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Livro sobre Roy Neuberger explica sua paixão pela arte desconhecida
Sexta, 07 de março de 2003, 14h05
Roy Neuberger, 99 anos, pagou US$ 800 em 1950 por uma tela que um artista em difícil situação financeira havia chapiscado de tinta. O artista era Jackson Pollock. O quadro hoje está avaliado em US$ 50 milhões, segundo especialistas em arte. Neuberger, fundador da corretora Neuberger Berman Inc., compra e vende ações avaliadas em milhões de dólares há 73 anos. Ele vendeu suas ações da empresa na abertura de seu capital, em 1999, mas afirma que jamais venderá seu Pollock. Nem nenhuma das outras mil obras que comprou desde a década de 30, que fizeram dele uma das mais importantes personalidades da arte norte-americana. "Para mim, vender seria um ato criminoso", declarou Neuberger em uma entrevista. "As ações flutuam e não tenho dificuldade em comprar ou vender. Em arte, compro porque amo a obra". Neuberger tornou-se colecionador em uma época que patronos como o financista Joseph Hirshhorn e o magnata do petróleo John Paul Getty, entre outros, competiam para comprar obras de arte importantes. Hoje, o Museu Hirshhorn faz parte da Smithsonian Institution, em Washington, e o Museu J. Paul Getty é uma atração turística de Los Angeles. O Pollock "Número 8, 1949" está exposto, atualmente, no Neuberger Museum em Purchase, Nova York, e pode valer até US$ 50 milhões, afirma Matthew Carey-Williams, vice-presidente do departamento de arte contemporânea da casa de leiloes Sotheby's. "Sua coleção foi na verdade muito arriscada", afirma Barbara Haskell, curadora de arte americana do início do Século XX do Whitney Museum of American Art de Nova York, para o qual Neuberger doou 32 obras. "Ele comprou obras que não eram reconhecidas pelo 'establishment' ou mesmo entre os membros do mundo da arte. Agora, eles são mestres certificados do cânone da arte americana", diz Barbara. Em seu novo livro The Passionate Collector: Eighty Years in the World of Art, (John Wiley & Sons, 2003), Neuberger relembra de seu interesse desde quando tinha 18 anos e estudou arte. "Descobri que nunca seria um pintor de primeiro nível", escreve, "mas percebi que amava arte e tinha um bom olho para isso". Ele então começou a comprar arte e ajudou a criar duas gerações de colecionadores de arte sérios, por meio de seu exemplo, conta Bruce Ferguson, reitor da Escola de Artes da Columbia University. "É um dos grandes colecionadores de uma geração que acreditava ser a arte fundamental ao desenvolvimento humano. Depois, abriu caminho para garantir que outros homens de negócios também acreditassem nisso". Órfão aos 12 anos, Neuberger abandonara a New York University e trabalhava em uma loja de departamentos quando decidiu, em 1924, pegar parte de sua herança de US$ 30 mil e ir para Paris. Lá permaneceu por cinco anos, trabalhou para uma empresa de decoração e visitava o Louvre três vezes por semana. Sua vida mudou ao ler uma biografia de Vincent Van Gogh que relatava como o pintor vendeu poucos quadros antes de morrer. "Isso fez vir à tona minha paixão juvenil", lembra Neuberger. "Decidi voltar para os Estados Unidos, para fazer fortuna e comprar a obra de artistas vivos desconhecidos". Neuberger concluiu que sua missão era apoiar artistas para que suas obras fossem reconhecidas enquanto ainda estivessem vivos. Em 1929, começou a trabalhar em Wall Street, dois meses antes do crash da Bolsa de Valores. Sobreviveu em parte por meio de vendas a descoberto de ações emprestadas que mais tarde substituiu com ações compradas a preços inferiores. Fundou a Neuberger Berman em 1939. Sessenta anos depois, a empresa abriu seu capital com valor de mercado de US$ 1,65 bilhão, quando vendeu 7,25 milhões de ações - 14% das ações da empresa - a US$ 32 cada, por US$ 232 milhões. Na época, Neuberger detinha 192 mil ações, segundo Andrea Trachtenberg, porta-voz da empresa. Neuberger vendeu suas próprias ações e manteve as reservadas para seus três filhos. Em vez de vender, Neuberger doou centenas de trabalhos para museus como o Metropolitan Museum of Art e o Museum of Modern Art em Nova York, além do Whitney. A maior parte de sua coleção, cerca de 800 peças, é de propriedade do Neuberger Museum, no campus da State University of New York, em Purchase. Ele prometeu ao museu mais 200 obras, segundo Lucinda Gedeon, diretora do museu. Em 1969, o estado ofereceu patrocínio para a construção do museu, projetado pelos arquitetos Philip Johnson e John Burgee, caso Neuberger doasse sua coleção. Ele depois forneceu cerca de um terço dos fundos da fundação de US$ 15 milhões do museu, afirma Gedeon. A beira de seu centésimo aniversário, em julho, Neuberger diz que sua paixão pela arte pode ter um pouco a ver com sua longevidade. "Eu realmente acredito que é melhor para uma pessoa ter uma certa irracionalidade por amar algo do que por odiar", finaliza.
Investnews/Gazeta Mercantil
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