Ainda não tão abordado como deveria, o explante mamário é o procedimento buscado por mulheres que, por razões estéticas ou de saúde, decidem remover os implantes de silicone. O assunto vem ganhando cada vez mais força, principalmente após a veiculação do documentário Explante, produzido pela socióloga e psicanalista Ingrid Gerolimich. O filme, que teve estreia em Portugal, Rio de Janeiro, Niterói e agora Brasília, trata de maneira bastante intensa e pessoal questões como a pressão estética e a Doença do Silicone provocada pelos implantes.
Ingrid, que de maneira muito corajosa expõe suas dores no filme, conversou com a equipe da ANF e contou como o tema surgiu em sua vida.
“Eu tinha silicone, mas há muito tempo já havia me arrependido de ter colocado, achava que não fazia mais sentido para a mulher que sou hoje. Um dia recebi o link de um post que falava sobre mulheres que estavam explantando tanto por uma questão de aceitação dos seus corpos, quanto pela chamada Doença do Silicone, e nos relatos dessas mulheres eu me encontrei, porque sentia vários sintomas e nunca tinha associado à prótese. Foi então que tive a certeza de que precisava tirar aquilo de dentro de mim o mais rápido possível”, relembra.
Os sintomas mais recorrentes da Doença do Silicone são dores nas articulações, queda de cabelo, alterações psicológicas e cansaço excessivo. Nas palavras da própria Ingrid: “a doença funciona como um guarda-chuva de várias outras doenças e sintomas causadas pelo silicone, porque o corpo rejeita a prótese e tenta expulsar o silicone, pois ele contém materiais tóxicos.”
A repercussão do projeto tem sido cada vez mais satisfatória, a socióloga comenta. “São muitas mulheres entrando em contato, contando suas histórias, querendo assistir ao filme. Não tenho palavras para dizer o quanto fico feliz com isso, porque o maior objetivo com esse documentário era justamente fazer a informação circular, para que as mulheres possam saber o que está acontecendo com elas e que a gente possa cada vez mais travar esse debate sobre como a pressão estética está nos adoecendo e nos impedindo de viver uma vida mais saudável e feliz com nossos corpos.”
Silvia Regina, viúva do Mr. Catra, foi uma das mulheres que, ao assistirem ao documentário, reconheceram vivenciar internamente e externamente muitas das temáticas abordadas. “A mídia mostrava tudo muito lindo. Toda mulher preta da favela achava - e ainda acha - que precisa do silicone para se sentir melhor, se sentir completa. Eu tinha calafrios, dores nas juntas dos ossos e jamais imaginei que aquilo pudesse ter relação com as minhas próteses”, relata.
Em uma crítica à falta de informação pública sobre o explante, Silvia Regina diz: “a informação sempre chega picotada para nós. Eu não conheço nenhuma mulher que tenha se consultado com um médico que a deixasse realmente ciente dos riscos do procedimento, pelo contrário, nós só escutamos que não tem contraindicação e nem prazo de validade. Nós temos que ser realmente informadas e a partir das possibilidades decidirmos o que realmente queremos, porque há 20 anos eu coloquei silicone porque eu quis, mas hoje eu quero retirar, além de todos os problemas que ele me ocasionou, hoje eu aprendi a me amar como eu sou. A mulher tem que sentir orgulho de si, nós temos o poder e o direito de nos reinventarmos sempre”, conclui.
Sobre o recorte levantado por Silvia Regina, das mulheres negras que vivem nas favelas, Ingrid comenta: “as mulheres nas comunidades também fazem esses procedimentos, muitas passam anos pagando por eles, fazem crediário, se endividam. E o pior é que muitas acabam parando em clínicas clandestinas, por serem mais baratas, em busca do sonho desse corpo perfeito que vendem para a gente o tempo todo. O que as coloca em uma situação de ainda mais perigo de vida. A pressão estética recai sobre toda mulher, rica ou pobre, cis ou trans, mas sem sombra de dúvida, é a mulher pobre, em situação de vulnerabilidade social e econômica, que mais sofre as consequências dessa pressão, pois ela não terá nem de perto a assistência necessária caso algo dê errado.”
Essa situação parece estar prestes a mudar em breve, pois ao ser impactado pela visão exposta no documentário Explante, o deputado estadual Carlos Minc (PSB/RJ) propôs a criação de um projeto de lei que dará suporte e assistência na rede pública de saúde para mulheres que, por meio de laudo médico, comprovarem os problemas ocasionados com o uso da prótese.
Com exclusividade à ANF, o deputado deu detalhes sobre a criação e tramitação da lei. “Sou super ligado em questões de saúde, já fiz a Lei das Doulas, do Parto Humanizado, mas não conhecia os problemas ocasionados pelo implante de silicone em profundidade. O filme da Ingrid foi lançado no dia 8 de março, Dia das Mulheres, estava acontecendo uma manifestação no Teatro Municipal do Rio, houve um debate e no debate eu me comprometi a fazer o projeto de lei, que tramitou em tempo recorde."
Das funcionalidades da lei, Minc explica: “os efeitos imediatos da lei são custear o explante, no caso de as pessoas não serem ricas e comprovadamente terem problemas de saúde ocasionados pela prótese, além de dar um quadro da prevenção, discutindo e informando sobre o tipo de complicação que pode ter esse tipo de procedimento.”
O projeto de Lei foi aprovado pela Assembleia Legislativa e segue agora para sanção do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.