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Drama
título A Essência da Paixão
título original The House of Mirth
diretor Terence Davies
nossa opinião Sem classificação
ano 2000
país de origem Inglaterra/França/Alemanha/EUA
duração 140 min
língua Inglês e Francês
cor Cor
som Dolby Digital
classificação
elenco Gillian Anderson, Dan Aykroyd, Laura Linney, Eric Stoltz, Elizabeth McGovern
site oficial https://www.spe.sony.com/classics/houseofmirth/index.html
 
Resenha
Foto: Divulgação
A Essência da Paixão traz tragédia e compaixão

Terence Davies ganhou o carinho e a admiração de um público pequeno, mas fiel, com seu painel autobiográfico da infância. Começou com curtas-metragens e estendeu o cotidiano de um garoto sensível num bairro pobre de Liverpool para dois longas, Vozes Distantes e O Fim de um Longo Dia. Em seguida, o diretor inglês investiu num drama aparentado, Memórias, sobre a vida de um garoto na América junto a sua tia excêntrica. Gena Rowlands é ótima no papel. O filme, nem tanto. O próprio Davies reconheceu quando esteve no Rio de Janeiro, ano passado, para abrir o Festival de Cinema Rio BR. Mas fez uma ressalva. Sem esse erro, não teria chegado a A Essência da Paixão, seu mais novo filme. Cinco anos separam os dois projetos. Foi o tempo necessário para Davies encerrar de vez as contas com o passado.

"Não é possível que alguém tenha tanto a falar de si mesmo; quando se persegue o passado, você o destrói", disse à reportagem durante a visita. Foi com esta idéia clara que Davies se lançou a um projeto ambicioso de adaptação literária, uma transformação significativa em sua carreira. A Essência da Paixão, The House of Myrth no original, é baseado em Edith Wharton. O espectador de cinema conhece outra obra da escritora nas telas. É o belo A Época da Inocência, realizado por Martin Scorsese. Há muito em comum entre as obras e os filmes. O universo é o mesmo, a alta sociedade de Nova York na virada para o século XX. O personagem central, uma mulher premida entre o amor e as convenções hipócritas da época. São ambos filmes sofisticados, impecáveis. Mas Davies, até pela dimensão de sua heroína, vai mais longe.

Ele adora o filme do colega e prefere dizer que são as diferenças que fazem o talento de cada um. A Lily Bart de A Essência da Paixão é pobre, ao contrário de Ellen Olenska. As personagens se unem, no entanto, no preço de serem mulheres liberais para seu tempo. Lily (Gillian Anderson) é sustentada pela tia. Mantém um jogo amoroso com um jovem bon-vivant (Eric Stoltz), enquanto busca um casamento, opção quase descartada por sua idade. Quando a benfeitora morre, a jovem entra numa derrocada sem volta.

É outra característica, uma escolha muito pessoal de Davies. Seu filme tem a forma de uma crônica da morte anunciada. Há um tom fúnebre, no cenário monumental e na fotografia escura, que faz a trajetória de Lily soar como um réquiem. Não é uma sensação frustrante antecipar o seu fim porque a cada movimento da trágica heroína se tem a leitura do caráter de dissimulação do período. E mesmo assim, não se pode prever as etapas que tal descida cumprirá. Nos caminhos tomados pela protagonista estão atitudes ambíguas. A redenção chega num gesto de tragicidade habitual em Wharton.

Não seria surpreendente supor uma solidariedade do cineasta para com sua heroína. Davies é homossexual e acredita que um cineasta gay tem mais carinho e gosta de saudar as mulheres fortes. "Ao idolatrá-las, nós as valorizamos aos olhos do espectador." E isso passa pela escolha de Gillian Anderson, a protagonista de Arquivo X. Ela está maravilhosa como Lily Bart e é uma grande contribuição para o resultado do temperamento volátil da personagem. O cineasta procurava o rosto perfeito para a época, "traços finos, oblíquos, sofisticados". Uma foto da atriz lhe chegou às mãos. Nunca havia visto o seriado de TV. Entrou em contato e para sua supresa Gillian era fã de seu cinema.

Essa solidariedade com a heroína trágica Davies prefere trocar por sentimento de compaixão. Disse que era esta sua intenção ao enquadrar em sombras o desespero da personagem. Para ele, o declínio de uma ambição fora de seu meio é uma situação moderna e atemporal. Daí o interesse por Wharton. Reconhece que não é fácil acompanhar a lentidão e a exigência da história, seus diálogos irônicos e afiados. O filme (e a obra) pedem olhos e ouvidos atentos. Mas Davies não pede popularidade ou reconhecimento fáceis. É um estranho no ninho do cinema de entretenimento. Pouco vai ao cinema. Durante a estada no Rio, lia o crítico de arte Robert Hughes. No marcador do livro, um retrato de John Singer Sargent para uma dama da sociedade francesa, madame Gautreau, famosa por sua postura liberal. Coerência e elegância são dois atributos que andam longe das telas de hoje e por isso também Davies merece ser visto.

Orlando Margarido - Investnews/ Gazeta Mercantil

 
 
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