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Exposição mostra o salto proletário na arte

Sexta, 13 de setembro de 2002, 13h01

O centenário de Francisco Rebolo (1902-1980), que tem como marco a exposição aberta no mês passado no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), ganha agora mais um desdobramento. Organizada paralelamente, a mostra Operários na Paulista - MAC USP e Artistas Artesãos relata a experiência do Grupo Santa Helena, um dos mais importantes movimentos artísticos da arte moderna brasileira, do qual Rebolo foi um expoente.

Montada basicamente com o acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC), a mostra compõe um painel da atuação dos integrantes do Santa Helena. São no total cem obras de artistas que compõem o segundo momento do modernismo, de uma forma diferente daquela delineada no início por pioneiros como Tarsila do Amaral.

Enquanto os primeiros movimentos foram orquestrados pela elite econômica da sociedade paulista, depois das mudanças políticas e sociais vividas pelo país nos anos 30 e 40, quem assume as rédeas da renovação artística são aqueles que o escritor Mário de Andrade percebeu como "artistas proletários". No entanto, ao contrário do que o significado marxista adotado pela palavra faz pensar, o grupo que se formou não teve ideais políticos. Seu caráter operário se relacionou a suas origens humildes, de uma classe social que cresceu nos arredores de São Paulo, como avalia Alice Brill em estudo sobre Mário Zanini.

Seus quadros, como se poderá ver na mostra, são o retrato de uma cidade que começa a se industrializar, a identidade artística não mais vinculada aos arroubos exóticos das figuras que marcam o início do modernismo, mas sim no cotidiano real das pessoas, a cidade habitada pela grande leva de imigrantes e seus descendentes que o país havida recebido.

A exposição traz telas de todos os integrantes do grupo, que, além do já citado Rebolo, era composto por artistas que exerciam ou já haviam trabalhado em atividades comuns nas classes mais humildes. Alguns, como Alfredo Volpi, Francisco Rebolo (que também foi jogador de futebol) e Zanini eram artesãos. Outros exerceram funções pouco relacionadas ao métier artístico. O italiano Fúlvio Pennacchi aqui trabalhou como açougueiro até conseguir um cargo de professor no colégio Dante Alighieri; Clóvis Graciano havia sido ferroviário e ferreiro; Manoel Martins foi aprendiz de ourives; Alfredo Rizzotti, torneiro; Aldo Bonadei, bordador. Entretanto, muitos haviam estudado arte no Liceu de Artes e Ofícios ou até em escolas européias.

O aprendizado autônomo desses artistas, passados à história como autodidatas, foi relativo. Sozinhos, na verdade, construíram um nova linguagem artística, desvinculada dos preceitos acadêmicos. Isto não significa que sua união tenha se dado como uma revolta consciente contra os cânones estabelecidos. O Grupo Santa Helena se formou quase espontaneamente e somente anos mais tarde foi reconhecido como grupo.

Tinham grande apreço pela técnica. Isso fez com que Mário de Andrade observasse neles um certo medo de errar, que impedia a expressão artística plena. Apesar da arte nova que construíram, não eram artistas marcados pela ousadia, como ressalta a curadora da mostra, Elza Ajzenberg. Ainda assim, romperam com a tradição ao sair de seus ateliês para percorrer a cidade em busca de temas.

A reunião destes artistas teve como ponto inicial a praça da Sé, então ponto principal da cidade. Na escadaria da Catedral, os artesãos ofereciam seus trabalhos de construção e decoração. Ali, tão próximos, travavam os primeiros contatos os "pintores de liso", como se denominavam na época os encarregados de pinturas decorativas em paredes. O primeiro desses pintores foi Rebolo, que montou ateliê no palacete Santa Helena, edifício demolido em 1971. Logo outros lhe seguiram o exemplo e, em pouco tempo, vários artistas circulavam pelo local.

Dividiram ateliês e despesas com modelos vivos indispensáveis aos seus estudos. Descobriram que tinham em comum a aversão pela arte acadêmica. Por isso, apesar do apreço à técnica, uniram-se para percorrer a cidade em busca de motivos para suas pinturas. Amigos que permaneceram quase toda uma vida juntos, lutavam pelo que Rebolo chamava de "pintura pela pintura", num claro desejo de ascensão social traduzido pela idéia de viver da arte pura.

Ainda que unidos por um mesmo projeto, guardaram características individuais marcantes. Entre eles havia companheirismo, nunca imposições, até porque não existia projeto claro a ser seguido, como ocorrera com o primeiro grupo modernista.

Os santahelenistas trabalharam e só depois percebeu-se que engendravam algo completamente novo para a arte brasileira. Muitos críticos da época, contudo, como Mário Schemberg, Mário de Andrade e Sérgio Milliet, encorajaram-nos vivamente. Como relata Clóvis Graciano em depoimento reproduzido na tese "Rebolo, uma Poética da Paisagem", de Célia Lúcia Campos, "era um grupo mais de pintores artesãos que procuravam reformar a pintura acadêmica e havia um trânsito de conhecimento entre eles (...). Permutavam conhecimentos, permutavam técnicas e acabaram fazendo uma coisa, para a época, muito importante."

Os temas dos seus quadros são os arrebaldes, os tipos populares, trabalhadores anônimos, também as naturezas-mortas, além, é claro, dos estudos realizados no ateliê. A mostra traz um exemplo desta atuação conjunta dos artistas do Santa Helena, um mesmo modelo nu retratado por Rebolo e Pennacchi. A curadoria, coordenada por Daisy Peccinini e Elza Ajzenberg, também escolheu obras que revelam o desenvolvimento dos artistas, mostrando algumas obras do período posterior ao Santa Helena.

Em 1940, Paulo Rossi Osir funda a Osiarte. A empresa torna-se responsável pela retomada do uso do azulejo nas obras locais. Sua importância na arte brasileira pode ser medida pela dimensão de sua primeira encomenda, a decoração das paredes externas do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, uma obra de Cândido Portinari. A Osiarte trabalhou com artistas do Santa Helena, como Volpi e Zanini, até fechar, em 1959.

Outro grupo importante retratado na mostra é a Família Artística Paulista, da qual participavam membros do Santa Helena. Este grupo, sim, caracterizava-se como um movimento, unido que estava para abrir espaço ao artista ausente tanto do círculo dos salões acadêmicos como dos modernistas. Enquanto os artistas do Santa Helena nunca expuseram em conjunto, a Família organizou três mostras. Na última delas, o Santa Helena começava a se dissipar, um proceso que terminaria definitivamente em 1945. Seus artistas estavam preparados para caminhar sozinhos rumo à maturidade.
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Investnews / Gazeta Mercantil

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