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Favela Empreendimentos ILTDA, um empreendedor em cada beco

Muito além do sonho, crise pegou o Brasil nos últimos anos levou muitos brasileiros a se tornar empreendedor por necessidade

23 mar 2022 - 05h00
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Foto: Carla Regina/ANF

Muito tem se falado em empreendedorismo e empreendedor, e do ano de 2016 pra cá, essas duas palavras tornaram-se cada vez mais comuns no vocabulário brasileiro. Empreender, poder investir em algo que possa trazer melhoria de vida, sempre foi um dos maiores sonhos de muitas pessoas de renda baixa. Ter seu negócio próprio, ser seu próprio patrão, sem ter que cumprir ordens e fazer seus horários, são as aspirações dos que querem viver com mais qualidade, mesmo que dentro da favela.

A grande crise que se abateu no Brasil nestes últimos anos, levou muitos brasileiros a se tornar um empreendedor não mais por sonho, mas, sim, por necessidade, devido a perda do emprego. Mesmo com pouco dinheiro em mãos, muitos trabalhadores desempregados passaram a investir em negócios baratinhos, para poder continuar mantendo suas casas e suas famílias. Por menor que seja o emprendimiento, já é algo que dá um certo alívio no orçamento e nas despesas das famílias.

A favela sempre foi um lugar de empreendedores desde o seu surgimento. Lá sempre existiu aqueles que vendiam sua mão de obra para os próprios moradores do local. Até os dias de hoje não é diferente. Sempre tem alguém abrindo um bar novo, um salão de beleza, uma lanchonete, etc. E a cada novo empreendimento que surge, movimenta a economia local, fazendo com o dinheiro circule cada vez mais lá dentro mesmo.

E a chegada da pandemia de coronavírus, fez com que muitas pessoas passassem a abrir seu próprio negócio, por perderem seus empregos. Como foi o caso de Viviane da Conceição, que trabalhou durante muitos anos em uma empresa de call center, como atendente de telemarketing, sendo demitida junto com dezenas de outros funcionários. Ela tem um trailer de lanches localizado na Av. Paulo de Frontin, próximo a subida do morro Paula Ramos, no Rio Comprido.

Viviane relata que a ideia de montar o comércio foi de seu marido, e que os dois começaram juntos, até que ele a deixou à frente do negócio, administrando tudo. "Os prós, é ter dinheiro na mão todo dia, mesmo não sendo muito, e o contra, são os clientes, que querem botar preço em tudo, não valorizando nosso trabalho", conta.

A comerciante já está há um ano e dois meses com seu trailer no local, e diz que não vê diferença em estar trabalhando ali ou em outro lugar. Porém, onde está, sente-se segura, por ser um local bem movimentado e policiado, sem nunca ter tido nenhum tipo de problema.

Viviane da Conceição tem dois funcionários que a ajudam, e assim como ela, são moradores da localidade. Ela diz que não se vê como patroa, mas como alguém que dá oportunidade a outra pessoa, destacando o trabalho de seu funcionário, Luiz Felipe, que diz ser seu gerente, e seu braço direito.

"Tudo acontece no tempo certo, de acordo com as minhas condições. Mas, hoje, não sendo mais empregada e empregando … não gosto de usar o termo patroa, eu gosto de usar termo que 'consigo dar emprego', eu consigo abrir portas pra pessoas" … e por mais que seja pequeno, é uma loja, é uma firma", diz Viviane.

Já dona Eliane, moradora do morro Paula Ramos, montou um pequeno comércio dentro de sua casa há uma semana. A mesma vende sacolés, doces e salgados, para ajudar na renda da família. Como ela não trabalha fora, foi a maneira que encontrou de ter um dinheirinho extra para ajudar nas despesas.

"Tá difícil pra todo mundo, então, a gente tem que ter uma rendinha extra, né? Por enquanto tá dando pra ajudar um pouquinho", afirma Eliane. Ela diz trabalhar de forma que não prejudique ninguém, pois, muitas pessoas vendem também sacolés, doces e salgados, mas, ela se diferenciar é pretende por mais alguma coisa para vender, dentro das suas condições.

Segundo Eliane, os produtos para fazer suas guloseimas estão muito caros, mas, compra o que pode. Assim como Viviane, que também reclama do aumento dos preços. Ambas dizem não ser fácil manter um comércio. "Vou comprando aquilo que dá, vou num mercado, depois vou no outro, e assim vou levando. Tá tudo muito caro", afirma.

Pequenos ou grandes, dentro ou fora de casa, na favela há sempre alguém empreendendo, movimento a economia do local, da cidade, do estado e também, do país.

ANF
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