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Fotógrafo German Lorca exercita seu olhar surrealista do cotidiano

(Foto: Reprodução)

Sexta, 19 de julho de 2002, 15h58

Desde que, aos 26 anos, em 1948, German Lorca passou a se dedicar à fotografia, artística ou publicitária, nunca mais teve outra ocupação senão lançar pelas lentes um olhar especial, enxergando em pequenas cenas uma beleza que somente seus olhos captavam. Esta jornada em busca da melhor imagem parece longe de terminar. Lorca, que há poucos meses completou 80 anos, tem disposição para inúmeros projetos, tantos que mal consegue prosseguir com todos ao mesmo tempo. O público poderá conferir o entusiasmo do fotógrafo no encontro promovido pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), no sábado (20), às 15h. O evento faz parte da série "Conversas no MAM", realizadas no espaço expositivo. Lorca conversará com o público sobre seu trabalho como fotógrafo.

Se o Brasil já no século XIX teve seus primeiros fotógrafos, somente na década de 40 começam a surgir aqueles que renovariam a linguagem da fotografia, tratando de revesti-la de conteúdo artístico. Entre eles, os amigos Geraldo de Barros, German Lorca e José Yalenti. Com estes nomes a fotografia se modificou, livrando-se da forte tendência documental que marca sua trajetória no país. "A descoberta das linhas, planos e ritmos dos objetos levou a fotografia brasileira a um novo patamar existencial. Não se tratava, contudo, de um simples exercício formalista, pois se baseava primordialmente na aceitação generosa e indiscriminada da vida em seus aspectos cotidianos", relatam Helouise Costa e Renato Rodrigues no livro "A Fotografia Moderna no Brasil". German Lorca vivencia exatamente este momento, descobrindo estas novas possibilidades a partir do fim dos anos 40 e principalmente na década de 50, quando a geometria do concretismo assume um caráter definitivo na sua obra, também por forte influência do amigo Geraldo de Barros, um dos precursores do movimento em São Paulo e membro do Grupo Ruptura, ao lado de Luís Sacilotto e Lothar Charoux, entre outros.

Antes de entrar para o Foto Cine Clube Bandeirante (leia texto nesta página), Lorca trabalhou como contador. De fotografia, gostava desde menino, quando o jornal "O Estado de S. Paulo" publicava no "Suplemento em Rotogravura" ensaios fotográficos. Mais tarde ganhou uma máquina, mas ainda não era o momento de seguir novos rumos. Somente em 1948 iniciou seu aprendizado, ao se tornar sócio do Foto Cine Clube Bandeirante. Foi o único período em que recebeu algum tipo de orientação. Como tantos da época, sempre foi autodidata. "Não existiam escolas. Aprendíamos mesmo nestes clubes. Estes amadores eram médicos, engenheiros, químicos. Entendiam de ótica, processos de revelação", lembra Lorca. Sobre os contatos que fez na época, ele diz que "era da ala do Geraldo de Barros". Thomas Farkas, outro sócio ilustre, andava um pouco afastado do fotoclube no período em que Lorca ali permaneceu, entre 1948 e 1952.

Provocações

"Fazíamos fotografias mais modernas, que provocavam muitas discussões. Eram coisas do cotidiano, um pouco impressionistas. Minhas fotografias são de cenas do cotidiano. O cotidiano sempre traz inovações", afirma Lorca. Este olhar sobre as pequenas coisas estava sempre marcado por algo que aprendeu principalmente sob a orientação de Geraldo de Barros: a composição perfeita, buscando o equilíbrio das linhas da cena. A busca pelo ponto de ouro nas suas fotografias é quase uma obsessão. "O Geraldo tinha estudado pintura, sabia dessas coisas", diz Lorca. A geometria do espírito concretista que marcava tanto o trabalho de seu amigo enfim chegava à fotografia.Descobriu o trabalho de fotógrafos estrangeiros, como Henri Cartier-Bresson, estampado em revistas. Mas aparentemente não foram essas as grandes influências. "Alguns percebem semelhanças, mas os conheci muito tarde. Acho que sou mais impressionista, gosto do cotidiano", explica ele. E ao contrário de conhecidos fotógrafos que são fiéis a uma máquina, Lorca trabalha com todas, apesar de admitir a preferência pela Leica. "É bom mudar com a necessidade do assunto", diz.

No início era amador, como a maioria dos sócios, e trabalhava mesmo como contador. Mas depois de realizar um trabalho como fotógrafo, percebeu que podia ganhar mais com a fotografia que como contador. "Nesse tempo fiz muitos casamentos e fotos técnicas, eventos, como a inauguração da Catedral da Sé. Anos depois descobri que tinha fotografado o casamento de Haroldo de Campos." Foi o passo decisivo para o início de uma bem-sucedida carreira como fotógrafo publicitário. Em 1952 abriu seu primeiro estúdio.No mesmo ano, com a ajuda dos amigos que freqüentavam os círculos de arte, como Francisco Rebolo e Lothar Charoux, abriu sua primeira exposição, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Pouco antes, em 1947, ajudou a fundar, com Geraldo de Barros e Thomas Farkas, o Laboratório de Fotografia do Museu de Arte de São Paulo (Masp), para cursos externos e também para atender ao museu. A escola foi desativada, e só retomaria as atividades na década de 70, quando, finalmente, surgem as primeiras escolas de fotografia da capital paulista.

Mostras de destaque

Depois disso, foram raras as ocasiões em que pôde realizar mostras individuais, mas pelo menos três merecem destaque. Por incentivo de Pietro Maria Bardi, diretor do Masp, realizou ali duas exposições, em 1978 e em 1993. Teve também uma sala especial na II Bienal de Fotografia de Curitiba.O MAM de São Paulo, além de ter sido o primeiro lugar onde German Lorca pôde expor, é hoje a instituição que tem o maior acervo de suas obras, 44 fotografias doadas pelo artista, em parte como reconhecimento pelo trabalho que o museu tem realizado no sentido de valorizar a fotografia. Não por acaso, há várias reproduzidas no livro "Fotografias", uma seleção de 150 obras do acervo, lançado recentemente. Além do MAM, somente o Masp tem obras do fotógrafo no seu acervo, três trabalhos que foram incorporados à Coleção Pirelli, em 1997.

Nem mesmo o salto de qualidade da fotografia nos anos 50 deu grande status à fotografia artística. Hoje, entretanto, Lorca está mais animado com a atividade, depois de perceber que nos últimos anos há colecionadores interessados em comprar suas fotografias. Também soube que na Alemanha, onde o MAM exibiu alguns de seus trabalhos, muitos se interessaram em adquirir seus trabalhos. Ele pensa em, talvez, organizar alguma exposição em terras germânicas.

Enquanto isso não acontece, o fotógrafo continua trabalhando nas sua séries. Há cinco anos decidiu se dedicar somente à fotografia artística, que ele nunca abandonou, mas na qual agora pode investir mais, com o tempo que essa aposentadoria lhe permite. Tem dado continuidade a uma longa série, iniciada em 1966, da qual pouco foi visto: antigos alambiques. Apesar de fotografá-los há décadas, Lorca acredita que o ensaio está longe de terminar. Atualmente está empenhado em composições em cores. "São bem modernas. Alguém me disse que parece Andy Warhol", diz ele. "Ficou um espírito de que a realidade da fotografia é sempre em preto e branco. Além disso, parece que as coloridas não duram muito", afirma ele, explicando por que nunca expôs imagens coloridas.

A obra atual de Lorca, como parte da série Nova York e a série do Ibirapuera, que ele ainda não terminou, revelam um momento de maturidade. "Nos anos 50, havia um rigor geométrico muito grande, mas, paralelamente, ele tem uma produção mais voltada para a descoberta do surrealismo no cotidiano, como o encontro da cadeira com o guarda-chuva. Além disso, tem uma produção figurativa. Hoje podemos dizer que ele funde tudo isso", diz Helouise Costa. Enfim, continua fotografando a vida que nos cerca, guardando pedaços da nossa memória, como ele próprio define seu ofício.
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Elaine Bittencourt /InvestNews
Gazeta Mercantil

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