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Sérgio Machado recupera memória de Mário Peixoto

Quarta, 29 de maio de 2002, 20h23

A paixão do baiano Sérgio Machado por Limite, considerado a grande obra-prima nacional do cinema mudo, impulsionou a realização do documentário Onde a Terra Acaba, título emprestado daquele que seria o segundo longa-metragem do diretor Mário Peixoto, mas interrompido durante as filmagens.

Peixoto rodou a produção quando tinha apenas 21 anos e a obra tornou-se tão mítica quanto a vida de seu autor, marcada por reclusão e silêncio.

Para expor essa complexa personalidade, Machado mergulhou em pesquisas no Arquivo Mário Peixoto, organizado por Saulo Pereira de Mello e que conta com mais de 500 fotografias, além de trechos de filmes, cadernos de anotações e diários. "Era tanto material que levei dois anos para dar conta dele", calcula o diretor.

Com a ajuda do cineasta e pesquisador Ruy Solberg, que cedeu uma entrevista na qual impressiona o grau de precisão e riqueza de detalhes com que Mário Peixoto narra uma cena, Machado sai logo de início com 90 por cento do material que utilizaria em Onde a Terra Acaba.

Tendo em seu poder um material tão rico, o cineasta confessa o receio de que seu filme não ficasse à altura das imagens e textos de que dispunha.

Quebra-cabeças
Como num quebra-cabeças, Machado agrupou todo o material coletado e, para resguardar a riqueza e a clareza dos escritos de Peixoto, optou sabiamente por dar voz ao próprio.

Uniu, então, às imagens, trechos extraídos dos diários e do romance O Inútil de Cada Um, narrados pelo ator Matheus Nachtergaele.

Depois de rever Limite por inúmeras vezes, Machado escolheu imagens marítimas para dialogar com o ritmo do filme de Peixoto, o que conferiu ao documentário um aspecto um tanto atípico.

Muito disso se deu graças aos testes de filmagens apoiados em uma curiosa estratégia: "Durante 14 dias, captamos imagens diferentes das fotografias com a câmera parada e com as fotos se movimentando. Consegui criar a ilusão de três dimensões que as pessoas acabam nem percebendo".

A obsessão de Mário Peixoto pelo tempo, presente já em seus primeiros diários - quando ainda tinha 17 anos -, foi o ponto de partida para costurar o documentário.

O desejo de parar o relógio e a constatação da inexorabilidade do tempo foi certamente o incômodo fundamental para a concepção de Limite. "Como é impossível dar conta de um ser humano, ainda mais de um tão complexo, Peixoto é mostrado a partir de pressupostos meus", explica o diretor.

As interpretações próprias sobre a vida do cineasta parecem ter agradado público e crítica, tendo em vista a boa repercussão do documentário em festivais nacionais e estrangeiros.

Mas para Machado, a maior surpresa foi a recepção dos jovens que ainda não tinham tido contato nenhum com Limite. "Minha preocupação era dialogar com quem conhecia a obra dele, mas o caráter cativante e fabuloso da personalidade de Mário Peixoto acabou atraindo também os jovens".

Parceria com Walter Salles
A idéia de realizar o documentário surgiu quando Machado trabalhava como assistente de direção e co-roteirista de Central do Brasil (1998) ao lado de Walter Salles, com quem compartilha a mesma admiração pelo trabalho de Peixoto.

A parceria com Salles se repetiu em O Primeiro Dia (1999) e, mais tarde, em Abril Despedaçado (2001) que, segundo ele, é uma homenagem explícita ao cineasta morto em 1992 e que fica evidente tanto nos diálogos quanto na montagem e na concepção dos planos.

Antes de Onde a Terra Acaba, Machado dirigiu o episódio Agora é Cinza, do longa-metragem 3 Histórias da Bahia.

Seu mais recente projeto é a ficção Noites de Temporal, que deve ser filmado ainda este ano.

A trama se passa nos anos 50, ligeiramente inspirada na história de Tristão e Isolda, e mergulha na realidade do cais do porto e no mundo da prostituição. Ambientada em Salvador, a fita deve ter no elenco maioria negra.

Reuters

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