão chegar pela primeira vez aos britânicos na quinta-feira, em formato menor, mais leve e por um curto período de três meses.

"É uma coisa pequena... A idéia era que eu mostrasse a minha arquitetura e, para ficar mais de acordo com o que eu faço, suspendi a construção um metro do chão, para ela parecer mais leve, e fiz uma forma mais livre, como é a arquitetura que nós fazemos aqui no Brasil", disse Oscar Niemeyer, escolhido o arquiteto do ano pela galeria londrina Serpentine.

Ele foi convidado para desenhar o pavilhão provisório para as mostras de verão que acontecem no jardim da galeria, situada entre Hyde Park e Kensington Gardens.

Londres terá de Niemeyer o mesmo que ele teve de Londres: uma visão fugaz. "Estive por lá há uns 30 anos por dois dias só. Conheço o país muito mais por leitura", contou o carioca de 95 anos.

"Na época, fiz uma palestra na Universidade de Oxford e me pediram um projeto, uma habitação de alunos. Mas nunca saiu do papel", recordou ele, que recebeu a Royal Gold Medal do Instituto Real de Arquitetos Britânicos em 1998.

A generosa amostra grátis de Niemeyer aos britânicos poderá parar no jardim de algum pretendente milionário. O trabalho de 250 metros quadrados e 8,5 metros de altura foi avaliado pela própria galeria em 200 mil libras, cerca de 960 mil reais.

"A técnica teve de mudar. No lugar do concreto armado, que trabalhamos normalmente por ser mais econômico, usamos uma estrutura metálica porque tinha de poder transportar, fazer outra vez em outro lugar", explicou Niemeyer.

"Me deu muito prazer em fazê-la, é uma obra na Inglaterra, nunca tinha feito nada lá."

Os projetos de Niemeyer modernizaram a arquitetura brasileira na década de 40 e, durante a ditadura, quando se exilou em Paris, conseguiu reconhecimento mundial. Hoje ele é considerado um dos artistas mais inovadores do século 20, com trabalhos em diversos países como Estados Unidos, Alemanha, França, Argélia e Itália.

Niemeyer tem medo de viajar de avião. Ele não vai à festa de inauguração da galeria Serpentine, cujas mostras costumam receber cerca de 200 mil pessoas durante os três meses de temporada.


NOVO AUDITÓRIO E NOVO MUSEU

O aparente cansaço, a fala mansa e os gestos lentos de Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares não precisam ser interpretados como uma redenção do gênio à aposentadoria.

"Continuo trabalhando, vendo os amigos, converso, levo uma vida normal. Não há nada diferente. Gosto de ler, de ouvir música, nada de especial", disse. "Só quero viver como um bicho qualquer, que gosta de mulher, gosta de brincar, gosta de tomar um drinque".

O arquiteto segue desenhando sem parar no seu escritório, localizado na orla de Copacabana. Pelas paredes brancas, desenhos recordam rostos de mulheres e obras consagradas como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, de 1991.

Sua agenda está agitada para os próximos anos. Ele deve completar dois de seus maiores projetos, o parque Ibirapuera, em São Paulo, e a capital federal, com o Auditório de Música e o Museu Nacional de Brasília, que constavam nos planos originais da década de 50, mas nunca saíram do papel.

"Antigamente, e até hoje, você vinha à Praça dos Três Poderes, passava pelos ministérios e quando chegava na Catedral era terra vazia. Durante 50 anos ficou assim, tinha bastante espaço", contou Niemeyer.

"Mas agora (o governador Joaquim) Roriz resolveu fazer o museu, enfim, completar a obra original. Feito isso, Brasília está pronta e é partir para outra."

O auditório, projetado junto com todo o complexo do parque Ibirapuera para celebrar os então 400 anos da cidade, será construído com investimento de 25 milhões de reais de uma empresa de telefonia móvel e deverá sediar, já em 2004, o festival de música que substituirá o extinto Free Jazz.

"É só um auditório, nada de espetacular", disse o arquiteto com um leve tom de melancolia. "A arquitetura não é importante. Importante são as pessoas. Lógico que sonhar é preciso, assim como rir, chorar, fazer versos, escrever..."


FANTASIAS E CIDADES

Foram exatamente os sonhos que alavancaram a carreira de Niemeyer. Assim que terminou a Faculdade de Belas Artes, em 1935, foi trabalhar de graça no escritório de Lucio Costa, para escapar da arquitetura comercial disseminada na época.

Da parceria surgiram as primeiras obras modernas do Brasil. O Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, e o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, são as principais. Depois, vieram o conjunto Copan e o parque Ibirapuera, em São Paulo, e a cidade do futuro, Brasília.

A deterioração destas cidades, palcos da revolução arquitetônica brasileira, assusta qualquer um hoje em dia. Niemeyer parece mais conformado.

"Brasília tinha como objetivo levar o progresso para o interior do país e isto foi feito. De resto, é uma cidade como as outras, desregrada, carcomida pelo poder imobiliário e muitas pessoas querendo adicionar coisas que não interessam, ocupando espaços que deviam ser vazios."

Já com São Paulo, a decepção é grande. "É péssimo realmente", falou ele, dando de ombros. "Numa ocasião, propus arrastar uma das margens do Tietê e por uns 10 quilômetros fazer uma praia, que é o que falta em São Paulo. Mas não tiveram coragem de fazer."

"Tinha um amigo meu, Tom Jobim, que dizia que queria ir a São Paulo de maca para poder ver o céu", lembrou Niemeyer, abrindo um sorriso.
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Reuters

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