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Festival de Cannes é dominado pelo tema da morte

Quinta, 17 de maio de 2001, 15h05

Cena de "La stanza del figlio", de Nanni Moretti
La stanza del figlio, do italiano Nanni Moretti, já um êxito de bilheteria e de crítica em seu país, obteve unânimes aplausos esta quinta-feira em Cannes, e não seria surpresa se ganhasse a Palma de Ouro do festival, decididamente dominado pelo tema da morte.

Os outros dois filmes apresentados esta quinta-feira em competição abordam também esse tema, uma constante na seleção oficial deste ano. Taurus do russo Alexandre Sokurov mostra um Lenin moribundo que oscila entre a lucidez e a perda da razão, e Ni nei pien chi tien do taiuanês Tsai Ming-Liang se constrói também a partir de um luto.

Em La stanza del figlio, Moretti abandona o tom autobiográfico de suas obras anteriores Caro Diario e Aprile para descrever a dor e o desajuste produzido pela morte de um filho.

O próprio Moretti e a atriz Laura Morante fazem os principais personagens. Com uma narrativa linear e clássica, Moretti instala o espectador na vida feliz de uma família comum de classe média numa cidade do norte da Itália. O pai é psicanalista, a mãe trabalha em uma editora, os dois filhos adolescentes --um rapaz e uma menina -- estudam e praticam esportes. A vida transcorre sem sobressaltos. Até a morte acidental do filho.

O diretor italiano descreve com austeridade e com um imenso pudor a dor indescritível, a impossibilidade da aceitação da morte, o sofrimento interno de cada um, a crise na qual o luto do filho mergulha o casal e o lento emergir para a resignação, para a vida que continua.

Segundo filme em competição esta quinta-feira, Taurus de Alexander Sokurov narra os últimos dias da vida de Lenin. O líder da revolução bolchevique, o homem que mudou o curso da história russa morre aos poucos. Moribundo, semiparalisado, passa de momentos de grande lucidez à demência, e sabe que suas faculdades mentais o vão abandonando inexoravelmente. Teme isto mais do que a morte, que sabe próxima.

Instalado em uma mansão isolada, Lenin vive vigiado pela polícia política e isolado do mundo exterior, acompanhado apenas pelo afeto de sua esposa Nadejda Krupskaya e de sua irmã Maria Ulianova. Bem perto, Stalin consolida seu poder.

Esse Lenin inspira uma imensa piedade. Leonid Mozgovoi é um ator de surpreendente versatilidade que encarna aqui Lenin com a mesma eficácia com a qual interpretou Hitler no precedente filme de Sokurov, Moloch, premiado por seu roteiro em Cannes em 1999.

O filme desencadeou uma polêmica ao ser apresentado na Rússia, onde alguns acusaram Sokurov de querer dessacralizar Lenin, outros de mostrá-lo muito humano. O diretor responde que se limitou a mostrar que Lenin era finalmente um ser humano que teve de fazer um balanço moral de sua vida ao se aproximar a morte.

De fato, além da figura histórica de Lenin, o filme do cineasta russo é o doloroso retrato, feito com grande agudez e grande humanidade, de um homem perante a morte.

Finalmente, terceiro filme em competição, o taiuanês Ni nei pien chi tien de Tsai Ming-liang começa também com a morte de um homem e com a dor de sua mulher e seu filho, que optam por se isolar do mundo.

O rapaz, vendedor de relógios em Taipé, se relaciona com uma jovem que está indo para a França, e na sua partida põe obsessivamente todos os relógios na hora de Paris, como tentando estender uma ponte entre duas solidões.

O filme é uma homenagem ao cinema francês, e em particular ao diretor François Truffaut, que coincide com a comemoração dos 50 anos da revista Les Cahiers du Cinéma, da qual surgiram as grandes figuras da Nouvelle Vague.

AFP

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