Primeiro trabalho de Olivia Byington chega em CD
Quinta, 11 de outubro de 2001, 16h18
Surgida no final dos anos 70, a cantora carioca Olivia Byington foi recebida com estranhamento. Tinha opiniões fortes ('Chico, Milton e Caetano são velhos ultrapassados. Gravar coisas deles não acrescenta nada à minha geração', disse numa entrevista em 1978), estava com 19 anos, estudava piano clássico e foi a pioneira entre as cantoras 'ecléticas', com uma década de vantagem sobre Marisa Monte.
Sua música circulava entre o erudito, o progressivo e o popular e, não por acaso, o disco de estréia se chamava Corra o Risco. Foi um risco calculado - um salto com os perigos considerados, ainda que alguns dissessem que Olivia só estava lançando o disco porque era sobrinha do dono da gravadora. A audácia pode ser conferida agora, 23 anos depois, quando Corra o Risco chega ao CD, dentro da série Dois Momentos, ao lado de um outro disco de Olivia, Melodia Sentimental, de 1987.
Olivia não reverenciava as cantoras que haviam chegado antes dela - Elis Regina, Nara Leão, Maria Bethânia e Gal Costa - e também não se identificava com suas contemporâneas - Marina, Angela Ro Ro e Zizi Possi. Por esse auto-isolamento, passou por constrangimentos, como ver, em algumas lojas, seu disco ao lado dos de Olivia Newton John.
No primeiro disco, cercava-se dos seus amigos do grupo A Barca do Sol. Formado na metade dos anos 70, A Barca do Sol trazia Jacques Morelenbaum (violoncelo, piano e voz), Nando Carneiro (violão e voz), Muri Costa (violão e viola), Marcelo Costa (bateria e percussão), Beto Resende (guitarra), Alan Pierre (baixo) e Marcelo Bernardes e David Ganc (flautas). Às vezes, o inglês Richard Court, o ainda desconhecido Ritchie, também participava tocando flauta.
A inspiração vinha dos grupos progressivos Genesis e Jethro Tull, mas com um filtro brasileiro, tendo o compositor Egberto Gismonti como mentor. Olivia já era próxima de Morelenbaum, com quem havia trabalhado no grupo Antena Coletiva, e a opção por se cercar dos velhos amigos confirmava o desejo de Olivia de ser uma voz para sua geração. Em Corra o Risco, ela estava acompanhada pela Barca do Sol e nove das 11 letras das composições eram assinadas pelo poeta Geraldinho Carneiro, sendo que uma delas - Luz do Tango - trazia uma rara parceria do compositor argentino com um letrista brasileiro.
Dois anos depois - já na Som Livre -, a cantora mudava o rumo. Em Anjo Vadio, gravava compositores mais antigos (como Luiz Melodia e Sueli Costa), e na capa aparecia saindo do mar com a camisa molhada. A seqüência desse trabalho passava pela pacificação com a linha evolutiva da MPB, com a aproximação de Olivia com Chico Buarque e Nara Leão e a viagem a Cuba, onde participou de festivais e gravou o disco Identidad ao lado de nomes da Nova Trova Cubana, como Pablo Milanés e Silvio Rodriguez. Mais ecletismo ainda estaria por vir em 1984, com Olivia de cabelos new wave e gravando rock e Djavan, ainda que os arranjos fossem de André Geraissatti. Este foi o intervalo entre Corra o Risco e Melodia Sentimental.
Olivia buscava combinar técnica vocal com extenso repertório. Melodia Sentimental era um disco sombrio, às vezes mais recitado do que cantado. Morelenbaum e Geraissatti continuavam a seu lado e ela ainda chamava o saxofonista Edgar Duvivier e a pianista Teresa Madeira.
Paralelamente ao trabalho de divulgação do disco, Olivia se cercava dos melhores músicos - nesse perÃodo se apresentou ao lado de Chico Buarque, Tom Jobim, Radamés Gnattali, Clara Sverner, TurÃbio Santos, Paulo Moura e João Carlos Assis Brasil. Começava a surgir a cantora que valorizava a grande extensão vocal, que ouvia Bach e Beethoven na juventude e que sabia montar um repertório que misturasse Villa-Lobos e Cartola, Vinicius de Moraes e Fernando Pessoa, George Gershwin e Kurt Weill, Cole Porter e Edith Piaf.
Nos últimos 14 anos, depois de Melodia Sentimental, a cantora esteve praticamente afastada da música. Nos anos 90 excursionou pela Europa e trabalhou ao lado do saxofonista Edgar Duvivier. Nesse perÃodo, gravou apenas dois discos, um ao lado do pianista João Carlos Assis Brasil e o mais recente, há quatro anos, o CD A Dama do Encantado, em homenagem à cantora Aracy de Almeida. A idéia agora é fazer um CD baseado na obra do maestro, compositor e pianista Radamés Gnattali, com arranjos concebidos pelo sobrinho do maestro, Roberto Gnattali. Nos últimos três anos, Olivia desenvolveu o projeto Vitrine MPB, realizando shows gratuitos em shopping centers.
Márcio Pinheiro / Investnews Gazeta Mercantil
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